Jogador denuncia racismo e é acusado de 'oportunismo' pelo Brusque

Árbitro registrou na súmula relato de Celsinho, do Londrina, mas clube catarinense disse que meia fez "falsa imputação de crime"

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  • Da Redação

Publicado em 30 de agosto de 2021 às 15:09

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ricardo Chicarelli/Londrina EC

A diretoria do Brusque acusou o meia Celsinho, do Londrina, de fazer "falsa imputação de crime" ao informar que foi vítima de racismo no jogo entre os times, pela 21ª rodada da Série B. Em nota, o clube Quadricolor falou em "oportunismo" e disse que "tomará todas as medidas cabíveis" contra o atleta.

O relato de Celsinho aconteceu durante o último sábado (28), no empate por 0x0 no estádio Augusto Bauer. No intervalo da partida, o jogador chamou o quarto árbitro e afirmou ter sofrido injúria racial, chegando a apontar a pessoa que proferiu as ofensas na arquibancada.

O episódio foi registrado pelo árbitro Fábio Augusto Santos Sá Junior em súmula. Segundo o texto, um integrante do staff do Quadricolor falou: "Vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha"."Por volta dos 45 minutos do 1º tempo, o atleta do Londrina, Sr.Celso Luis Honorato Júnior informou ao quarto árbitro que foi ofendido com as seguintes palavras: "vai cortar esse cabelo seu cachopa de abelha", por um homem na arquibancada, que foi identificado pelo coordenador da cbf, sr. Ricardo Luiz, como Julio Antônio Petermann, staff da equipe do Brusque. Informo ainda que o referido atleta, juntamente com o diretor de futebol da equipe do Londrina, sr. Germano Cardozo Schweger, estiveram na porta do vestiário da arbitragem, após o término do jogo e confirmaram o relato acima".Apesar do registro, a diretoria do Brusque negou qualquer ato de racismo e disse que o jogador "é conhecido por se envolver neste tipo de episódio". [leia nota completa abaixo].

A Procuradoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) está analisando como será feita a denúncia sobre o caso. A súmula e os vídeos do jogo serão avaliados para definir quem e em quais artigos será feita a denúncia.

O Londrina e Celsinho também vão se reunir para definir quais medidas serão tomadas. Após o jogo, o meia se pronunciou em entrevista ao Premiere, e disse que tomará providências.

"Não sei se ele faz parte da comissão técnica, da diretoria, um senhor de vermelho no camarote. Também não entendo porque tem tantas pessoas assim em um protocolo que não estão liberados os jogos para os torcedores. É lamentável. Uma equipe de porte médio baixo recém-promovida à Série B de Campeonato Brasileiro estar cometendo um ato desses é inadmissível, mas as providências serão tomadas", disse o jogador.

Esta é a terceira vez que Celsinho é alvo de racismo na Série B. Anteriormente, em uma partida contra o Goiás, em julho, um narrador e um comentarista da Rádio Bandeirantes Goiânia falaram sobre o cabelo do atleta, usando termos como "cabelo pesado", "bandeira de feijão" e "um negócio imundo". Os dois pediram desculpas nas redes sociais e foram afastados da emissora.

Menos de uma semana depois, no jogo contra o Remo, o narrador Cláudio Guimarães, da Rádio Clube do Pará, disse que Celsinho vai "com seu cabelo meio ninho de cupim para bater na bola". Ele também pediu desculpas e foi afastado pela emissora.

Leia a nota do Brusque:

"O atleta Celso Honorato Júnior, reserva do Londrina E.C., relatou à imprensa que teria sido chamado de "macaco" por membros da Diretoria do Brusque F.C., durante o jogo realizado ontem (28/08). O Brusque F.C., sua torcida, diretoria, comissão técnica e patrocinadores sempre foram, ao longo da sua história, absolutamente respeitosos com relação a todos os princípios que regem as relações desportivas e humanas. Jamais permitiríamos qualquer atitude de conotação racista em nosso Clube, que condena veementemente qualquer pensamento ou prática nesse sentido. O atleta, por sua vez, é conhecido por se envolver neste tipo de episódio. Esta é pelo menos a 3ª vez, somente este ano, que alega ter sido alvo de racismo, caracterizando verdadeira "perseguição" ao mesmo. Importante esclarecer que, ao árbitro, o atleta não relatou ter sido chamado de "macaco", mas sim que teriam dito "vai cortar esse cabelo de cachopa de abelha", o que constou da súmula e revela a total contradição nos seus relatos. O Brusque F.C. reitera que nenhum de seus diretores praticou qualquer ato de racismo e tomará todas as medidas cabíveis para a responsabilização do atleta pela falsa imputação de um crime. Racismo é algo grave e não pode ser tratado como um artificio esportivo, nem, tampouco, com oportunismo".