Lima Duarte é homenageado em exposição do Itaú Cultural

Exposição acontece em São Paulo, mas há possibilidade de participar de forma virtual

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  • Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2020 às 18:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Cesar Alves/Divulgação

O nome de registro de Ariclenes Venâncio Martins pode lhe soar estranho, mas certamente você sabe quem é Lima Duarte - nome artístico do consagrado ator que é um dos únicos artistas vivos a testemunhar a chegada da televisão no Brasil há 70 anos.

Com nove décadas de vida, ele será homenageado em uma exposição do Itaú Cultural que abre nesta quarta (18) e segue até o próximo dia 10 de janeiro de forma online pelo site www.itaucultural.org e também de modo presencial - mas aí fica difícil para quem é aqui da Bahia prestigiar porque a exposição está hospedada no Piso Paulista do Itaú Cultural.

A mostra estava pronta para começar a ser construída em outro formato, quando a pandemia do Covid-19 fez todo mundo se isolar. Com a exigência de distanciamento e cuidados redobrados, ela foi inteiramente repensada para receber o público seguindo os protocolos, sem perder a poética presente na vida de Lima.

Intitulado Amarra o teu Arado a uma Estrela*, o roteiro é composto de seis núcleos, permeados por telas, transparências, LED que os separam, mas também permitem entrever um e outro nicho. Os interessados devem reservar sua participação clicando neste link.

Em um total de cerca de 130 fotografias – umas, com a função de guias, outras no papel de “imagens-estrela”, que vagueiam pelo espaço expositivo –, seis telas de projeção, incluindo uma holografia com Lima Duarte, e cinco telas de LED, o trajeto começa pela Estação Desemboque. É por onde o público entra e toma contato com a origem do ator nascido em Nossa Senhora da Purificação do Desemboque, interior de Minas Gerais, em 29 de março de 1930, filho do boiadeiro araguarino Antônio José Martins e de uma artista do circo América Martins e batizado como Ariclenes Venâncio Martins. 

Com curadoria assinada pelos núcleos de Artes Cênicas e da Enciclopédia, do Itaú Cultural, cocuradoria do jornalista Amilton Pinheiro e cenografia de Kleber Montanheiro – também responsável pela expografia da Ocupação Laura Cardoso, em 2017 – desta vez, pela natureza do novo projeto, juntou-se ao grupo um roteirista, Daniel Veiga. Intitulado Amarra o teu Arado a uma Estrela*, o roteiro é composto de seis núcleos, permeados por telas, transparências, LED que os separam, mas também permitem entrever um e outro nicho.

A primeira parada, na sequência, é na Estação Acontecência. Aqui, ele já chegou em São Paulo, para onde o seu pai o mandou de carona em um caminhão que transportava mangas, aos 16 anos de idade. As suas primeiras carteiras de trabalho foram assinadas na cidade, onde acabou iniciando a sua célebre carreira profissional na rádio Tupi Difusora de São Paulo, ligando as grandes válvulas que existiam na época para levar ao ar os programas matutinos de música caipira. Depois foi sonoplasta e radioator, oportunidade dada por Oduvaldo Vianna que o convidou a participar do elenco de Quase no Céu. Também foi radialista, dublador de desenhos animados da Hanna-Barbera, diretor de telenovela, ator na televisão, teatro, cinema e apresentador.  

Nesta estação tem, ainda, uma holografia de Lima Duarte, na qual ele lê um trecho do texto O Ator, escrito pelo poeta e dramaturgo Chico de Assis (1933-2015) em sua homenagem. Esta gravação foi realizada exclusivamente para a exposição.  

Na segunda paragem, chamada Querer Liberdade, a viagem percorre a construção dos personagens de Lima no teatro e no cinema. Ao longo dos mais de 70 anos de carreira e 90 de vida, o ator fez mais de 40 filmes, entre longas e curtas-metragens e filmes-episódios. Ingressou no Teatro de Arena, nos anos de 1960, a convite de Augusto Boal (19311-2009), Chico de Assis e Oduvaldo Vianna (1936-1974), onde atuou em peças emblemáticas como Arena Conta Zumbi (1965). Por O Testamento do Cangaceiro, em 1961 recebeu o prêmio Saci de melhor ator e uma bolsa de estudos em Nancy, na França.  

Em seguida, a Estação da Água de Tudo que é Rio revela os livros preferidos do ator, além das obras de Guimarães Rosa, o seu favorito. A Estação Tô Certo ou Tô Errado, quarta parada, mostra o homenageado em suas dezenas de anos na TV. Mais conhecido como ator das novelas da Globo, onde começou nos anos de 1970, ele foi um dos participantes do programa inaugural da televisão, na TV Tupi, em 1950 – um show de variedades dirigido por Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), com artistas como Hebe Camargo (1929-2012) e Lolita Rodrigues –, e da primeira telenovela brasileira, Sua Vida me Pertence, de 1951.          

Nestas paragens,  Ariclenes, que adotou o nome Lima Duarte por sugestão da mãe, vira Zeca  Diabo,  de O Bem-Amado (1973), Salviano Lisboa, de Pecado Capital (1975), Carijó, de Espelho Mágico (1977), Oscar, de Marrom-Glacê (1979-1980), Sinhozinho Malta, de Roque Santeiro (1985-1986), Sassá Mutema, de O Salvador da Pátria (1989), Dom Lázaro Venturini, de Meu Bem, Meu Mal (1990-1991), Murilo Pontes, de Pedra sobre Pedra (1992), Afonso Lambertini, de Da Cor do Pecado (2004), Shankar, de Caminhos das Índias (2009), Max Martinez, de Araguaia (2010-2011), Dom Peppino, de I Love Paraisópolis (2015), Josafá Paraíso, de O Outro Lado do Paraíso (2017-2018).  

Por fim, a derradeira parada retorna para a Estação Desemboque e devolve o visitante ao espaço inicial, onde foi recepcionado, em um ambiente noturno e campestre, de céu limpo e muito estrelado. 

Exposição online A Ocupação Lima Duarte, além de apresentar mecanismos de acessibilidade, se estende do espaço físico para o virtual, com a publicação de um hotsite criado pelo Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural.. ‍ Há, no entanto, outras formas de passear pela mostra sem sair de casa. Ao reservar o horário para ver a Ocupação, o público pode optar pela Visita Live. Esta é uma modalidade de passeio virtual no qual o visitante acompanha, em casa, uma transmissão ao vivo de um educador do Itaú Cultural diretamente do espaço expositivo.