Lazzo ganha homenagem em regravação do álbum Atrás do Por do Sol

Luedji Luna, Larissa Luz, Curumin e outros artistas estão no projeto, que será lançado dia 21

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  • Roberto Midlej

Publicado em 15 de outubro de 2021 às 07:36

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Numa noite de 2009, o DJ paulista Bruno Komodo estava num bar de São Paulo, na boêmia Vila Madalena, quando Lazzo, que era desconhecido para ele, entrou no palco para fazer a participação num show de dancehall, um estilo musical jamaicano. Bruno compara a entrada do cantor a um raio que caiu sobre sua cabeça: "Quando vi Lazzo cantando com Russo [Passapusso], fiquei maluco. Pensei: 'as pessoas precisam conhecer esse cara'".

A partir dali, Bruno adotou uma missão: fazer Lazzo ser mais conhecido no Brasil, incluindo São Paulo, onde o baiano era praticamente anônimo, inclusive dentro do nicho do reggae. E é por isso que, junto com o DJ paulista Peu Araújo, ele idealizou o álbum Ainda Atrás do Pôr do Sol - Uma Homenagem a Lazzo Matumbi, pelo Natura Musical. É uma regravação, com outros artistas, de todas as faixas do disco Atrás do Pôr do Sol, que Lazzo lançou em 1988. Luedji Luna canta Me Abraça e Me Beija (foto Helen Salomão/divulgação) O produtor baiano Ubunto se tornou parceiro da dupla neste trabalho, que chega às redes a partir do próximo dia 21. A cada mês, serão lançadas duas faixas, até que, em janeiro, sai o álbum completo. Nesse primeiro lançamento, chegam Me Abraça e me Beija, com Luedji Luna, e Entre Mil Constelações, com Fran. Anelis Assumpção, Curumin, Larissa Luz, Josyara, Nara Couto, Nikima e Fabriccio também estão entre os intérpretes. A mixagem e a masterização são de Buguinha Dub.

"Lazzo representa potência, ancestralidade, é uma das vozes mais marcantes e poderosas que conheço. Conheci Lazzo através de Do Jeito Que Seu Nego Gosta e eu cantava na banda que eu tinha", lembra Fran. O cantor diz que, na gravação de Entre Mil Constelações, se permitiu ousar em relação a sua voz: "Fiz algo diferente do que costumo fazer e é a música mais alta que já cantei", revela.

O trio responsável pelo álbum diz que o disco original era muito bom e a intenção agora, portanto, não é "melhorá-lo". "Ele tem uma sonoridade tão 'pra frente' que nós acabamos fazendo algo muito parecido", revela Peu. Bruno concorda com o colega: "Aquele disco é muito bom e essa reedição serve como um farol, para que as pessoas enxerguem aquele álbum de 33 anos atrás. Fizemos um trabalho referenciado para que as pessoas conheçam o original". Fran canta Entre Mil Constelações (foto divulgação) Colecionador de discos - ele tem mais de quatro mil LPs -, Bruno, logo depois de conhecer Lazzo naquela noite na Vila Madalena, foi atrás dos vinis nos sebos paulistanos. Bateu perna em alguns e os vendedores desconheciam o cantor baiano. Mas, revirando um daqueles balaios, finalmente achou os discos que procurava. "Paguei de R$ 30 a R$ 50 por cada um e hoje estão valendo em torno de R$ 500 cada", revela. 

Ubunto disse que fez questão de formar uma banda em Salvador para gravar as bases do disco. "Escolhemos pessoas ligadas a Salvador porque o disco é muito sobre a cidade, tanto que a capa [de 1988] mostra Lazzo no pôr do sol da Barra. Era importante gravar em Salvador porque precisava ser com gente que conhecesse Lazzo", defende o produtor. Miguel Freitas (bateria), Aline Falcão (teclados), Nanny Santos (percussão) e Mateus Aleluia Filho (trompete) estão entre os músicos. A gravação foi no estúdio do guitarrista Átila Santana, que também participa como instrumentista.

Segundo Ubunto, a escolha dos intérpretes não foi um problema, porque houve praticamente um consenso no trio. E concordaram também que haveria uma prioridade por cantores e cantoras negros. "Foi mais difícil definir o que cada um gravaria", afirma o produtor. A capa do álbum original, de 1988 Para dar uma ideia de como as coisas fluíram bem nas gravações, Ubunto cita o caso de Larissa Luz, que interpreta Lá Vem os Homens, de Lazzo e Gileno Félix. "Ela é a minha amiga mais próxima entre os convidados e tava enrolando pra gravar meses e meses, porque tava em outros projetos. Aí, um dia, peguei ela em Salvador, levei pro estúdio e ela chegou lá sem sequer lembrar a letra. Eu tinha duas horas pra gravar e, se passasse disso, teria que pagar do meu bolso. Mas a primeira gravação que ela fez foi ótima e foi esse primeiro take que usamos na versão final", lembra Ubunto. O trabalho foi tão visceral, que a própria Larissa, quando ouviu o resultado, se perguntou, sobre um determinado trecho: "Fui eu mesma que fiz isso?".