Justiça obriga plano a tratar câncer de baiano com estudo genético de tumor

Ao fim do tratamento, valor dos medicamentos ultrapassa os R$ 2 milhões

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 7 de abril de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Até que a oncologia de precisão chegue à maioria dos pacientes, ainda há um caminho longo a percorrer. Os testes são caros e sequer são cobertos pelos planos de saúde no Brasil. Um painel de GNS, um dos exames que poderia fazer o teste molecular, chega a R$ 8 mil. 

O câncer de pulmão é, provavelmente, o tipo da doença em que essa verificação é mais comum, por já fazer parte do diagnóstico. E é justamente o caso do diretor técnico do teatro da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Ailton Ferreira, 51 anos. Baé, como é chamado pelos amigos, convive com a doença há três anos, mas leva uma vida normal. Ele trabalha, vai à praia, corre e ainda toca percussão. 

Mesmo sem nunca ter fumado, o técnico descobriu um câncer no pulmão depois de passar semanas tossindo. Diagnóstico confirmado, o paciente foi submetido a 10 sessões de radioterapia e quatro de quimioterapia, sem sucesso. Foi aí que Ailton foi apresentado à oncologia de precisão. 

“É feito um estudo do tumor onde se tenta identificar se existe algo que o diferencia dos outros tumores. Quem faz esse trabalho são os laboratórios de patologia, para compreender a biologia do tumor e identificar se existe algo que possa agir de forma específica”, explica Samira Mascarenhas, diretora médica do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB).

A principal diferença para os tratamentos convencionais para o câncer, como a quimioterapia, é a ação direcionada.“A quimioterapia é como uma bomba que não tem um alvo certo. Ele acaba destruindo não só o tumor, mas também tecidos sadios”, esclarece Aknar Calabrich oncologista da Clínica AMO (Assistência Multidisciplinar em Oncologia). Já na oncologia de precisão, a terapia tem alvo direcionada e afeta apenas o tumor.  No caso de Ailton, foi identificada uma mutação denominada ALK que provocou o seu câncer no pulmão. Para esta mutação já existe uma droga aprovada no Brasil que o paciente usa por via oral. O medicamento custa R$ 37 mil por cada caixa com 60 comprimidos - que atende as necessidades de Ailton por um mês. Ao final dos cinco anos previstos de tratamento, a conta fechará em R$ 2,2 milhões. 

Diante do preço, Ailton precisou entrar na Justiça para garantir que seu plano de saúde cobrisse o tratamento. Depois de dois anos com o medicamento, os benefícios são inúmeros.“Na minha cabeça, eu não estou doente. Não sinto nada. Tontura, vômito, nada do que eu sentia no início, quando tinha que passar quatro horas na quimio”, contou. No Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não é possível acessar esse tipo de alternativa, segundo informações da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Quem não tem condição de fazer o teste pode fazer a chamada imunoistoquímica, um teste de rastreamento (screening), que custa cerca de R$ 300. A partir dos resultados desse exame é que se seguiriam para os mais específicos (e caros). 

No Brasil, na saúde privada, especialistas estimam que entre 60% e 70% dos pacientes brasileiros com câncer sejam submetidos aos testes genéticos. Na rede pública de saúde, menos de 20% dos tumores de pulmão são verificados desta forma.

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela