MAB dá início às celebrações de seu centenário

Museu de Arte da Bahia, na Vitória, inaugurou nesta quarta (26) exposição de Juraci Dórea

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  • Roberto Midlej

Publicado em 26 de julho de 2017 às 22:51

- Atualizado há um ano

Juraci Dórea levou lembranças de seu sertão ao MAB (foto: Betto Jr.)

O Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, habitual lar da arte clássica, deu espaço à arte popular na noite de ontem, com direito até ao samba de Dorival Caymmi e aos cantos dos vaqueiros do Encourados de Pedrão, vestidos tradicionalmente, com chapéu de couro e tudo.A festa marcou o início das comemorações do centenário do MAB, que acontecerá oficialmente em 23 de julho de 2018, embora só esteja funcionando nesta sede desde 1981. Antes, funcionava ao lado do Arquivo Público. A quarta-feira teve ainda a abertura da exposição Crônica Sertaneja, de Juraci Dórea, e do projeto artístico O Tratado das Fusões, assinado por Caio Araújo.A Filarmônica da Ufba abriu a noite, com músicas como Maracangalha e O Samba da Minha Terra, de Dorival Caymmi (1914- 2008). “Escolhemos também o Dobrado Silvino Caldas, uma marcha festiva que é como se fosse uma alvorada, simbolizando o início destas comemorações”, disse Celso Benedito, professor de música da Ufba, que regeu a Filarmônica. “Acho muito salutar esse conjugado de artes no MAB, um recinto que é um patrimônio baiano, assim como a Filarmônica se tornou patrimônio baiano”.As artes plásticas também estavam representadas, com as cerca de cinquenta obras de Juraci Dórea, que permanecerão em cartaz até 10 de setembro. “Apesar de elas terem propostas diferentes, todas têm o sertão como fio condutor. Essa marca do sertão em minhas criações começou em Feira de Santana, onde nasci”, afirmou Juraci.Vaqueiros do Encourados de Pedrão estiveram no MAB (foto: Betto Jr.)Ele observa que Feira era a porta do sertão, embora hoje isso não fique claro, devido à urbanização da cidade. “Ela demarcava o limite entre os sertão e o litoral”. Juraci adentrou para a área mais profunda do estado e inspirou-se em locais como Canudos. “O MAB é uma referência para a arte baiana, graças a seu acervo e fiquei muito sensibilizado pelo convite”, revelou.Pedro Arcanjo, diretor do MAB, explicou por que iniciou as comemorações do centenário com a exposição de Dórea: “A arte dele dialoga com as mais diversas linguagens, como a escultura, a performance, o desenho e a instalação. E isso o torna contemporâneo”. Arcanjo defende o museu como um espaço mais democrático, que se aproxime o povo e deixe de ser hermético: “Não pode ser um lugar apenas para os estudiosos, um lugar onde se guardam objetos. O MAB precisa dialogar com seu tempo”, resumiu.A tradição sertaneja contrasta com a modernidade do projeto O Tratado das Fusões, de Caio Araújo, que tem formação como cineasta e é mestrando em artes visuais. O artista remonta filmes antigos e dá novo significado às imagens. Um dos vídeos que ele usa é um filme japonês do século XX. O Tratado das Fusões, que continuará em cartaz, teve ainda uma performance especial ontem do Ballet Tome Love, que se apresentou ao som do ‘pagodão’. O projeto abriga ainda uma sala onde é projetado o filme Elogio da Utopia, também baseado em uma remontagem de vídeos que retratam problemas sociais brasileiros. Os vídeos usam comentários de personalidades brasileiras como Darcy Ribeiro (1922- 1997). O Tratado das Fusões também segue em cartaz.