Lava Jato: Lobista baiano depõe à PF e nega envolvimento com PMDB

Fernando Antonio Falcão Soares diz não ter pago propina e revela ligações com doleiro

  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2014 às 08:24

- Atualizado há um ano

Apontado pelos investigadores da Operação Lava Jato como operador do PMDB no esquema de corrupção na Petrobras, o lobista Fernando Antonio Falcão Soares, conhecido como Fernando Baiano, prestou ontem seu primeiro depoimento à Polícia Federal em Curitiba, onde está preso. Em cerca de três horas e meia, negou ligações com o PMDB e admitiu que mantém duas contas no paraíso fiscal de Liechtenstein, uma em seu nome e outra no de uma de suas empresas, a Technis. Ele afirmou ainda que o doleiro Alberto Youssef lhe pedia para que fizesse doações para campanhas políticas.

Apesar de negar as acusações, à noite, o lobista teve a prisão temporária, prevista para acabar hoje, transformada em preventiva - sem prazo para terminar. O juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, considerou que já havia, na investigação, elementos suficientes para que Baiano responda pelos crimes de fraude à licitação e lavagem de dinheiro.À PF, o lobista contou que começou a fazer negócios com a Petrobras ainda no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2000. Frisou, porém, que todos eram legais. Naquele ano, disse Baiano, ele celebrou contrato com a empresa espanhola Union Fenosa, para a gestão de empresas termoelétricas, e que ela foi contratada pela Petrobras em razão das “gestões de intermediação” que fez.

Nesta época, Nestor Cerveró era gerente da Petrobras. Somente depois, quando Cerveró já era diretor da Área Internacional da estatal, Baiano voltou a ter contato com ele, segundo afirmou em depoimento. O lobista garantiu ainda que só recentemente soube que o cargo era ocupado por indicação política do PMDB. Mesmo assim negou operar para qualquer partido político dentro da Petrobras.Advogado de Fernando Baiano, Mario de Oliveira Filho relata à imprensa parte do depoimento do lobista à PF. Foto: Paulo Lisboa/Estadão Conteúdo

OperadorDe acordo com reportagem do jornal O Globo, o lobista declarou à PF que tinha ligações com Youssef e que chegou a recebê-lo no Rio, a pedido de Paulo Roberto Costa, que na época era diretor de Abastecimento da Petrobras. Disse ainda que esse encontro aconteceu logo após a morte do ex-deputado José Janene (PP-PR). Janene era o líder do PP na Câmara e morreu em 2010. A PF classifica Janene e Youssef como os mentores da Lava Jato.

DelaçãoAo decretar a prisão, segundo O Globo, Moro citou trechos do depoimento do executivo Júlio Camargo, da Toyo Setal, que fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). Ainda conforme O Globo, Camargo revelou ter procurado o lobista em 2005, quando atuava como agente da empresa coreana Samsung, para negociar a venda de equipamentos de perfuração para a Petrobras.

Camargo também disse à Justiça Federal que um dos encontros com o lobista ocorreu no gabinete de Cerveró na Petrobras e que Fernando Baiano o teria procurado para cobrar US$ 15 milhões de propina para fechar a compra. Camargo informou que o valor foi depositado numa conta do banco Winterbothan, no Uruguai. No depoimento de ontem, contudo, Baiano negou o pagamento de propina e atribuiu a Camargo um débito de R$ 20 milhões relativos ao negócios com as sondas.Segundo depoimento de Paulo Roberto Costa, delator do esquema, Baiano fez negócios milionários com a Petrobras e recebia 3% dos valores dos contratos em propinas que, de acordo com Costa, eram repassadas ao partido. O lobista possui duas empresas em seu nome - a Technis e a Hawk Eyes.

HospitalHoras depois do depoimento de Baiano, um dos executivos presos da Lava Jato passou mal no início da noite e foi internado em uma hospital particular de Curitiba. O vice-presidente da construtora Camargo Corrêa, Eduardo Hermelino Leite, é investigado por suspeita de participação nas fraudes em licitações na Petrobras. Segundo a assessoria do Hospital Santa Cruz, onde foi internado, Leite teve uma crise de hipertensão, foi medicado e seria submetido a exames cardiológicos.Ainda ontem, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou o pedido de habeas corpus proposto pela defesa de executivos da OAS investigados pela Lava Jato. Os advogados pediam a liberação de José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário do alto escalão da construtora, e de Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor-presidente da Área Internacional de petróleo e gás da OAS.