Jovens acham celular após roubo e devolvem às donas com 'surpresa' na Bahia

Vídeo já tem quase 4 milhões de visualizações nas redes sociais

  • Foto do(a) author(a) Mario Bitencourt
  • Mario Bitencourt

Publicado em 29 de agosto de 2017 às 09:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

“Você perdeu o celular e a gente recuperou. Eu vou mandando flor, a gente já pegou, foi o cara que roubou (...) Pois você, pelas fotos, vi que é barril. Não aguentei, me apaixonei...”Cantados ao ritmo de reggae e gravados em vídeo, os versos dos amigos Júnior Haru, 22 anos, e Leonardo Gomes, 21, que moram em Itabuna, no sul da Bahia, viralizaram nas redes sociais, deixando a dupla famosa por um gesto nobre: recuperaram celulares roubados de estudantes e os devolveram às donas, com a homenagem acima. Até o fechamento desta reportagem, o vídeo já tinha sido visto por quase 4 milhões de pessoas.

O fato aconteceu por volta das 21h30 da terça-feira (22), quando as amigas Vanielly Santos, 20, Dalila Pereira Oliveira, 22, e Brisa Luz Farias, 21, saíram da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), no centro de Itabuna.

Nas imediações de uma praça frequentada, segundo a Polícia Militar, por usuários de drogas, elas foram abordadas por um homem alto e magro que levava na cintura um “enorme facão”, como contou uma das jovens.

Ele ordenou que entregassem os celulares. “Não tivemos reação, foi um momento de choque”, disse Dalila, que é de Ibicuí e mora em Itabuna, onde estuda Nutrição.

As outras amigas, apesar de estudarem na mesma instituição, estavam ficando só por aquela noite na casa de Dalila para fazer atividades extras da faculdade. Todos os dias, elas fazem o caminho de ida e volta: Brisa, que também estuda Nutrição, mora em Ibicaraí e Vanielly, estudante de Direito, em Camamu.

Assista o vídeo:

Segurança de olho Chocadas com o assalto, as moças foram para a casa de Dalila e tentaram se acalmar. Enquanto isso, outros episódios relacionados ao assalto se desenrolavam. O momento do crime tinha sido flagrado pelo segurança particular Nelson Júnior, 38, que trabalha para um comércio local de alimentos.

“Como trabalho armado, resolvi ir até o assaltante tentar recuperar os celulares. Eu gritei: ‘perdeu, perdeu’, e ele jogou um aparelho no chão e correu”, relatou Nelson. O aparelho era o de Dalila, que na queda danificou apenas o fundo, mas não prejudicou o funcionamento.

O assaltante correu pelo comércio local, até chegar nas proximidades de outra praça, onde estavam Júnior Haru, Leonardo Gomes e outros amigos, tocando violão. Era um grupo de cinco.

“Outras pessoas estavam gritando que ele era ladrão, percebemos que ele estava com dois celulares na mão e fomos atrás. O cercamos, ele ficou parado e o imobilizamos, tomando em seguida os dois celulares”, contou Leonardo.

Com os celulares de Brisa e Vanniely na mão, eles passaram a mexer e viram que o de Brisa estava desbloqueado. “Passei a mandar áudio pra todo mundo via Whatsapp, avisando do roubo e para a mãe dela [Brisa]”, disse Leonardo.

Agradecimento Com o celular de Vanielly, eles gravaram o vídeo que viralizou. As meninas pegaram um táxi e foram até os rapazes buscar os celulares e agradecer o gesto. Em seu perfil nas redes sociais, Vanielly fez o relato:

“A princípio ficamos desconfiadas e ligamos pro meu celular e eles atenderam avisando onde estavam e dizendo que viram o ladrão correndo e que conseguiram recuperar, percebendo a nossa desconfiança eles disseram: "rapaz, é mais fácil roubar do que recuperar" kkkk pegamos o táxi e fomos. Lá, esses anjos muito criativos e bem humorados nos devolveram. Chegando em casa, vi esse vídeo e essas fotos que eles fizeram usando a câmera de atalho (já que o meu estava bloqueado) graças a Deus estamos bem.”

Apesar do fato, Dalila diz que não mudou nada em sua rotina de estudante. A casa dela fica a 15 minutos da faculdade e ela tem ido sozinha para a instituição, como sempre fez. Ela continua levando o celular. “Posso precisar para fazer algo”, disse.

[[publicidade]]

O capitão Ricardo Penalva da Silva, da Polícia Militar de Itabuna, reconheceu que a área é perigosa, devido à presença constante de usuários de drogas.

Sobre a segurança no local, disse que é feita até às 20h por três duplas de policiais a pé - após esse horário, uma viatura responsável pela ronda escolar passa pela faculdade em um itinerário que inclui outras 30 instituições de ensino médio e superior, da redes pública e privada.

Sobre ocorrências de assaltos no local, o capitão disse que a polícia costuma agir quando é acionada. “Ocorrem muitos fatos como este que não ficamos sabendo porque não dão queixa e nem ligam para o 190”, declarou. “Se não tem a queixa, não tem como a gente ir atrás dos suspeitos”.

As meninas confirmaram que não registraram boletim de ocorrência na delegacia nem ligaram para a PM.

O fato deu fama repentina a Leonardo, que diz ter recebido ligações de várias partes do Brasil, elogiando o ato dele e dos amigos. Ele diz estar curtindo o momento, mas o que deseja mesmo é ter um emprego. Este ano teve de largar o curso de Educação Física numa faculdade particular por não ter mais como pagar as mensalidades de R$ 411, valor já com desconto. Cursou apenas um semestre. "Tenho curso de informática e experiência com vendas", ele disse, ao destacar os atributos."Meus amigos também estão precisando trabalhar. A gente fica ali naquela praça mesmo passando o tempo, por estarmos sem trabalho e, no meu caso, sem ter como estudar", conta Leonardo, um dos jovens que recuperou os aparelhos roubados das estudantes.