Livros para jovens falam de racismo, depressão e de refugiados

Publicações abordam temas com linguagem ágil, belas ilustrações e referências à cultura pop

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  • Ana Pereira

Publicado em 16 de setembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustrações de Rafaela Villela

Uma experiência editorial bem-sucedida fez as jornalistas Aryane Cararo e Duda Porto de Souza encararem o desafio de falar sobre o drama dos refugiados para o público jovem. Em 2017, elas lançaram Extraordinárias: Mulheres que Revolucionaram o Brasil, que reúne perfis de mulheres apagadas historicamente e que se tornou um best-seller, a partir da boa aceitação nas escolas. Juntamente com a ilustradora Rafaela Villela, elas repetem a ideia em Valentes – Histórias de Pessoas Refugiadas no Brasil (Companhia das Letras).

Durante três anos, Aryane e Duda mergulharam na pesquisa sobre o assunto que migra de região conforme as guerras, tragédias e grandes catástrofes vão acontecendo.   E focaram nas 19 histórias que dão voz aos números da crise  mundial: “Neste momento, são cerca de 100 milhões de pessoas estão descoladas à força de seus países. São pessoas como nós e amanhã nós podemos ser um deles”, afirma Duda, acrescentando que o Brasil só acolhe 0,04 % deste montante. Beat People

Além de acolher pouco, quem chega por aqui também não escapa da xenofobia, preconceito cultural e das fake news que consolidam ideias de que os refugiados são “ilegais”, “não qualificados” ou que o país “gasta muito dinheiro com eles”.  Pesquisas e relatórios de organizações como a Unicef, a Cáritas e a Organização Internacional do Trabalho, que as autoras trazem para o livro,  mostram que a realidade é bem diferente.

São trajetórias como a do vietnamita Vu Tien Dung, que fugiu da ditadura comunista e das guerras em 1979 em um pequeno bote com mais 28 pessoas. Depois de ficar à deriva no mar, eles foram resgatados por um navio da Petrobras. A história escolhida para abrir o livro simboliza também a abertura do Brasil para receber refugiados. Há quarenta anos no país, Dung - que chegou com uma calça, duas camisetas, um dicionário e cinco dólares -, casou, teve quatro filhos e se tornou um pequeno empresário com uma loja de importação em Balneário Camburiú (SC).    Além do Vietnã, os refugiados focados no livro vêm de outros 15 países e sofreram diferentes formas de perseguição, seja pela raça, religião, orientação sexual, identidade de gênero ou opinião política.  Ou mesmo por dificuldades de sobrevivência, que têm obrigado milhares de venezuelanos a migraram para o Brasil.

Duda conta que ela e Aryane foram a Pacaraima, em Rondônia, e que uma das histórias que mais a comoveu foi a de Yennifer Zarate, de 39 anos, que veio para o Brasil após perder um bebê por falta de cuidados hospitalares na Venezuela. 

“Ela não queria falar, tudo era muito doloroso. Quando estávamos terminando o livro resolveu contar sua história”, lembra Duda. Ela diz que, quando está falando sobre o livro, principalmente para crianças, tenta mostrar as possibilidades de trocas culturais que a convivência com os refugiados pode proporcionar. “Precisamos combater a desinformação e ter mais empatia, afinal são 3 milhões de brasileiros espalhados pelo mundo”, afirma. Cabeça jovem

Trazer mais informações sobre alguns temas delicados é o desejo principal do professor e escritor pernambucano Severino Rodrigues, de 29 anos, que assina a série Cabeça Jovem para a Editora do Brasil.  O terceiro livro da coleção, Mil Pássaros de Papel, se engaja na campanha Setembro Amarelo –de prevenção ao suicídio– para falar da depressão e preocupação com a saúde física - comummentes negligenciadas em relação aos jovens. 

 Através de uma linguagem pop - repleta de analogias à cultura japonesa - com muita referência tecnológica e com um toque de mistério, Severino quer chamar atenção para este e outros temas como déficit de atenção, ansiedade e baixa autoestima.

“São questões recorrentes entre os adolescentes contemporâneos”, diz Severino, que alia a pesquisa à sua experiência na sala de aula. Ele acredita que a escola precisa estar mais atenta à estas questões e não apenas ao conteúdo. “A série fala sobre a importância do diálogo e da escuta”, destaca.

Da mesma editora, o livro Aos Dezesseis resgata um fato histórico para falar de racismo e suas consequências e da luta pelos direitos civis nos EUA. O romance de Annelise Heurtier trata dos Nove de Little Rock, como ficou conhecido o primeiro grupo de adolescentes negros que foi estudar num tradicional liceu no Arkansas, em 1954, quando a Suprema Corte aprovou a integração escolar entre brancos e negros.  A história é narrada por duas jovens de 16 anos: Molly, uma garota negra que aceitou ir para a integração; e Grace, uma garota branca que estuda na mesma sala e cujas maiores preocupações são os garotos e o baile de fim de ano. A alternância entre as vozes, sentimentos e intenções cria uma envolvente atmosfera agridoce.     

Aos Dezesseis 

Autora  Annelise Heurtier  Ilustrações  Linoca Souza  Editora  do Brasil  Preço R$ 51 (172 páginas) 

Mil Pássaros de Papel 

Autor Severino Rodrigues

Ilustrações Laerte Silvino

Editora do Brasil

PreçoR$ 56 (130 páginas)   

Valentes 

Autoras  Ary- ane Cararo e Duda Porto de Souza

Ilustrações  Rafaela Villela

Editora  Cia das Letras 

Preço R$ 79,90 e R$ 39, 90 (e-book)