Livro conta a história do Império Serrano

Escola que nasceu campeã em 1948 está há sete anos na segunda divisão e vai homenagear Manoel de Barros

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  • Roberto Midlej

Publicado em 14 de fevereiro de 2017 às 09:50

- Atualizado há um ano

Desfile de 2012, quando o Império homenageou dona Ivone Lara (Foto: Marcelo Piu/Infoglobo/Acervo Rachel Valença)A Império Serrano, ou melhor, “o” Império Serrano, como prefere sua torcida, está longe dos dias gloriosos de décadas passadas (pelo menos no que diz respeito a títulos) e hoje está na série A, que pode ser considerada a segunda divisão das escolas de samba do Rio. 

Criado em 1947, como dissidência de outra agremiação - a Prazer da Serrinha -, o Império já estreou brilhando no Carnaval de 1948, quando foi campeã, com o enredo Homenagem a Antonio Castro Alves, sobre o Poeta dos Escravos.

A história da escola fundada em 1948 está no livro Serra, Serrinha, Serrano - O Império do Samba (Record/R$ 70/434 págs.), de Rachel Valença e Suetônio Valença. 

A publicação, originalmente de 1981, ganhou uma edição atualizada. “A anterior tinha 129 páginas e a atual, mais de 400. Aquela contava a história dos carnavais até 1981, mas essa edição, que marca os 70 anos da escola,  vai até o Carnaval do ano passado”, diz Rachel Valença, carioca, 72.

InícioOs primeiros anos da escola foram brilhantes, com um tetracampeonato consecutivo. “Aquele tetracampeonato foi a era de ouro. O Império nasceu para congregar as pessoas e não foi criado com a finalidade de vencer os carnavais. Talvez por isso mesmo tenha se saído tão bem”, diz Rachel.

A autora observa que o Império foi criado por trabalhadores  do cais do porto e que tinham uma visão política: “Os primeiros componentes integravam outra escola, a Prazer da Serrinha, e romperam com o presidente Alfredo Costa, que era muito autoritário. Então o Império tem uma origem libertária e tem a tradição de conservar a democracia”.

Este compromisso com a democracia, que talvez seja a maior virtude da escola, pode ter sido também a razão de sua queda, já que, ao contrário de outras escolas, o Império nunca teve um patrono rico, como os donos do jogo do bicho carioca. “A escola não tem rios de dinheiro, então não pode desfilar cheia de efeitos especiais. Por outro lado, aqui não há os patronos, que ‘mandam’ nas escolas”, revela Rachel.

Outra demonstração da vocação libertária da escola é o fato de ter lançado o primeiro samba-enredo que tinha uma mulher como uma das compositoras: Os Cinco Bailes da História do Rio, que ela fez em parceria com Silas de Oliveira (1916-1972) e Bacalhau. 

Série ARachel, que é torcedora da agremiação, diz que a Série A, onde está o Império, tem desfiles tão animados quanto os do grupo especial: “Os ingressos são mais baratos, mas o Sambódromo enche de pessoas que estão realmente interessadas nas escolas. Já no grupo Especial, tem muita gente famosa e alguns que não conhecem realmente o Carnaval do Rio. Mas  o público da Série A é espontâneo e realmente participa”. 

A última participação do Império no grupo principal foi em 2009, quando havia sido promovida. Em 2017, disputa a Série A pela oitava vez seguida. No mesmo grupo, hoje, estão outras escolas tradicionais, como a Viradouro, que venceu o grupo Especial em 1997, e a Estácio de Sá, campeã da divisão principal em 1992. “Acho que a Série A é mais para quem é sambista mesmo”, brinca Rachel, que, desde 1971, só deixou de desfilar uma vez, porque uma das filhas havia acabado de nascer.

As filhas da autora, assim como os netos, são torcedoras do Império e Rachel garante que os seis anos seguidos na segunda divisão não provocaram a debandada da torcida: “São 3,5 mil pessoas desfilando e a escola precisa controlar o número de inscritos porque há uma demanda maior”.

O Império entra na passarela no dia 25, sábado. O tema será o poeta matogrossense Manoel de Barros (1916-2014), que será lembrado sob o samba Meu Quintal é Maior Que o Mundo. Caso seja campeão, o Império volta à elite. “Acredito muito no campeonato este ano”, diz Rachel.