Kannário sobre PM: 'No dia que eu parar de falar, eles vão tomar conta de mim'

Em embate com policiais, cantor mal conseguiu manter uma canção por 3 minutos

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  • Vitor Villar

Publicado em 25 de fevereiro de 2020 às 06:18

- Atualizado há um ano

. Crédito: Secom

O curto trecho entre o Castro Alves e a entrada da Avenida Sete no circuito do Campo Grande foi de embate constante entre Igor Kannário e Polícia Militar na tarde da segunda-feira (24).

Tão constante que o cantor mal conseguiu manter uma canção por mais de três minutos. A toda hora parava para criticar a ação da PM. Ele, tinha o microfone; a polícia, não.

Kannário novamente deu a entender que se sente ameaçado pela PM:"Eu não fico feliz com isso (conflito com a PM), não. Eu fico triste demais. Porque no dia que eu parar de falar eles vão tomar conta de mim. E se eu tiver que morrer vou morrer feito homem nessa p*...", dizNa frente do Forte de São Pedro, Kannário pediu para que a música parasse para comentar mais uma vez a ação da polícia, que partiu para cima de alguns foliões.

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"Filmem aí a ação da PM. Os caras batendo em mulher, batendo em criança. Que vergonha. Vamo parar pra ver se parado o povo também apanha", disse, largando o microfone. E continuou: "Parabéns, PM. O Carnaval de Salvador sendo queimado pro mundo todo ver por conta da Polícia Militar da Bahia".

O cantor e deputado federal criticou repetidamente o comportamento da polícia. "Eu não acho que segurança pública seja isso, não. Espancar as pessoas, os cidadãos que pagam seus impostos, spray de pimenta, isso não é segurança pública", criticou.

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Repetidamente, ele pediu que os meios de comunicação cobrindo o Carnaval registrassem a cena. "Alô, imprensa da Bahia! Tem que mostrar esse abuso de poder, esse desrespeito com cidadãos que pagam seus impostos e ajudam e pagar salário deles (policias)", afirmou. "Depois dizem que Kannário procura confusão com a polícia. Não é isso não. É certo pelo certo. Quem tá errado tá errado", disse.

Sobrou um elogio isolado para PMs de uma guarnição, metros à frente  "Essa guarnição aqui tem educação. Parabéns! Tá fazendo o certo. Pedindo licença. Quem eu vir agredindo eu vou falar daqui de cima mesmo".

Vaia a "agressores" Mais cedo, Kannário pediu vaias à polícia baiana - e foi prontamente atendido. De cima do trio, ele viu a PM passando com agressividade para desfazer uma rodinha em meio aos foliões. 

"Peço à imprensa, filma isso aí. Isso é abuso de poder, aubuso de autoridade. Quero uma vaia para a Polícia Militar da Bahia", afirmou, sendo atendido. Os foliões vaiaram e depois gritaram "Uh, é o Kannário"."Agressores, agressores! Venha me bater aqui em cima. Quero ver!", provocou. Veja a cena:

Depois, ele retomou a música Embrazando, mas um pouco à frente Kannário falou que a PM pode fazer algo contra ele. "Se acontecer alguma coisa comigo, quem mandou me matar foi alguém da Polícia Militar", acrescentou.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não quis comentar as declarações do parlamentar. Já a Polícia Militar repudiou os comentários e falou em tomar as "medidas judiciais cabíveis", afirmando que Kannário colocou em risco os PMs que trabalhavam na sua pipoca.

"A Polícia Militar da Bahia repudia as provocações e agressões feitas à tropa pelo Igor Kannário durante a passagem do trio na tarde desta segunda-feira (24), no Campo Grande. Além da atitude irresponsável e criminosa o também deputado federal incitou os foliões contra os policiais militares que faziam o policiamento do circuito Osmar", afirma a nota. "É inaceitável que qualquer pessoa, ainda mais um parlamentar, tente comprometer a honra da instituição e de policiais militares que estão comprometidos e empenhados na defesa da sociedade baiana. Todas as medidas judiciais cabíveis que o caso requer serão adotadas", diz o texto.

Após a repercussão, Kannário também divulgou nota afirmando que respeita a instituição da PM, mas "não vai se calar". Leia o texto, divulgado pela assessoria do artista. 

"O deputado federal Igor Kannário vem a público esclarecer os fatos ocorridos nesta segunda-feira (24) durante a passagem da pipoca do cantor pelo circuito Osmar (Campo Grande). Kannário informa que, ao observar um tratamento agressivo de alguns policiais militares contra foliões, solicitou uma abordagem adequada dos profissionais. O deputado ressalta seu respeito e admiração pela instituição Polícia Militar, que tanto se dedica diariamente aos baianos. Contudo, Kannário enfatiza que não irá se calar quando excessos forem cometidos, como ocorreu nesta segunda. O parlamentar baiano frisa, ainda, que este foi um caso pontual da atuação da PM durante a passagem da pipoca do Kannário pelo Campo Grande. Inclusive, no início do desfile, o cantor pediu aplausos para a PM e para os policiais que estão trabalhando arduamente neste Carnaval. Destaca também que sua pipoca foi, mais uma vez, um grande sucesso de público, com uma linda festa no circuito Osmar, marcada pela paz e pela diversão dos foliões. Mantenho meu imenso respeito pela Polícia Militar, valorosa instituição que tanto orgulha a Bahia. Mas ressalto que não vou me calar diante dos excessos, ainda mais contra a minha pipoca, que saiu das favelas para fazer uma festa linda na Avenida. Sou um político que tenho lado, e meu lado é o povo".

Polêmica No ano passado, Kannário esteve envolvido em outra polêmica. Ele usou roupa com alusão ao "Comando da Paz", mas negou qualquer ligação com a facção.

No início do desfile, Kannário parou de cantar várias vezes para pedir respeito aos ambulantes e dar "broncas" em policiais e guardas."Não agride o cara, não. O cara fez algo de errado, prende o cara, leva o cara. Segura a onda aí, meu velho. Não agride a população não que eu tô vendo tudo daqui", afirmou.O cantor também celebrou a gravidez da mulher. "O Kannário vai ser pai de novo e é menino", gritou para a multidão. O público, do chão, gritou repetidas vezes o nome do cantor. "Uh, é o Kannário, é o Kannário".

Ameaça de processo Ao desfilar vestido de "PM do futuro", Igor Kannário disse que fazia uma homenagem à polícia. Só que o emblema com "Comando da Paz" estampado no ombro e nas costas pegou mal entre a categoria e virou alvo de mais uma polêmica envolvendo o cantor e a polícia. 

A Associação dos Policiais e Bombeiros Militares e seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) disse na época que ia processar Kannário por fazer apologia ao crime, ao promover uma facção criminosa, a Comando da Paz. Já o deputado estadual Capitão Alden (PSL) informou que entrará com uma representação no Ministério Público e encaminhará à Câmara dos Deputados uma denúncia para que o Conselho de Ética julgue a sua conduta "desafiadora da moral e dos bons costumes".

De acordo com o presidente da Aspra, o soldado Prisco, a entidade vai entrar com uma ação idenizatória e outra criminal."O Comando da Paz é uma facção criminosa, usar esse emblema é fazer apologia ao crime. Também vamos processá-lo por incitar a multidão contra os policiais durante o desfile. Policiais que acompanharam o desfile nos procuraram para relatar", informou Prisco. "Já temos duas ações contra ele, uma delas foi na micareta de Feira de Santana, envolvendo uma policial", comentou Prisco.Já o deputado federal capitão Alden disse que é lamentável essa situação e "uma vergonha para o povo baiano ter um representante deste nível em Brasília"."Não é a primeira vez que ele aparece em vídeos fazendo referências a determinadas facções criminosas. Ele alega que ladrão não rouba ladrão e faz questão de ostentar tatuagem fazendo referência a uma droga de uso proibido", critica o parlamentar.Procurados, tanto a Polícia Militar (PM) quanto a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP) preferiram não se posicionar sobre o assunto.

Um policial, que não se identificou, comentou que o Comando da Polícia ficou irritado com a atitude desrespeitosa do cantor e que os policiais se recusaram a manter a segurança reforçada no entorno do trio do artista no final do circuito.

Outro polical que também criticou a postura do cantor. "Respeite a minha instituição. Esse aí representa o que não presta dos becos e vielas da favela, não o cidadão de bem que acorda cedo pra trabalhar", criticou o PM. (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Comando da Paz No ombro e nas costas, o cantor trazia um emblema escrito Comando da Paz, porque, segundo ele, seu trabalho é fazer a massa curtir "no respeito e no limite", como diz o refrão da sua música Disse Me Disse. Refrão que, aliás, ele nem precisava cantar - deixava para o público, em meio aos policiais. O nome Comando da Paz também intitula uma das mais poderosas facções criminosas de Salvador, mas a produção do cantor negou qualquer relação com o grupo.  (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) "Tirem suas próprias conclusões da pipoca do Kannário. Vejam se tenho cara de bandido, de traficante, de ter relações com o crime organizado. Só peço paz, respeito e limite pra todo mundo", disse o cantor no trio. "Por isso que hoje estou vestido de Comandante da Paz. Tenho que dar exemplo pra comandar uma massa dessas aqui", completou Kannário em frente a um dos camarotes, segundo ele, "cheio de brancos".

Quando um cordão da Polícia Militar passou entre seus foliões, Kannário até pediu para parar a música: "Vamos parar e aplaudir o trabalho da nossa PM. Vim vestido de PM do futuro para homenagear esses guerreiros, porque eles também querem paz. Vamos aplaudir porque eles estão trabalhando".

O cantor pediu para parar a música várias vezes para que a PM fosse aplaudida. E pediu para que a imprensa filmasse. "Pra mostrar o bom trabalho que a PM está fazendo. Eu vi tanta reunião de planejamento e eu só me perguntando 'por que na pipoca do Kannário nada funciona?'. Mas tá aí, um bom trabalho da nossa PM".

Mas o cantor, agora deputado federal pelo PHS, também alfinetou os maus policiais, segundo ele. Mostrando um cacetete da fantasia, bradou: "Sabe como eles chamam isso daqui? De 'spray de pimenta'. Será que eles teriam coragem de usar isso daqui no filho deles? É desacato se eu perguntar isso?".

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