Livro resgata o Carnaval das escolas de samba em Salvador

Lançamento acontece na quinta (13), às 18h, na Cantina da Lua da Vila Caramuru (antigo Mercado do Peixe), no Rio Vermelho

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  • Laura Fernades

Publicado em 11 de julho de 2017 às 06:15

- Atualizado há um ano

Ter ou não ter cordas, eis a questão do Carnaval de Salvador. Diante do embate, muitos esquecem que a maior festa popular do mundo nem sempre foi feita de blocos com abadá. “Em Salvador já houve escolas de samba?”, questiona o dentista e compositor Geraldo Lima, 68 anos, na introdução do livro O Carnaval de Salvador e suas Escolas de Samba (Corrupio | R$ 40 | 168 páginas).

A resposta já vem no título da obra que será lançada quinta-feira (13), às 18h, na Cantina da Lua, no Rio Vermelho. Ambientado entre as décadas de 1960 e 1970, o livro homenageia sambistas baianos e resgata a memória de uma época em que reinavam os desfiles de agremiações. “Fiz na base da intuição, com um pouco da memória viva na minha mente. Sou um sambista que resolveu contar uma história”, resume Geraldo, compositor de sambas-enredos e de Deusa do Ébano, sucesso do Ilê Aiyê. Foto da Juventude do Garcia, feita em 1975, é uma das que compõem o livro sobre as escolas de samba de Salvador (Foto: Acervo Fundação Gregório de Matos)Ex-secretário da Juventude do Garcia, Geraldo vivenciou os bastidores e a organização da festa carnavalesca na qual destacaram-se escolas de samba como Filhos do Tororó, Diplomatas de Amaralina, Ritmistas do Samba e Juventude do Garcia. O autor traça perfis das principais escolas e seu depoimento aparece aliado a fotografias da época, recortes de jornal, enredos famosos e entrevistas com pesquisadores e artistas.

“Seguir Geraldo nesse passeio é conhecer a organização das Escolas de Samba desde os primeiros croquis, idealizados nos nichos comunitários dos bairros antigos, seguir preenchendo de alegorias as avenidas centrais até a apoteose rítmica e coreográfica na Praça Municipal”, diz a editora Arlete Soares, na apresentação do livro. “Para os pesquisadores é um presente, pois vem preencher uma lacuna nos estudos sobre o Carnaval soteropolitano”, completa.

MudançasO Carnaval de Salvador e suas Escolas de Samba traz, ainda, um apêndice com os títulos conquistados pelas escolas de samba, as músicas campeãs e entrevistas exclusivas com os sambistas Walter Lima e Nelson Rufino, o cantor Ninha, ex-integrante das bandas Trem de Pouso e Timbalada, e João Barroso, ex-presidente do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Juventude do Garcia.

“Perdeu-se o encanto das fantasias, dos mascarados. Os blocos de trio são, hoje, verdadeiras empresas, e os novos blocos de samba não priorizam as composições do pessoal da terra, dando chance a compositores do Rio de Janeiro e de São Paulo que estão conquistando os espaços e fundando até outros blocos”, afirma Walmir Lima, 86 anos, na entrevista na qual reflete sobre o Carnaval baiano e relembra episódios curiosos.O sambista Geraldo Lima é autor do livro sobre as escolas de samba de Salvador (Foto: Cairé Brasil/Divulgação)Apesar de acreditar que as escolas de samba ficaram esquecidas diante das mudanças provocadas pelo surgimento dos blocos afros, das cordas e do trio elétrico dentro do bloco - “grande mudança do Carnaval baiano” -, Geraldo deixa claro que seu objetivo não é ser saudosista e, sim, registrar o orgulho de ter participado dessa geração.

“Os blocos afros são os que conservam um pouco mais daquele toque antigo do Carnaval: fantasia, bateria, tema... Os blocos de abadá não têm muito colorido. Hoje é só iluminação e pronto. As coisas vão mudando. Não podemos ficar presos ao passado, mas lembrar do que é bom é valido. Quem não conheceu, passa a conhecer, quem viveu, relembra. As pessoas vão se encontrar no texto”, garante o autor.