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Liga Italiana usa imagens de macacos em campanha contra o racismo


 

Obras do artista italiano Simone Fugazzotto viram alvo de críticas

  • Da Redação

Publicado em 17/12/2019 às 19:42:00
Atualizado em 20/04/2023 às 15:24:04
. Crédito: Foto: Divulgação/Série A

Ser negro no Campeonato Italiano tem sido um grande martírio. Diversos casos de racismo já foram registrados em diversos estádios do país europeu nesta temporada. Logo na primeira rodada, o belga Romelu Lukaku foi vítima de cânticos da torcida do Lecce. O brasileiro Dalbert, da Fiorentina, foi vítima da torcida do Atalanta mais à frente e casos semelhantes aconteceram com o atacante Mario Balotelli, do Brescia, que além de ser vítima da torcida do Hellas Verona ainda teve que escutar do dono de seu próprio clube que está "tentando se clarear".

Houve uma pressão em cima da Lega Calcio, organizadora do campeonato, para dar uma resposta contundente aos casos. A entidade agiu: fez uma ação apontada como antirracista instalando em sua sede, em Milão, obras de arte que mostravam macacos coloridos. A campanha não foi vista com bons olhos e a Lega Calcio se tornou alvo de críticas de público e até de alguns clubes italianos.

O Milan foi um dos clubes a condenar a ação da liga. "A arte pode ser poderosa, mas discordamos fortemente do uso de macacos como imagens na luta contra o racismo e fomos surpreendidos pela total falta de consulta", escreveu, nesta terça-feira, o time em seu perfil no Twitter.

O clube de Milão foi seguido, e em tom parecido, pela Roma. "Entendemos que a liga quer combater o racismo, mas não acreditamos que essa seja a maneira certa de fazer isso", escreveu em seu perfil no Twitter.

Com jogadores negros sendo regularmente sujeitos a cânticos que imitam sons de macacos durante partidas, o artista Simone Fugazzotto disse que sua pintura com três macacos para representar três raças diferentes foram feitas para "mostrar que somos todos da mesma raça".

Os casos de Lukaku, Dalbert e Balotelli são numerosos, mas não foram os únicos. Volante do Milan,  Franck Kessie, Miralem Pjanic, Ronaldo Vieira e Kalidou Koulibaly também foram vítimas. Com exceção do bósnio Pjanic, todos esses jogadores são negros. E muitos desses incidentes terminaram impunes.

"A verdadeira arte é provocação", disse a liga em comunicado enviado à agência de notícias The Associated Press. "A ideia por trás da obra de arte de Fugazzotto é que quem quer que seja que grite cânticos racistas regressa ao seu status primitivo de ser um macaco. A liga decidiu que todos os anos terá um artista diferente para interpretar os danos causados pelo racismo. Simone Fugazzotto, uma testemunha dos cânticos para Koulibaly no San Siro, fez um trabalho provocativo em que os macacos são na verdade os torcedores racistas", acrescentou.

O Fare, o principal grupo de monitoramento da discriminação do futebol, chamou o uso das pinturas de "uma piada de mau gosto" e "um ultraje", acrescentando que "será contraproducente continuar a desumanização das pessoas de origem africana. É difícil ver o que a liga estava pensando, quem eles consultaram? Chegou a hora de os clubes progressistas da liga fazerem suas vozes serem ouvidas".