Luiz Melodia ganha biografia que mostra seu espírito livre

Se recusar a fazer gravação para a Globo e se entregar à boemia baiana no Verão de 1977 criaram fama de maldito

  • Foto do(a) author(a) Ana Pereira
  • Ana Pereira

Publicado em 8 de agosto de 2020 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

O começo dos anos 70 foi realmente incrível na vida do jovem Melodia. Depois que Gal Costa e Maria Bethânia gravaram, em 1972,  Pérola Negra e Estácio, Holly Estácio, respectivamente, todos queriam conhecer o poeta por trás daqueles versos. E ele não decepcionou, lançando seu primeiro álbum, também batizado de Pérola Negra, no final do mesmo ano. Além das duas canções citadas, a estreia promissora trazia canções que marcaria sua trajetória, como Estácio, Eu e Você, Vale Quanto Pesa, Magrelinha, Farrapo Humano e Forró de Janeiro.    Mas o encantamento durou pouco. Numa época em que os grandes artistas lançavam discos todos anos, Melodia ficou quatro sem gravar e ainda ganhou a fama incômoda de difícil. Na biografia Meu Nome é Ébano – A Vida e Obra de Luiz Melodia (Todersilhas, o jornalista Toninho Vaz, 73 anos, mostra que os fatos não são tão simples assim e são resultados da mistura de preconceito e má vontade com o jovem negro 21 anos,  vindo do Morro de São Carlos,  Zona Norte carioca. 

Segundo Toninho, depois do primeiro álbum, a gravadora Polygram pressionou o artista para lançar logo um segundo LP. E para piorar, queria transformá-lo num sambista. “Não deu certo e eu passei a ser considerado um cara difícil”, diz Melodia numa das entrevistas resgatadas no livro - lançado no último dia 4, quando o carioca completou três anos de morte. A ideia do livro foi do violonista piauiense Renato Píau, um dos parceiros mais frequentes de Melodia.  Luiz Melodia com o escritor Waly Salomão na Bahia no lançamento do álbum Mico de Circo: cortejo e caruru (Foto: Antonio Valente/Arquivo CORREIO) Temporada baiana

Outros episódios, como se recusar a fazer uma gravação para a Globo com um grupo de mulheres vestidas de gatas (ele ficou banido da emissora até os anos 80) ou se entregar à boemia baiana no Verão de 1977, enquanto os produtores o aguardavam no Rio para entrar em estúdio, foram aumentando a fama de maldito.

 “O Luiz foi passar uma temporada e acabou ficando seis meses, deixando os empresários muito nervosos”, conta Vaz, que também assina a biografias de E Toninho  já assinou as biografias de autor Torquato Neto, Paulo Leminski e Zé Rodrix. Praia, drogas, bebida e muitas mulheres detiveram Melodia em Salvador, onde ele tinha muitos amigos e encontrou o amor de sua vida: a empresária Jane Reis, com quem viveu 40 anos e teve o filho Mahal. Melodia tem um outro filho, Hiram, de um relacionamento anterior.

Com 336 páginas, muitas entrevistas e uma grande pesquisa, a biografia faz um retrato complexo do artista que, para Toninho, é pouco conhecido pelo Brasil. No livro, ele refaz o contexto efervescente carioca dos anos 70, quando artistas como Hélio Oiticica (1937 – 1980) subiam o morro em busca de novidades.  

Foi Oiticica quem apresentou Luiz Carlos - a novidade conhecida pela musicalidade e elegância em São Carlos- a Waly Salomão (1943 – 2003) e Torquato Neto (1944 – 1972). A amizade foi instantânea e Waly logo o indicou a Gal, que estava preparando o swhow/álbum Fa-Tal: Gal a Todo Vapor. Para a musa baiana, Melodia compôs Presente Cotidiano, que acabou censurada pela ditadura. No lugar dela, entrou Pérola Negra e o resto é história.  Melodia com a esposa Jane: parceria que durou 40 anos (Foto: divulgação) A Bahia e a esteve presente em vários momentos na vida de Melodia. Em 1978, por exemplo, ele e Waly fizeram um cortejo para lançar o álbum Mico de Circo, com direito a carroças e a um caruru com 7 mil quiabos no Mercado da Sete Portas. A boemia teve seu preço. Segundo o biógrafo, o tratamento do câncer de medula, descoberto em 2016, se complicou pela descoberta de uma lesão hepática grave em função do álcool. 

Melodia morreu aos 66 anos e deixou uma obra única na MPB. Inspirado inicialmente pela  Jovem Guarda, flertou com os tropicalistas, mas bebeu no samba, no blues e no jazz para nos oferecer 13 álbuns autorais e muitos pérolas.  Meu Nome é Ébano (Editora Todersilhas, 336 págs, R$ 55).

https://www.facebook.com/tordesilhas/videos/3175350299207688

FICHA

Livro:  Meu Nome é Ébano – A Vida e Obra de Luiz Melodia

Autor: Toninho Vaz

Editora: Todersilhas

Preço: R$ 55 (336 páginas)

Dois clássicos de cara nova  Coraline - Primeiro livro do britânico  Neil Gaiman para o público infanto- juvenil, Coraline logo se tornou um clássico, com sua mistura irresistível de terror e contos de fadas. Publicada em 2002, a obra ganhou uma edição que vai agradar fãs de todas as idades: com capa dura, pintura trilateral e ilustrações de Chris Riddell. Considerada pelo The Guardian um dos melhores livros do século XXI, Coraline é a história de uma menina curiosa, que aprende que certas portas nunca devem ser abertas. Em 2009, o livro chegou ao cinema, em  animação stop- motion dirigida por Henry Selick e considerada por Gaiman a melhor adaptação de um livro seu.  Intrín- seca, 224 págs,  R$ 49,90 e R$ 34,90 (e-book)

  Oliver Twist  -  Especializada em literatura infantojuvenil, a Editora do Brasil aproxima o clássico ‘Oliver Twist’, de Charles Dickens, do jovem leitor. Publicada originalmente entre 1837 e 1839 em forma de série, a obra ganha adaptação de Telma Guimarães, numa edição bilíngue português/inglês e com ilustrações de Rodrigo Rosa. Consagrada ao logo dos anos, a história foi a primeira do autor inglês a retratar o submundo de Londres, através da vida do pequeno Oliver Twist, um órfão que sofre maus bocados na vida. A história já foi adaptada várias vezes para o cinema, sendo a última em 2005, pelo cineasta Roman Polanski.  Editora do Brasil, 138 páginas, R$ 53.