Live realizada por produtoras baianas debate importância do roteirista

Ceci Alves e Carollini Assis são criadores do evento que recebe Rodrigo Teixeira nesta sexta-feira (24)

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  • Roberto Midlej

Publicado em 23 de julho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: Renato Parada e reprodução do Instagram

Quando se propõe uma discussão sobre cinema, é muito comum se pensar imediatamente na figura do diretor. Quando muito, pensa-se até no produtor. Mas outra figura essencial para a execução de um filme raramente é lembrada: o roteirista. Preocupadas com isso, as roteiristas Ceci Alves, 47 anos, e Carollini Assis, 41, estão realizando nesta quarentena lives com a participação de colegas para discutir questões que interessam aos profissionais da área.

As lives são realizadas pelo Zoom, e transmitidas ao vivo pelo Facebook da ¡Candela! Produções, que realiza os encontros junto com a produtora Bocapiu. Para participar da live, deve-se enviar um e-mail para [email protected]. As inscrições são limitadas a 100 pessoas. Para acompanhar a live no Facebook, não é necessário se inscrever.

Amanhã, às 16h, o convidado será o produtor Rodrigo Teixeira, da RT Features, empresa por trás de filmes como Me Chame Pelo Seu Nome, que venceu o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2018 e que concorreu a melhor filme estrangeiro. A companhia também produziu A Vida Invisível (2019) e Ad Astra (2019), com Brad Pitt.

Mas por que convidar um produtor para a Live de Roteiristas?"Sem produtores é difícil aos  roteiristas viabilizar suas obras. A presença de um produtor do calibre de Rodrigo Teixeira numa Live de roteiristas traz uma dimensão mercadológica fundamental para que autores criativos pensem seus projetos e criem histórias que atendam ao mercado mas também balizem seu imaginário", defende Carollini. "É um tripé roteirista-produtor- diretor. Sem esse equilíbrio, nenhuma produção audiovisual se estrutura", acrescenta.Para Ceci, que é também diretora de curtas como Doido Lelé, a classe dos roteiristas precisa se unir mais, principalmente em prol de políticas públicas. "Nesse caso, acho importante nos inspirarmos no caso dos Estados Unidos, que tem um sindicato de roteiristas muito forte e isso cria uma importante instância de proteção para eles".

Em conversas sobre cinema, tornaram-se frequentes frases como "o problema do cinema nacional é o roteiro", o que virou praticamente um lugar-comum. Mas Ceci discorda: "Nunca houve problema de roteiro no cinema brasileiro. Mas há um senso comum de que nossos roteiros são ruins e isso vem do tempo da ditadura, que queria desinstrumentalizar a nossa arte e a nossa cultura. Da mesma forma, há outras frases que se repetem e não são verdade, como 'Glauber Rocha é hermético' ou 'o som do filme brasileiro é ruim'. Mas elas não são verdade".

Roteiros brasileiros

Ceci dá exemplos de roteiros que considera bons, de filmes clássicos como Macunaíma e Orfeu Negro, além dos longas de Glauber Rocha. "Mas esses roteiros não são tributários diretos do cinema canônico hollywoodiano, que muitas vezes funciona como parâmetro. Então, isso precisa ser pensado e não pode ser repetido". A roteirista vai além e cita também filmes "comerciais" como O Quatrilho, Cidade de Deus e Tropa de Elite.

Mas, afinal, qual a importância de um roteiro? É possível fazer um bom filme com um roteiro ruim?“Só me lembro de um desses casos, que é Casablanca. É um caso único na história. Tem diálogos péssimos, mas o filme é muito bom. Um bom roteiro é pensar uma história audiovisualmente”, diz Ceci.No dia 29, é a vez de Hélio de La Peña participar da Live dos Roteiristas. Ele, que se tornou conhecido como humorista do Casseta & Planeta, é também escritor e adaptou para o cinema seu livro Vai na Bola, Glanderson!. O filme, Correndo Atrás, deve estrear até o fim do ano e tem direção de Jefferson De.

Hélio, que também foi um dos roteiristas do filme A Taça do Mundo é Nossa (2003), considera que uma boa história é um ponto de partida para um bom roteiro. “Quando eu estava escrevendo o livro, eu já pensava num filme. O leitor consegue ‘ver’ umas cenas do livro. Mas, na hora de escrever o roteiro, surgem desafios, como adaptá-lo às questões orçamentárias”, diz Hélio.

A Live dos Roteiristas também já recebeu, entre outros, a diretora Everlane Moraes, a autora de novelas Thelma Guedes e Hilton Lacerda, diretor e roteirista.

Doido Lelé completa dez anos

Inspirada numa história que seu próprio pai lhe contava, Ceci Alves criou o roteiro de Doido Lelé, seu primeiro curta de ficção, que está completando dez anos. 

No filme, o pequeno Caetano, menino pobre e mestiço, sonha em ser cantor de rádio, para deleite da mãe e contrariedade do pai. O garoto foge todas as noites de casa para tentar, sem sucesso, a sorte no programa de calouros. Até que, numa noite, ele aposta tudo numa divertida performance para tentar o prêmio.

“Meu pai sempre me contava a história de quando ele, aos 19 anos, ainda servindo ao Exército, ia se apresentar no rádio. Mas nunca ganhava, até que resolveu apresentar uma canção própria e finalmente ganhou”, recorda Ceci.

Na ocasião, o pai dela apresentou um samba e foi ovacionado pelo público. Ceci lembra que acordou numa madrugada com a história na cabeça e correu para escrever. “’Vomitei’ 15 páginas numa sentada”, diz.

Em diversos festivais no Brasil e no mundo, Doido Lelé já arrebatou mais de 20 prêmios. Atualmente, o filme pode ser visto no YouTube, no canal da Cinemark Brasil.