Limpeza em áreas externas da Ufba será afetada após corte em contrato

CORREIO apurou que redução no quadro de funcionários será de cerca de 20%

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 10 de julho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Áreas externas serão impactadas pelo corte de 12,38% no contrato com a empresa de limpeza da Ufba (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) A limpeza das áreas externas da Universidade Federal da Bahia (Ufba) terá menos gente trabalhando a partir de agora. O contrato com a empresa terceirizada Liderança Limpeza e Conservação Ltda., que venceu ontem, foi prorrogado por mais seis meses, mas com uma redução de 12,38%. Em valores, significa que o corte no contrato da universidade com a terceirizada será de R$ 1,08 milhão. 

Segundo explicou a Ufba, em nota técnica divulgada nesta segunda-feira (8), a redução ocorre na área de cobertura - ou seja, no tamanho da área a ser coberta pelos funcionários. A decisão é reflexo do bloqueio nos repasses por parte do Ministério da Eeducação (MEC). O contrato firmado com a empresa é medido pelo metro quadrado limpo. Assim, a escolha da Ufba foi reduzir a cobertura das áreas externas aos prédios e das esquadrias. As mudanças no quadrod e funcionários cabem à empresa Liderança. O CORREIO apurou que a redução no quadro será de cerca de 20%.

“Considerando os três tipos de serviços previstos pelo contrato, a Ufba optou por preservar integralmente a metragem das áreas internas a serem limpas e por diminuir a metragem das áreas externas e de esquadrias”, explica a nota. A redução não atingirá as nove unidades que abrigam os cursos de saúde, inclusive em Vitória da Conquista, por conta dos riscos de contaminação.

A Ufba diz ainda que entende que a redução na contratação pode impactar não só a qualidade dos serviços prestados, mas também gerar uma diminuição de postos de trabalho. Contudo, como o contrato é medido pelo metro quadrado limpo - e não pela quantidade de pessoas contratadas - a Ufba estaria impedida de decidir sobre a manutenção dos funcionários.“Esse é sempre um dos momentos mais difíceis na gestão da universidade porque nós sabemos que, lá na ponta, significa a redução dos postos de trabalho. Os terceirizados são membros da nossa comunidade, alguns deles com muitos anos de casa e com dedicação e zelo absolutos na vida da universidade”, disse o vice-reitor, Paulo Miguez.Procurada para comentar os impactos da redução do contrato, a empresa Liderança não respondeu aos questionamentos do CORREIO até o fechamento desta edição.

Impacto Hoje, 62 funcionários terceirizados trabalham nessas áreas externas - que serão mais impactadas -, de acordo com o coordenador de Meio Ambiente da Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sumai) da Ufba, o professor José Antonio Lobo. Desses, cinco são da coleta seletiva.

O vice-reitor, Paulo Miguez, disse que o contrato de limpeza é um dos maiores da Ufba, junto com os vigilantes. O CORREIO apurou que são 533 trabalhadores na área e que, se o corte de 20% se confirmar, devem permanecer 426 funcionários. Miguez não soube dizer o número exato, mas confirmou que o total gira em torno de 500 pessoas na área.

Esse contingente fica distribuído em toda a Ufba, inclusive em Vitória da Conquista. Em Salvador, eles trabalham em regime de mutirão: o mesmo grupo fica, por alguns dias, fazendo ações de limpeza, poda e roçagem em um único campus.

Quando terminam um, seguem para o próximo. Em um campus como o de Ondina, por exemplo, o trabalho costuma durar quatro dias. 

Por dia, a Ufba gera nove toneladas de lixo – entre todos os resíduos - de saúde e clínicos até o lixo comum.  No caso do lixo comum, existem pontos de coleta na universidade e ficam a cargo da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb). Atualmente, pouco mais de 500 trabalhadores terceirizados atuam na limpeza da Ufba (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Além disso, a universidade tem contratos com empresas que fazem a retirada de lixos específicos. O lixo químico é coletado por uma empresa de Santa Catarina e o hospitalar é coletado diariamente por uma empresa de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, que não serão impactados.

Questionado sobre os impactos, o MEC reafirmou a necessidade dos bloqueios e disse que, “caso o cenário econômico apresente evolução positiva no segundo semestre, os valores bloqueados serão reavaliados”.

Preocupação A notícia sobre a mudança no contrato dos serviços de limpeza já chegou aos principais interessados. Os funcionários da limpeza já sentem medo.“Tá todo mundo aqui preocupado. Se vai diminuir o dinheiro, com certeza vai acabar diminuindo a quantidade de trabalhadores”, diz um funcionário, sem se identificar. De acordo com o secretário de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza (Sindilimp), Carlos Alberto Araújo, não é a primeira vez que o setor passa por cortes na Ufba. Há pelo menos quatro anos, os terceirizados de limpeza vêm sendo reduzidos.“A redução já vinha acontecendo entre os trabalhadores da limpeza, que são os mais sacrificados”, revela.Um exemplo, segundo ele, é o Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (Hupes). Em 2016, diz, era eram cerca de 180 funcionários. Atualmente, a estimativa do sindicato é de que o número de funcionários no loal fique entre 100 e 120, no máximo. 

A comunidade acadêmica também se preocupa. A estudante de Medicina Veterinária Alva Oliveira, 46, se diz assustada. “Os terceirizados já estão saindo e parece que vai haver mais demissões”, diz. Estudante de Veterinária, Alva está preocupada com a situação dos terceirizados (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) A presidente do Sindicato dos Professores das Instituições Federais do Estado da Bahia (Apub), Raquel Nery, diz que a categoria se solidariza com os mais afetados: “A gente acaba vendo na prática algo algo que estudamos, que é a constatação da fragilidade da condição do trabalhador terceirizado. Lamentamos profundamente, até porque essas são relações de afeto”.

Os servidores da universidade entendem que a medida irá impactar no dia a dia. “Se você tem uma casa que usava 100 reais para limpeza e de repente você só tem 60, é um impacto”, acredita Antônio Bonfim Moreira, coordenador de comunicação da Assufba.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier