Jornalismo feito à Facom

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  • Kátia Borges

Publicado em 6 de julho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A memória é mesmo um bicho quieto. Ela fica em silêncio, apenas esperando uma chance para remexer tudo por dentro, esparramando velhos retratos guardados nas gavetas. Há tempos sonhávamos com um reencontro da turma que, em 1989, entrou no curso de jornalismo da Universidade Federal da Bahia. Como alguns moram longe hoje em dia, em outros Estados e mesmo fora do Brasil, acabávamos sempre adiando a festa, já que as datas possíveis nunca coincidiam. 

Este ano, com as dificuldades por que passa a educação no país, o corte de bolsas e verbas e a desqualificação das universidades públicas, acendeu novamente o desejo de saber no que dera a balbúrdia que nos unira há três décadas. De um post no Facebook, com a reprodução da lista de aprovados no vestibular, à criação de um movimentadíssimo grupo de WhatsApp foi um pulo. O desafio era localizar todo mundo e, aos poucos, chegamos a 39 pessoas e à definição de dois encontros.   O primeiro deles aconteceu no último domingo de junho. De repente, estávamos juntos de novo como se não existissem mais os relógios lá fora e voltássemos aos 20 anos. As salas apertadas da nossa minúscula faculdade, atrás da reitoria, no bairro do Canela. O laboratório de fotografia, comandado por Oldemar Vitor, onde aprendemos a mergulhar as mãos em tinas de produto químico e a produzir o milagre da imagem surgindo em preto e branco, antes da banalização dos smartphones. 

A cantina de Vovô, que nos dias bons vendia até cerveja gelada e, nos dias ruins, tortas deliciosas que davam dor de barriga. Os professores, lembrados com carinho, que nos ensinavam sobre apocalípticos e integrados, e as técnicas norte-americanas do lead e da pirâmide invertida, ainda em máquina de datilografia, desenhando computadores na lousa. E as tardes calmas em que viajávamos – literalmente – em torno dos conceitos de Merlau-Ponty, ensinados nas aulas de Monclar Valverde, em São Lázaro. 

Até os apelidos que demos uns aos outros na faculdade voltaram com a mesma graça. Pais e mães zelosos lembravam de seus filhos de vez em quando, sacando das bolsas e carteiras fotos de crianças e adolescentes que achávamos sempre muito bonitos. E contamos piadas e histórias tristes, e rimos de nossos cabelos brancos, improvisando debates sobre o sexo aos cinquenta. Alguns já estavam em novas profissões, outros ainda abraçados ao jornalismo, bem ou mal, tocando o barco.       Tantas histórias fizeram lembrar de uma época – parece inacreditável – em que os locutores liam os nomes completos dos calouros no rádio. Então você precisava ficar com o ouvido grudado no aparelho, assim que alguém avisava sobre o anúncio do resultado. Não existia outra chance de fazer o curso dos sonhos na Bahia, jornalismo só na Ufba. Era passar de cara ou recomeçar a estudar do zero e tentar no ano seguinte.

O mais interessante foi ver como cada um de nós admirava o outro. E constatar como seguimos admirando. Entre vídeos e entrevistas risíveis, produzidas para um possível documentário, uma cápsula do tempo, um brinde enviado de Londres, uma canção em vídeo, a primeira reunião para ajustar novo encontro em dezembro, e a certeza de que não nos perdemos. Somos feitos à Facom, como se diz por aí e, de algum modo, sempre estaremos juntos. O tempo está do nosso lado.