Josyara mostra sua 'calmaria raivosa' na Sala do Coro do TCA

Cantora baiana lança o álbum Mansa Fúria que conquistou a crítica nacional

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  • Laura Fernades

Publicado em 29 de agosto de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Natalia Arjones/Divulgação

O fato de ter destruído o violão do avô na infância, em Juazeiro, poderia significar que o instrumento jamais faria parte da vida da cantora Josyara, 26 anos. Mas a terra de onde saiu o banquinho e o violão de João Giberto também despertou o interesse da cantora responsável por conquistar a crítica nacional com o instrumento que virou sua marca. Diferente do pai da Bossa Nova, Josyara toca seu violão como sugere o nome do disco que lança dia 25 de setembro,  na Sala do Coro do Teatro Castro Alves: Mansa Fúria (Natura Musical).

Como uma “calmaria raivosa”, o violão percussivo dialoga com a voz doce e expressiva da artista que encorpa a fértil cena baiana. “Sou assim né”, explica Josyara, rindo, sobre a “fúria mansa” do disco. “Tenho uma coisa tranquila, mas tenho a necessidade de colocar pra fora cantando. A força vem da música. Mansa Fúria fala dessa minha relação com o vai e vem da vida. E comparo isso com o mar”, justifica a artista criada em Salvador e radicada em São Paulo há quatro anos.

A entrevista, então, é interrompida pela voz de alguém gritando, ao fundo, “É um real! É um real”. Questionada pela reportagem, Josyara explica, rindo, que se trata de um vendedor que está passando pela Praia da Paciência, no Rio Vermelho. Afinal, ela mora na capital paulista, mas volta para Salvador sempre que pode. “Porque não sou besta”, diz bem-humorada.

Assim, o vai e vem de Josyara entre sertão, litoral e metrópole está representado no disco produzido por Junix 11, da BaianaSystem. Inspirado em sua história, Mansa Fúria faz uma declaração de amor ao mar, na música Apreciação, e reforça a crítica social, seja no racismo denunciado em Engenho da Dor, seja na valorização da liberdade sexual da letra Ela é Fogo, seja na reafirmação da potência da mulher, na música Você Que Perguntou.

“Não tenho essa pretensão de impor a ideia e fazer mudar alguma coisa. Mas não tenho como negar esse olhar crítico: sou do interior, de uma classe social baixa... Aí você começa a identificar seu lugar na pirâmide social. Nesse tempo atual, as pessoas estão tendo mais voz, mesmo que pouco. E nas outras histórias eu me senti encorajada a falar também”, conta."Não tenho como negar esse olhar crítico: sou do interior, de uma classe social baixa... Aí você começa a identificar seu lugar na pirâmide social. Nesse tempo atual, as pessoas estão tendo mais voz, mesmo que pouco. E nas outras histórias eu me senti encorajada a falar também"Rico e dançante Depois de fazer as pazes com o violão, que sofreu com sua travessura de criança, Josyara adotou o instrumento “porque não queria depender de ninguém” para mostrar suas composições. Foi então que, inspirada na música do Recôncavo baiano, deu mais corpo àquele que virou seu braço direito.

Portanto, quem espera o tradicional voz e o violão no show, pode rever seu conceito. Ao lado do percussivo instrumento de corda, as texturas eletrônicas preenchem o clima da apresentação que vai contar com apoio de Lucas Martins (baixo) e Bruno Marques (bateria e programações).

“Faço voz e violão, mas queria preencher todos os campos. Quando conheci o samba-chula de Roberto Mendes e conheci Chico César, vi a possibilidade de fazer um violão rico, dançante. É um instrumento que faz parte do meu corpo, não consigo largar”, finaliza, rindo.

Ouça o álbum completo: