Letieres Leite se preparava para lançar o terceiro álbum da Rumpilezz

Maestro estava envolvido em várias atividades comemorativas pelos 15 anos da Orkestra Rumpilezz, banda que lhe deu fama internacional

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  • Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2021 às 15:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

A Orkestra Rumpilezz, o grande legado que Letieres Leite, que morreu nesta quarta-feira (27),  deixa para o público, foi criada em Salvador em 2006 e carrega a africanidade proposta pelo maestro. Composta apenas por instrumentos de sopro e percussão,  junta no nome os três atabaques do candomblé, rum, rumpi e lé, com as duas últimas letras da palavra jazz e a sonoridade agrega elementos da música afro-carineha..

Em março, o maestro começou a festejar os 15 anos da Orkestra Rumpillez,  com a qual Letieres  gravou dois álbuns, fez turnês internacionais pela Europa e Estados Unidos, ganhou prêmios importantes e inspirou teses acadêmicas e documentários. “Até hoje me pergunto como aconteceu isso, é uma incógnita. Porque quando criamos a orquestra o nosso ambiente, que sempre foi o instrumental, foi trazer as informações rítmicas da Bahia dentro de um conceito de música instrumental, baseado no frevo, baião, que sempre foi um sonho meu desde que fui estudante de música na Europa. Nunca pensei que entraríamos nesse universo pop”, disse o maestro na época ao colunista do CORREIO Ronaldo Jacobina, citando os últimos trabalhos realizados com a cantora Iza, e com outros artistas da cena pop como Russo Passapusso, do BaianaSystem, por exemplo.  Leia mais: Artistas lamentam morte do maestro Letieres Leite: 'Agradecer pelo seu legado'

A programação para celebrar incluiu o festival Rumpilezz, que aconteceu de forma virtual em julho, com  participação de Larissa Luz, Baco Exu do Blues, Lazzo, Márcia Short, Junix, Mou Brasil, Rumpilezzinho e do Letieres Leite Quinteto. Além disso, estava em curso o documentário Rum Rumpi E Lé – As Travessias de Letieres Leite, longa-metragem dirigido pela cineasta Letícia Simões e produzido pela Janela do Mundo, que começou a ser rodado na primeira semana de abril.

Agora, a ação mais esperada é mesmo o lançamento de Coisas, o terceiro álbum do grupo, no qual a Rumpilezz nterpreta o repertório do primeiro disco do compositor Moacir Santos, lançado nos anos 1960. Coisas, foi gravado num estúdio em Petrópolis (RJ), em 2019, está em fase de mixagem e será lançado, inicialmente, apenas em vinil, no Brasil e no exterior. A ideia é também lançá-lo nos canais de streaming. “Este álbum foi todo gravado em equipamento analógico e já era pra ter sido lançado, mas a pandemia atrasou o processo de finalização”, explicoi o maestro em entrevista ao CORREIO em março.

Ouça aqui na integra o segundo álbum da Orkestra Rumpilezz, A Saga da Travessia:

Com formação diferenciada, o grupo reúne 14 músicos de sopro (5 saxes, 4 trompetes, 4 trombones e 1 tuba) e 5 percussionistas. Está ancorada num cuidadoso trabalho de pesquisa que funde ritmos afro-brasileiros com o jazz, além de manter uma conexão com o sagrado através da devoção dos seus integrantes às religiões de matriz africana.  “A  Orkestra Rumpilezz é uma das concentrações mais intensas da inspiração artística baiana, é uma original e afiada big band erguida sobre atabaques polirrítmicos da tradição religiosa africana. Rum, rumpi e lé são os três tambores rituais do culto dos orixás e os dois zês vêm do jazz”, declarou Caetano Veloso em uma rede social, em 2019, às vésperas de dividir o palco, mais uma vez, com a Orkestra.   Letieres e Caetano dividiram o palco algumas vezes (divulgação) O compositor baiano, por sinal, foi um dos primeiros artistas brasileiros a reconhecer  a genialidade do maestro Letieres e sua banda. A ponto de dividir o palco com a orquestra algumas vezes, e ainda indicá-lo à sua exigente irmã, Maria Bethânia, que o convidou para assinar os arranjos e reger sua banda nas gravações de seu último álbum, Noturno, inspirado no show Claros Breus, que teve a regência do maestro da Rumpilezz. “Letieres Leite é um maestro singular, de enorme talento e compreensão da nossa música. Revolucionário na sua criação, sábio em compreender e acatar os quereres de artistas que escolhem sua regência. Criador, inovador, seguro, decidido, não abre mão do novo em sua música. Brilhante! Grande Professor! Bravo!”, reverenciou Bethânnia.   O maestro fez a produção musical do álbum de Maria Bethânia, Claros Breus (reprodução) Ao longo de 15 anos de existência, o maestro que através da Rumpilezz já visitou a obra de grandes compositores brasileiros como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Lenine e Caetano Veloso, dentre outros, diz que são muitos os momentos que marcaram a trajetória do grupo.  “As turnês europeia (2020) e americana (2015), onde nos apresentamos em palcos importantes como o Lincoln Center de Nova York, são lembranças marcantes, bem como os Prêmios da Música Brasileira que ganhamos, fora os momentos de encontros como os que tivemos com Lenine, com Gil e, por último, com Maria Bethânia”, contou Letieres. Como parte dos eventos importantes da trajetória da Orkestra, ele sempre fez questão de destacar a turnê nacional de 2012 que passou por várias cidades do Brasil interpretando o repertório de Caymmi, com shows apresentados com os requintes de grande produção: “Viajamos com uma grande produção, com mais de uma tonelada de equipamentos, projeções, cenários, figurinos, uma realização importante feita em parceria com a produtora Janela do Mundo”,.  

Com apenas dois álbuns gravados  - Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz (2009) e A Saga da Travessia (2016), além de álbuns de diversos artistas do Brasil e do mundo, a Orkestra Rumpilezz tem muito lastro musical.