Localizado na Piedade, Gabinete Português é oásis para ler e estudar no Centro

O belo prédio, fundado em 2 de março de 1863, conta com mais de 25 mil livros em sua biblioteca

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  • Roberto Midlej

Publicado em 10 de dezembro de 2014 às 09:23

- Atualizado há um ano

É verdade que a internet revolucionou a informação e hoje o acesso ao conhecimento está a poucos cliques do leitor. Mas as bibliotecas públicas ainda têm um encanto inegável, afinal, ali, a história está representada não apenas pelo conteúdo dos livros, mas também pela arquitetura  ou até pelo mobiliário.A atual sede do GPL de Salvador, projetada pelo italiano Alberto Barelli, foi inaugurada em fevereiro de 1918(Foto: Marina Silva)Em Salvador, uma dessas bibliotecas que guardam um pouco da história está no Gabinete Português de Leitura (GPL), na Praça da Piedade. Fundado em 2 de março de 1863 pela Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro, o GPL conta com mais de 25 mil livros em sua biblioteca.

O prédio foi projetado pelo arquiteto italiano Alberto Barelli e tem, além da biblioteca, espaços para eventos, como a quarta edição do Tributo à Língua Portuguesa, que acontecerá amanhã e sexta.A Biblioteca do Gabinete Português de Leitura, na Praça da Piedade, possui mais de 25 mil exemplares em seu acervo, que já começaram a passar por um processo de digitalização (Foto: Marina Silva)A bela construção, em estilo arquitetônico neomanuelino, que remonta à época do Descobrimento, foi inaugurada em 3 de fevereiro de 1918. O Gabinete já havia funcionado em outros locais da cidade: primeiro, estabeleceu-se no bairro do Comércio; depois, foi para a Rua Chile e, de lá, passou para o ponto atual.

Intercâmbio

“O projeto arquitetônico segue a mesma linha de outros Gabinetes no Brasil, como os de Santos e do Rio de Janeiro”, diz Manuel Bernardino da Silva, 70, presidente do GPL de Salvador. Nascido em Portugal, no arquipélago de Açores, Manuel veio para o Brasil em 1961, tornando-se comerciante.Amanhã e sexta, o Gabinete sedia o Tributo à Língua Portuguesa, com palestras e show de fado(Foto: Marina Silva)Para o presidente, a instituição tem um papel importante na aproximação entre Brasil e Portugal: “Nós temos um permanente intercâmbio de informação com Portugal. Autoridades portuguesas vêm ao Brasil, como acontecerá no Tributo à Língua Portuguesa, que receberá a cônsul geral de Portugal na Bahia e Sergipe”.

Há até alguns anos, o Gabinete recebia, esporadicamente, contribuição financeira de Portugal, através do governo e do Instituto Camões. Mas, segundo Bernardino, a crise econômica que afetou a Europa inviabilizou a manutenção dessa verba.

Hoje, o Gabinete se mantém com o lucro proporcionado pelo estacionamento pago, que funciona ao lado da sede.

Curso

Há também a verba proveniente do aluguel de algumas salas para a realização de eventos. “Temos um auditório para 56 pessoas e o Salão Nobre, com capacidade para 150 participantes”, diz o presidente.

O Gabinete promove também um curso de língua portuguesa com o professor Thiago Martins Prado, doutor em  Estudo de Teorias e Representações Literárias e Culturais. “É um curso destinado a profissionais das mais diversas áreas que queiram aprimorar seu conhecimento e busquem novas funções”, diz Bernardino. O curso custa R$ 410.Miniatura de embarcação que está em exposição na sede do Gabinete(Foto: Marina Silva)

Futuro

O prédio da Piedade já foi sede do Consulado Geral de Portugal na Bahia e Sergipe, o que também gerava uma arrecadação correspondente ao aluguel do espaço. Mas a instituição foi transferida para o Pelourinho, até se instalar na Avenida Tancredo Neves, onde funciona atualmente.

Mas, apesar de algumas dificuldades, o prédio mantém sua imponência, especialmente na bela fachada, onde estão  estátuas de dois símbolos portugueses: uma é do poeta Luís de Camões (1524- 1580), autor do clássico Os Lusíadas; a outra reproduz o Infante Dom Henrique (1394- 1460), filho do Rei D. João I de Portugal.

Embora ligado ao passado, o Gabinete está de olho no futuro e já se prepara para se adaptar à nova era. Começou a digitalizar  seu acervo, que, futuramente, estará na internet. “Estamos levantando os recursos para a digitalização, mas já começamos com recursos próprios. Hoje, estamos trabalhando com bolsistas da Ufba”, diz Bernardino.Mas, por enquanto, os leitores baianos que quiserem conhecer exemplares raros de obras como Os Lusíadas deverão ir até a Piedade. E, de quebra, além dos livros, podem ver, gratuitamente, exposições como a de modelismo naval, que inclui reproduções das caravelas portuguesas que vieram para o Brasil.

Tributo à Língua Portuguesa terá palestras e show

Nações irmãs, Brasil e Portugal vão se aproximar ainda mais esta semana, quando o Gabinete Português de Leitura sedia, amanhã e sexta, o quarto Tributo à Língua Portuguesa, que acontece pela segunda vez na Bahia. As outras duas edições aconteceram em Portugal.

“O objetivo do evento é estreitar os elos entre os dois países, já que um precisa do outro. No passado, Portugal abriu os braços para o Brasil. Mas agora os portugueses passam por uma crise econômica muito séria, então é nossa vez de retribuir”, diz Marta Sales, produtora cultural baiana que realiza o evento e reside no Porto há 15 anos.

O Tributo terá workshop de turismo, painel cultural e literário, lançamento de livros e mostra de gastronomia portuguesa. As inscrições, gratuitas, podem ser feitas pelo telefone do Gabinete (3329-2733).

O primeiro dia, chamado A Bahia e Portugal: Conexões em Língua Portuguesa, terá presença do prefeito ACM Neto na abertura. E  abordará, além de questões culturais, temas econômicos, como o mercado de turismo.

Albino Rubim, secretário estadual de cultura, falará sobre o mercado de turismo cultural local. A programação completa está no site www.tributoalinguaportuguesa.com. Também amanhã, às 20h, o fado tradicional chegará ao Teatro Vila Velha, quando  o cantor Nuno da Câmara Pereira se apresentará ao lado de convidados como Jota Velloso e Nelson Rufino.

Os ingressos custam R$ 100/R$ 50. Embora seja adepto do fado tradicional, Nuno costuma adaptar canções brasileiras ao gênero típico de seu país. “Em 1984, gravei a música Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo, de Roberto Carlos. Essa canção impulsionou as vendas do meu álbum, que ganhou dois discos de platina”, diz Nuno.

Para o fadista, o gênero musical cantado por ele continua em alta em sua terra, graças, principalmente, ao status de Patrimônio Imaterial da Humanidade, alcançado em 2011. Para Nuno, no entanto, alguns jovens estão descaracterizando o fado e o transformando em world music.

“Eu, embora adapte algumas bossas e sambas ao fado, jamais descaracterizei o gênero. Mas esses fados novos são modas e não irão se perpetuar, ao contrário do tradicional”, diz o cantor.

Sexta, a programação do tributo começa às 15h, com a Dra. Nathalie Viegas, cônsul geral de Portugal na Bahia e Sergipe. Ela falará sobre a Promoção da Língua e da Cultura Portuguesas no Estrangeiro.

Às 17h, a escritora Paloma Amado comentará o legado do pai, Jorge Amado (1912-2001). Às 17h40, Mabel Velloso aborda a vida de Dona Canô.

A programação será encerrada, às 17h40, com o lançamento do livro Minha Vida com o Poeta, em que a autora Gessy Gesse lembra relacionamento com Vinicius de Moraes (1913-1980).