Justiça marca júri popular de Kátia Vargas para 7 de novembro

Médica responderá por homicídio triplamente qualificado por provocar acidente que terminou com a morte dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes Dias, em Ondina

  • D
  • Da Redação

Publicado em 16 de agosto de 2017 às 19:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: .
Vítimas se chocaram contra poste em frente a hotel por Foto: Arquivo CORREIO

A sessão de julgamento da médica Kátia Vargas Leal Pereira será realizada no próximo dia 7 de novembro, às 8h, pelo 1º Juízo da 1ª Vara do Tribunal do Júri, no Fórum Ruy Barbosa. A informação foi confirmada pela assessoria do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) na tarde desta quarta-feira (16).

A médica responderá por homicídio triplamente qualificado (por motivo fútil, perigo comum e por utilização de recursos que impossibilitaram a defesa das vítimas). Kátia Vargas é acusada de provocar o acidente que terminou com a morte dos irmãos Emanuel e Emanuelle Gomes Dias, então com 21 e 23 anos, no dia 11 de outubro de 2013, em frente ao Bahia Othon Palace, na Avenida Oceânica, em Salvador.

[[galeria]]

Após o acidente, Kátia Vargas ficou presa por 58 dias no Presídio Feminino de Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura. Em 2014, o TJ-BA decidiu que a acusada iria a júri popular.

Laudo O laudo pericial da reconstituição do acidente feito pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) concluiu que a médica perseguia os dois irmãos em alta velocidade. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) acusa a médica de intencionalmente perseguir e causar a morte dos dois irmãos, após se envolver em uma briga de trânsito com Emanuel. Já a defesa de Kátia Vargas alega que a batida aconteceu acidentalmente e que a médica não teve intenção de matar os irmãos. 

O promotor David Gallo, do MP-BA, afirma que o laudo é "contundente" e fortalece a acusação. "O laudo traz tudo aquilo que venho falando nesses 3 anos. Tudo aquilo que as provas falavam, mas agora com uma prova pericial. O laudo confirma que ela saiu em perseguição deles, em alta velocidade, emparelhou com a moto e jogou contra eles. Ela usou o carro como arma, como poderia usar um revólver, uma barra de ferro, uma faca. Não é crime de trânsito. Isso a perícia comprovou", afirmou na época.

A defesa de Kátia Vargas seguiu negando que houve perseguição e classificou o laudo como "falho". De acordo com nota divulgada pelos advogados na época, o laudo repete “os erros cometidos ao longo da investigação, a qual sempre se baseou em depoimentos contraditórios e em laudos periciais parciais, que desconsideraram diversos elementos do acidente”.

Reconstituição Em 11 de dezembro do ano passado, o Departamento de Polícia Técnica (DPT) organizou a reconstituição da morte dos irmãos em Ondina. Cinco testemunhas foram ouvidas e relataram no local o que viram, ajudando a perícia a simular o que aconteceu. 

A primeira testemunha a participar da reconstituição foi um homem que fazia cooper no dia do acidente. Ele viu o momento da discussão entre a médica e os irmãos, viu quando a moto saiu e parou na sinaleira. Segundo ele, Kátia Vargas seguiu direto, esperou o sinal abrir e seguiu a moto. A testemunha chegou a pensar que a situação "daria merda", segundo relato do promotor Davi Gallo.

A segunda testemunha passava em uma picape vermelha em frente ao Hotel Othon quando foi ultrapassada pelo carro de Kátia Vargas. O homem viu o momento que a médica atingiu a moto. A terceira testemunha estava caminhando pelo acostamento no meio da pista quando viu o carro da médica "fechar" a moto. 

A quarta testemunha, que está participando agora, passava em um Uno branco no sentido da Barra no momento do choque e também viu a colisão. A última testemunha a participar da reconstituição foi uma mulher que também passava pelo local no dia do acidente. 

O advogado Daniel Keller disse que inicialmente ele achava desnecessárias a reconstituição. "Agora estou achando importante porque elas (testemunhas) só reafirmam as provas que estão nos autos". 

A reconstituição do caso contou com a presença de peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT), policiais, fotógrafos e professores da Universidade Federal da Bahia. Foram utilizados veículos do mesmo modelo que a médica e os irmãos utilizavam. O carro e a moto contaram com câmeras de precisão que ajudaram a reconstruir a cena do crime. "Vamos fazer a localização precisa das testemunhas. A reconstituição é mais eficaz de que um depoimento em uma sala fechada", disse na época o professor Arthur Alves Brandão, do curso de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica da Ufba. 

A perícia usou ainda equipamentos de GPS e tecnológicos para medir com precisão o deslocamento e velocidade dos veículos. A reconstituição foi feita sob o comando do perito criminal Paulo Botelho e acompanhada pelo diretor do Departamento de Polícia Técnica, Elson Jéferson Neris Silva. Também estavam presentes o advogado da médica Kátia Vargas e um perito contratado por ela. 

Mortes Os irmãos morreram em Ondina em outubro de 2013. Eles estavam em uma moto que sofreu uma batida do carro dirigido por Kátia Vargas - segundo a conclusão do inquérito policial e acusação do Ministério Público (MP), a batida foi provocada de maneira intencional pela médica. Ela havia discutido com Emanuel perto de um sinal pouco antes.

De acordo com o inquérito policial da 7ª Delegacia (DT/Rio Vermelho), a oftalmologista arremessou o veículo que dirigia, modelo Sorento, contra uma moto Yamaha XTZ pilotada por Emanuel Gomes Dias que trazia na garupa sua irmã Emanuele Gomes Dias, projetando-os contra um poste, em frente ao Ondina Apart Hotel, resultando na morte instantânea dos irmãos.

Imagens gravadas do local mostram o carro da médica seguindo atrás da moto antes da batida.