Kátia Borges exalta beleza do cotidiano em seu sexto livro de poesias

Escritora e jornalista baiana lança O Exercício da Distração na próxima quarta-feira (29), no Rio Vermelho

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  • Da Redação

Publicado em 21 de março de 2017 às 09:22

- Atualizado há um ano

“A vida cotidiana é um grande exercício de distração da morte, sem o qual você não consegue viver”. A frase da jornalista  baiana Kátia Borges, 49 anos, pode até assustar e parecer trágica para alguns, mas, com certeza, irá ressoar naqueles que já tiveram algumas perdas.Como todo ser humano, Kátia teve várias. A mais dolorosa delas foi a da mãe, que morreu em maio de 2015. “Foi o ápice de um processo de desestruturação de tudo que havia ou me parecia sólido. Nós éramos muito ligadas, vivemos juntas uma vida inteira e para mim foi muito difícil aprender a ser sozinha a partir dali”, lembra.A jornalista e escritora Kátia Borges lança O Exercício da Distração, na próxima quarta, 29, seu sexto livro, desde que começou a publicar, em 2002 (Foto: Sora Maia/ CORREIO)O exercício de escrever poesia, presente na vida de Kátia há tanto tempo que nem ela consegue precisar desde quando, se mostrou um caminho possível de elaboração - no sentido psicanálitico, diz - do que estava vivendo.O resultado é o livro O Exercício da Distração, que ela lança na próxima quarta-feira, 29, às 19h30, no Espaço Cultural Tropos, no Rio Vermelho. Como descreve o poeta João Filho, na orelha da publicação, os poemas de Kátia se configuram como “pequenas janelas onde o leitor respira o ar da hora, algumas vezes podem não trazer alívio ou vontade de evasão, mas sempre o deixarão atento”. Se, por um lado, a vida exige atenção a toda hora, por outro, o exercício de distração se faz presente para nos afastarmos da finitude. Para Kátia, a grande questão se resume a como você se equilibra entre uma coisa e outra.Tanto assim que a imagem escolhida para capa é uma foto em que três acrobatas se equilibram no topo do Empire State Building, em Nova York. “Eu sugeri essa imagem porque, quando a vi, me pareceu a imagem ideal. O que é o exercicio de destrair-se premeditadamente? A vida sempre vai te dar baques. Você vai estar perdendo coisas, amigos, parentes. E isso pode ser metaforizado pelo malabarismo, como também pelos equilibristas. Casamos, criamos poesia, vemos e produzimos coisas belas , mas a grande realidade é que vamos morrer”, afirma.TemasAutora de outros cinco livros de poesia, Kátia recorre em O Exercício da Distração a uma separação por partes. São três no total: Como Se Fosse Órgão Vivo, Fugas Extraordinárias e as Pequenas Vilanias da Cidade.É na primeira que o sentimento de saudade transborda. No poema O Primeiro Movimento, Kátia alerta: mesmo que digam que sempre há um jeito de usar a saudade, seja para escrever um romance ou viajar ao redor do mundo em busca de uma flor selvagem, tome cuidado. “Sobre a saudade, há sempre/ algo muito frágil”, previne.Chama atenção, ainda, o fato de alguns dos poemas virem com riscos em cima de algumas palavras do título, como se, durante a escritura, ela cortasse aquilo que não era exatamente o que queria escrever. “Tem a ver com essa coisa do exercício, da tentativa de escrever. Quero falar sobre árvores, não, quero falar sobre amor. É a tensão entre aquilo que você quer falar e aquilo que verdadeiramente se impõe”, explica.Desse modo, Kátia  também refaz o exercício imposto ao jornalista e passeia de forma poética pela cidade de Salvador, percebendo suas belezas e melancolias em cenários como a Mouraria, a Praça da Piedade e a Av. Contorno.