Luto é tempo de reajuste também para crianças

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  • Da Redação

Publicado em 5 de novembro de 2019 às 10:34

- Atualizado há um ano

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O fenômeno da morte é definido pela cessação dos sinais vitais do corpo. É universal, inevitável e ocorre em qualquer momento da etapa do desenvolvimento humano. A morte, pelos seus mistérios, pode causar fascínio. Tanto que marca a história da civilização humana gerando inúmeras referências no campo religioso. Inspira as artes, como em Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Já o cinema humaniza a morte dando-lhes uma face, retratada no filme Encontro Marcado. Nos gibis, Maurício de Souza eternizou a Dona Morte. Mas é na filosofia que a morte assume seu aspecto mais natural, como parte integrada da existência humana. Pensadores como Platão, Sêneca, Nietzsche, Sartre, Camus e Heidegger desnudam o medo e a angústia frente à finitude.

Em todos os povos é registrado algum tipo de rito para lidar emocionalmente com o fim da vida. No Brasil, vê-se o ritualístico Dia de finados. No Oriente, o Japão celebra o Obon, no qual as pessoas lançam lanternas nas águas para “guiar” os entes falecidos. Para a psicologia, a morte atinge o psiquismo desestruturando o lugar no mundo, os sonhos e os papéis sociais. Assim, ao morrer um filho, morre também o papel do pai e da mãe. Já com a morte dos pais, os filhos perdem o lugar seguro. E, quando se morre um cônjuge, os sonhos de constituir família vão por terra. Assim, o luto ocorre para que o psiquismo se reorganize, para que a pessoa siga com saúde a sua vida.

Os estudos mostram que as crianças entram em contato com a morte desde cedo, seja na despedida de um animalzinho ou através da morte de um dos avós. Como ocorre com os adultos, o luto infantil pode causar apatia, raiva constante, choro, negação, falta de concentração e dificuldade nos estudos, humor deprimido, identificação com o morto e desejo de ocupar seu lugar na família. Assim como todo processo mental, os sintomas naturais podem evoluir dependendo da ocorrência para patologias que podem gerar comportamentos disfuncionais. 

Percebendo-se o padrão de luto patológico, torna-se necessário o acompanhamento psicológico. Os adultos possuem um papel fundamental para que as crianças atravessem este momento confuso e difícil de forma tranquila. Algumas condições podem ser cruciais, como comunicar sem rodeios a morte do ente querido, acolher todos os sentimentos que vierem a ser externalizados pelas crianças e também permitir que elas participem dos ritos de despedida. O fenômeno da morte ameaça o lugar seguro da criança, mas ela não pode ficar alheia desta mazela existencial. O processo de luto infantil é uma restauração de coração e mentes em formação. Por isso, todo o cuidado é importante, tanto da família quanto do profissional.

Iarodi D. Bezerra é psicoterapeuta, com atuação no atendimento infanto-juvenil e de adultos. É também facilitador de grupos de psicoterapia.

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