Josy Brasil: conheça a cadeirante que tentou, mas não conseguiu ser Deusa do Ilê

Ela já viajou o mundo e voltou ao Brasil após o acidente que lhe tirou os movimentos das pernas

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 13 de janeiro de 2019 às 06:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Preparação, fé, persistência, alegria. Tudo isso faz parte do cotidiano de Josimare de Cristo Reis, ou simplesmente Josy Brasil. O nome artístico veio da Europa, onde ela morou por mais quase 14 anos e trabalhou como passista. O turbante dourado combinava com o longo colar e parecia tudo feito para ser utilizado com o vestido amarelo que Josy vestia.

Enquanto esperava para ser chamada ela contou à reportagem do CORREIO um pouco sobre sua história. Baiana de Alagoinhas, ela embarcou para a Itália com apenas 19 anos e foi na terra das massas que ela viveu seu primeiro grande amor. 

Vivendo na cidade de Bérgamo, ela estudou e se formou em Comunicação aos 25 anos. Abriu uma empresa e passou a gerenciar a carreira de artistas brasileiros que tentavam a vida na Itália e também ajudava conterrâneos com dificuldades de conseguir regularização no país italiano.

Há pouco mais de um ano e meio, ela sofreu um acidente grave quando estava em um carro na cidade de Milão. O veículo que vinha atrás de Josy atingiu o fundo do carro e o impacto da batida lesionou mais de 5 vértebras e a medula da brasileira, que ficou paraplégica.“Chorei por três dias sem parar”, recorda a comunicóloga.Depois de dias em pranto ela conta que “decidiu começar a brigar contra a tristeza”. E pensou em alternativas para superar as novas dificuldades. “Dei meu jeito de viver”, contou.

“Eu só perdi o movimento das pernas. De resto movimento tudo. Quantas pessoas queriam fazer o que eu faço?”, questiona.

Durante a conversa, Josy mostrou que é uma mulher forte e determinada a ser feliz. Por insistência da família, voltou ao Brasil após o acidente para ter um acompanhamento melhor em sua recuperação. Segundo a própria Josy, foi uma decisão acertada e ajudou bastante a aceitar a sua condição. 

Aos poucos ela foi adaptando sua vida. O trabalho parou um pouco para que ela fizesse os tratamentos de fisioterapia. O trauma foi embora, a vida foi seguindo. Até carnaval ela chegou a pular no ano passado, mas uma coisa ainda fazia falta para Josy: a dança. Ela conta que foi através da dança que o mundo dela se abriu e deixá-la de lado fazia uma falta que incomodava muito no peito.

Foi por isso que ela decidiu se inscrever no concurso, marcando a história do Mais Belos dos Belos como a primeira participante do concurso a concorrer em cima de uma cadeira de rodas.

“É uma história de garra. A mulher negra e o povo negro são assim. Se reinventa, é criativo e supera dificuldades”, apontou o vovô do Ilê.Leia também

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Seletiva Na hora da seletiva, as candidatas foram divididas em grupos de dez e fizeram uma apresentação na frente das juradas. Elas eram livres para soltar o corpo e mostrar seus movimentos e carisma. No caso de Josy Brasil, a avaliação levou em conta o movimento dos braços e a desenvoltura na dança.

Das 112 inscritas, apenas 15 passaram para a fase final (lista abaixo). Apesar da tristeza das que não conseguiram a classificação, o ambiente na Senzala do Barro Preto era de orgulho mesmo após o resultado. Aquelas que supostamente foram derrotadas aplaudiram as quinze eufóricas mulheres que se abraçavam e choravam a classificação.

Aos gritos de “deusas! Maravilhosas!” elas curtiam seu momento no Olimpo. Qual deve ser a sensação de ser uma deusa? Talvez a pessoa se sinta mais poderosa, talvez mais capaz, talvez mais viva e inspiradora. A maior certeza no meio disso tudo é que o grande objetivo do concurso da Deusa do Ébano é de provocar essas sensações nas mulheres negras mundo afora. Pelo menos é o que garante a última vencedora do concurso, Jéssica Nascimento, enquanto se dividia entre festejar as vencedoras e consolar as outras mulheres que não conseguiram dessa vez.“Temos sempre que nos motivar para que nos próximos anos a gente consiga mais e mais mulheres aqui”, apontou a atual rainha do Ilê.Josy Brasil não conseguiu a classificação para a final. Mas pensa que ela ficou abalada com isso? Tá bem, ela ficou um pouco triste, mas nada suficiente para tirar o sorriso do rosto. Depois do resultado, ela se despediu das companheiras de concurso, parabenizou as finalistas e se junto a seu namorado, que esperava na entrada da Senzala do Barro Preto.“Foi lindo! Valeu muito a pena. Eu amo dançar”, avaliou Josy.Veja trecho da apresentação:

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier