Livro sobre Capoeira Angola aborda ancestralidade da arte brasileira

Obra será doada às escolas, bibliotecas e pessoas que comparecerem no lançamento

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 12 de março de 2020 às 05:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Berimbau, mandinga, ginga e malícia são termos associadas à capoeira. Mas no estilo Angola estas palavras assumem uma dimensão mais ancestral. Diferente da modalidade esportiva ou Regional, a Angola é a “capoeira raiz”.  

“Angola é a mãe, a raiz. Na década de 1930, Mestre Bimba cria a capoeira Regional, que tem influências das lutas orientais. A Angola tem uma percepção do homem africano no mundo que ele vivia”, explica o mestre Valmir Damasceno, presidente da Fundação Internacional de Capoeira Angola (Fica). 

O nome do país africano é uma referência à linhagem dos primeiros praticantes da luta. A linhagem até é africana, mas o livro Capoeira Angola – Ginga e Ancestralidade é claro: a capoeira não nasceu na África. A luta é genuinamente brasileira.  

"No continente africano, há manifestações que se assemelham à capoeira. Se assemelham, mas não é. Os negros, o jogo de corpo e as habilidades corporais, sim. Estes vieram da África. Mas é no Brasil que a capoeira surge através do africano escravizado”, explicou Cinézio Peçanha, o mestre Cobra Mansa.  

Cinézio é doutor formado no Programa Multiinstitucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento, da Ufba. Ele também é um dos autores do livro que é lançado hoje (12), das 18h às 22h, no Espaço Cultural Pierre Verger, em evento aberto ao público. A obra foi escrita também pelos pesquisadores Eduardo Oliveira e Matthias Assunção e será doada às escolas, bibliotecas e pessoas que comparecerem no lançamento.  Livro possui 244 páginas e design moderno A ideia de escrever o livro surgiu em 2017, através da editora Barro de Chão, que queria fazer uma homenagem à Fica. Em 244 páginas e escrito em inglês e português, a narrativa foi construída de forma coletiva, com fotos históricas de Pierre Verger e gravuras de Carybé, além de depoimentos de personalidades da área, como Mauro Rossi, CEO da Barro de Chão, Sabrina Gledhill, pesquisadora, e os mestres Pastinha, João Grande, Moraes e Valmir Damasceno. 

A obra faz um resgate histórico da capoeira e do surgimento do estilo Angola. Tudo isso numa linguagem multimídia, com códigos QRs que levam o leitor a ouvir trilha de capoeira ou assistir vídeos e entrevistas exclusivas. 

O livro tem formato quadrado, e cores preta, amarela e branca, em um design especial, “que materializa a beleza da capoeira Angola”, como argumenta o mestre Cobra Mansa, ou cobrinha, para os mais íntimos. O apelido surgiu justamente nas rodas de capoeira, devido ao portem magro e a flexibilidade do então garoto de 12 anos.  Mestre Cobra Mansa é um dos autores do livro (Foto: Divulgação) “Sou natural de Salvador, mas entrei na capoeira no Rio de Janeiro. Lá aprendi com o Mestre Moraes, que também é baiano. Quando ele voltou para Salvador, nos anos de 1980, segui seus passos. Juntos, nós começamos um trabalho de resgate da capoeira Angola, que não tinha visibilidade. Esse livro traz justamente a visibilidade que ela não teve no passado”, explicou Cobra Mansa. 

Em 1994, o mestre foi para os EUA e lá ficou por 12 anos, ajudando a disseminar a capoeira angola pelo mundo. Hoje, a Fica está presente em 32 metróples, como Nova York, Cidade do México, Londres, Berlim, Maputo e, acreditem, Tóquio.  

“E os japoneses são interessados na capoeira. O mundo todo é! Mas, no Japão, a gente consegue colocar até 100 pessoas numa sala para aprender. Eles olham para a capoeira de forma mais respeitosa do que os brasileiros”, disse o mestre Valmir Damasceno. 

Para ele, a Capoeira é no mundo o maior motivador para o aprendizado da língua portuguesa. “A gente cobra que os nossos líderes falem português. Nós realizamos no Brasil um encontro internacional da Capoeira Angola, normalmente na Bahia, que a gente considera a Meca da Capoeira. Além disso, os nomes dos movimentos são em português, as músicas são em português, a história da capoeira é brasileira”, explicou.   Mestre Valmir Damasceno é o presidente da Fica (Foto: Divulgação)