Lula admite que vai se entregar à PF, nega que tenha praticado crimes e diz que juízes mentem

Lula deve ser entregar à PF depois da missa

Publicado em 7 de abril de 2018 às 10:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: AFP

O ex-presidente Lula apareceu  pela primeira vez desde quinta (5) do lado de fora do Sindicato dos Metalúrgicos do (ABC). Um padre fala de cima do carro de som que está na frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP), onde acontece missa dedicada à memória da falecida esposa de Lula, Marisa Letícia. O ex-presidente Lula está do lado dele. A ex-presidente Dilma Rousseff também está no local, além de outros políticos.

Em discurso que durou 55 minutos, o ex-presidente afirmou que não cometeu nenhum crime relacionado à posse do triplex no Guarujá. Ele ainda desafiou os juízes do Tribunal Regional Federal e o juíz Sérgio Moro para um debate para que provem que ele cometeu crimes. "Meu crime foi fazer o brasileiro comer carne", afirmou. 

Pela primeira vez desde que houve a decisão da Justiça pela sua prisão, o ex-presidente admitiu que vai se entregar à polícia. 

O ex-presidente, contudo, criticou a medida. "Vou atender o mandado deles. Quero fazer transferência de responsabilidade. Eles acaham que tudo que acontece nesse país e por minha causa. Eles não sabem que o problema desse mais não chama-se lula. o problema desse país chama-se a consciência do povo. Não pararei porque não sou um ser humano. Eu sou uma ideia", afirmou. 

Em outro momento, Lula se dirigiu aos manifestantes dizendo que vai provar sua inocência. "Eu vou cumprir o mandato e cada um de vocês vão ter que se chamar daqui pra frente Lula. Eles têm que saber que a morte de um combatente não acaba a revolução. Eu vou lá provar minha inocência". 

A expectativa é que, após a missa, Lula se entregue à Polícia Federal em São Paulo e siga para Curitiba, no Paraná. A sala destinada na PF do Paraná para o início do cumprimento da pena do ex-presidente Lula foi reformada, mas não conta com confortos como televisão ou frigobar.

O chuveiro foi trocado e a cama beliche, substituída por uma de solteiro. A janela dá vista para a parte interna do prédio, localizado no bairro Santa Cândida, ao norte da capital paranaense. Segundo a avaliação de funcionários da PF, o cômodo de 15m² é rústico, mas digno. Além da cama e do banheiro, há uma mesa.

Localizada no NIP (Núcleo de Inteligência Policial), a sala fica na cobertura, no quarto andar, isolada do resto do edifício. Os elevadores vão apenas até o 3° andar -é preciso subir um lance de escada para chegar ao núcleo. Os próprios servidores do órgão têm pouco acesso ao local. Lula não poderá circular pelos corredores.

O cômodo não tem grades, mas será vigiado 24 horas por dia por equipes da polícia.

No mandado de prisão, o juiz Sergio Moro afirmou que, “em razão da dignidade do cargo ocupado”, foi preparada uma sala reservada, “espécie de Sala de Estado Maior”, na qual Lula ficará separado dos demais presos. A sala de Estado Maior é prevista no Estatuto dos Advogados. Segundo o texto, os advogados têm o direito de não serem presos antes do trânsito em julgado, salvo nesta sala, “com instalações e comodidades condignas”.

No julgamento de um habeas corpus em 2007, o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ayres Britto definiu a sala de Estado Maior “por sua qualidade mesma de sala e não de cela ou cadeia”. “Sala, essa, instalada no Comando das Forças Armadas ou de outras instituições militares (Polícia Militar, Corpo de Bombeiros) e que em si mesma constitui tipo heterodoxo de prisão, porque destituída de portas ou janelas com essa específica finalidade de encarceramento.” Segundo fontes na PF, o cômodo onde Lula ficará não é tratado por este nome entre servidores do órgão. Moro utilizou uma metáfora para descrever a sala, que até então servia para o descanso de agentes em missão.

No quarto andar, o ex-presidente ficará fora da custódia, onde estão detentos como o ex-ministro Antonio Palocci e o sócio da OAS Léo Pinheiro. Tanto as visitas como o banho de sol de Lula serão realizados separadamente dos demais presidiários. Apesar disso, o ex-presidente deve seguir regras similares às aplicadas aos outros presos: visitas às quartas e duas horas de banho de sol por dia. A sala fica na Superintendência da Polícia Federal, prédio de grande movimentação popular, já que o trâmite para obtenção de passaportes é realizado ali. Para entrar nos elevadores ou subir pelas escadas, no entanto, é necessário se identificar e ter a passagem pelas catracas liberada por funcionários da recepção.

A ordem de prisão do ex-presidente Lula nesta semana surpreendeu policiais federais, segundo Luis Boudens, presidente da federação nacional da categoria. Boudens disse em Curitiba que causou espanto a celeridade da decisão, que era aguardada para as próximas semanas. Um dos motivos para a surpresa, diz o policial, foi a iniciativa ter partido do relator substituto da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Nivaldo Brunoni. O titular, João Pedro Gebran, que dirige o caso de Lula na corte, está de férias. “Para as providências policiais, o ideal seria que [a prisão] fosse no tempo que a gente estava prevendo. Aguardar o relator original e todas as providências que a gente vinha analisando”, diz.

Ele se reuniu na tarde desta sexta-feira com a Superintendência da PF no Paraná para discutir como será a custódia do ex-presidente no local. Sobre o esgotamento do prazo dado para Lula se apresentar, o policial disse que a ideia não é “dar o cumprimento de mandado a qualquer custo” e que não haverá “atitude açodada”. “Se houver multidão [impedindo a prisão de Lula], há várias formas de fazer tratativas, sem confronto, sem que haja imediatismo.”