'Levanta a cabeça, princesa!' Cresce o número de baianas que moram sozinhas

Aumento de 7,7% em 2017 fez número chegar a 382,6 mil; conheça algumas histórias

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  • Nilson Marinho

Publicado em 27 de abril de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO
Arte CORREIO

Levanta a cabeça, princesa, senão a coroa cai! Não fique esperando pelo príncipe encantado - ou pela princesa. Na verdade, cá pra nós, eles nem existem, e rainha que é rainha não precisa disso. Permitam-me a ousadia, nem é o lugar de fala deste que escreve, mas vocês estão cada vez mais donas de si e de seus lares. E não sou eu que estou dizendo isso, nem cabe a mim. São dados de uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O levantamento, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), revela que, na Bahia, de 2016 para 2017, houve um aumento de 7,7% no número de mulheres morando sozinhas. Um salto de 355,3 mil para 382,6 mil mulheres que não dividem o teto com mais ninguém - 27,4 mil a mais em um ano. Isso representa 46% dos 832,1 mil baianos que declararam ao IBGE que moravam sós em 2017.

Isso quer dizer que, embora haja um aumento nesse tipo de morada para a população feminina no estado, elas ainda não são maioria entre os “baianos solitários”. Ao contrário, no Brasil elas são a maioria, chegando a 51,4% do total de 10,485 milhões de pessoas que moravam sós à época da pesquisa.

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Em todo o Brasil, a média de crescimento foi de 5 mil mulheres passando a morar sozinhas, já que o número cresceu em alguns estados e diminuiu em outros. Na Bahia, em números absolutos, o crescimento foi mais de cinco vezes a média nacional. O estado só perde para o Rio Grande do Sul, onde 56,9 mil passaram a ser donas dos seus próprios lares entre os anos de 2016 e 2017.

Responsáveis pelo lar Até quando não moram sozinhas, as baianas são responsáveis pelo domicílio. É que a pesquisa também aponta que uma em cada três mulheres (29,1%) é responsável pelo domicílio em que vive - inclusive quando divide o lar com um homem ou mulher. Em 2016, elas eram 28,2% e em 2012, 24,4%.

É o caso da analista de informações Lorena Cova, 39 anos, que, desde muito cedo, ainda na infância, depois da morte do pai, teve um exemplo de mulher que passou a gerir o próprio lar: a mãe. Anos depois, Lorena passou a viver sozinha, mas há 12 anos, divide a casa com sua companheira. É ela que, desde então, responde pelas contas. 

“Eu já tive a experiência de ter morado sozinha, o que me fez uma mulher mais forte. Quando você passa a morar sozinha, tudo depende de você, até os procedimentos mais simples, como trocar uma lâmpada. Você passa a ter mais jogo de cintura, aprendendo a lidar com os gastos”, conta Lorena. Para Juliana, morar sozinha a deixou mais madura (Foto: Marina Silva/CORREIO) Amadurecimento A administradora Juliana Cristal Fernandes, 33, passou a se compreender melhor desde que saiu da casa dos pais. Chegou, aos 22 anos, a morar nos Estados Unidos, junto com uma família americana. Embora estivesse sozinha em um outro país, ainda não tinha tido a sensação de ter um teto só para ela. 

Após voltar de solo americano, Juliana passou a morar novamente com a família, mas uma proposta de trabalho fez com que ela, de mala e cuia, deixasse o seio familiar para enfim morar só durante cinco anos em uma cidade do interior do estado.  

Morar sozinha lhe permitiu ter um tempo a mais para ela, suas ideias e convicções. Hoje, ainda morando só em um apartamento em Salvador, Juliana se diz mais madura. 

“Eu precisava da minha independência, mas de uma forma racional, para nível de amadurecimento e aprendizado. Passei também a ser uma pessoa mais caseira e aprendi a ser mais responsável com custos e contas. Passei também a ser uma pessoa mais espiritualizada, passando a acreditar que minha casa é como um santuário”, conta Juliana. 

Explicações Para ela, uma das hipóteses que poderiam explicar o aumento de mulheres morando sozinhas é que, em outros estados, as pessoas se casam mais cedo.“Então, em vez de esperar o príncipe encantado, elas estão indo morar só”, arrisca.Além de Juliana, muitas mulheres que moram sozinhas apontam como um fator positivo o autoconhecimento desenvolvido com a escolha. “As pessoas sentem muito prazer de morar sozinhas também porque há perspectiva construtiva de crescimento como sujeito”, explica a psicóloga e professora Darlane Andrade, pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim/Ufba) e doutora em solteirice.

De acordo com a analista de Disseminação de Informações do IBGE, Mariana Viveiros, tendo como base outras pesquisas do instituto, pode-se notar o envelhecimento da população brasileira. Como as mulheres vivem mais que os homens - cerca de sete anos a mais -, temos mais mulheres passando a viver sozinhas após a viuvez.

A pesquisa é quantitiva e, por enquanto, não apresenta mais detalhes, sendo impossível traçar, por exemplo, um perfil dessas mulheres que moram sós, como faixa etária e classe social. Mas, de maneira geral, de acordo com a analista, é possível verificar que elas são mais velhas. 

Uma outra explicação, pontua Mariana, são os divórcios. Eles aumentaram no Brasil 4,7% entre 2015 e 2016. Mas na Bahia, no mesmo período, o aumento de divórcios concedidos foi bem maior que a média nacional - chegou a 14,9%. Sendo assim, após o rompimento, cada um vai para seu canto. Uma outra possível explicação é que, diferente de outros tempos, as mulheres passaram a sair de casa não apenas para subir ao altar, mas para construir suas carreiras profissionais.  “É um novo modo de viver. Elas, mulheres, não saem de uma família para formar outra. Os casamentos estão diminuindo e os casamentos estão sendo desfeitos”, explica a analista. (CORREIO Infográficos) Pesquisa A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que revelou os números, acontece durante todo o ano em todo o país de forma  contínua. Os pesquisadores visitam, na Bahia, por mês, 3.500 residências, em 270 dos 417 municípios.

Os pesquisadores chegam nos domicílios com um questionário. Dentre as perguntas feitas pelos profissionais estão quantas pessoas moram na residência, se é casa é própria ou alugada, os principais bens duráveis existentes, presença de banheiro, cobertura de saneamento básico e fornecimento de energia elétrica.

Foi assim que, dentre essas caracteristicas, foi possível identificar que houve um aumento, de 2016 para 2017, na Bahia, no número de mulheres morando sozinhas. A mesma pesquisa revelou também que a Bahia manteve o terceiro menor crescimento populacional do país.

Aumento população masculina De um ano para o outro, a população no estado passou de 15,256 milhões para 15,325 milhões de pessoas - um aumento de 0,5% ou mais 68,7 mil habitantes.

A taxa de crescimento é maior que a do Piauí (+0,2%) e do Rio Grande do Sul (+0,3%) e fica abaixo do crescimento médio da população brasileira, que foi de 0,8% no período, passando de 205,511 milhões para 207,088 milhões de pessoas (+1,6 milhão de habitantes).

A população de homens cresceu mais que a de mulheres sobretudo nas faixas de 10 a 14 anos (4,8% para eles e -10,3% para elas) e de 20 a 24 anos (15,2% para eles e -1,1% para elas). 

Baianos conectados Houve também, na Bahia, um crescimento de 15,7% no número de domicílios onde algum morador acessou à internet. O número que era de 2,689 milhões passou para 3,110 milhões, um crescimento de 421 mil. As "casas conectadas" passaram a representar, no ano passado, 60,2% do total de residências no estado, frente a 52,3% em 2016. 

Bens Entre 2016 e 2017, os bens que mais ampliaram sua presença nos lares baianos foram o telefone celular, que passou a existir em mais 92,2 mil domicílios - um de crescimento de 2,0%-, e a máquina de lavar roupa, que passou a existir em mais 91,3 mil residências no estado , crescendo 5,7%. 

O crescimento absoluto do número de domicílios com celular na Bahia foi o segundo maior do país, ficando abaixo apenas do estado de Minas Gerais (158 mil residências). Já o crescimento absoluto das residências com máquina de lavar foi o terceiro maior do país, menor apenas que Minas Gerais ( 195 mil domicílios) e Rio de Janeiro (159 mil).

Casa quitada Dos 5,170 milhões de domicílios baianos, 88,2% eram casas (4,6 milhões), número que cresceu em relação a 2016, quando era de 87,9% (42,4 mil casas de um ano para o outro). A participação dos apartamentos, por sua vez, caiu um pouco, de 11,9% para 11,6% do total (-12 mil unidades), chegando a um total de 601,5 mil unidades em 2017.

Já no ano passado, a participação das casas como residência na Bahia (88,2%) se manteve um pouco acima da média nacional (86,6% dos 69,8 milhões de domicílios). A proporção de domicílios próprios e já integralmente pagos no estado (75,4%) também continuava maior que a média nacional (67,9%) em 2017. 

Por outro lado, os domicílios alugados mantiveram-se como 12,5% do total de residências baianas, em 2017, percentual abaixo da média brasileira (17,6%) e o quinto mais baixo entre os estados. Os domicílios alugados mantiveram-se como 12,5% do total de residências baianas em 2017, percentual abaixo da média brasileira (17,6%) e o quinto mais baixo entre os estados.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier