Macho? Alfa? Imbecis!

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista

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Publicado em 21 de junho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Você. Você mesmo. Você que em vez de se indignar com o vídeo em que brasileiros, misóginos, machistas, desequilibrados, infantilizados e mal-amados se divertiam abusando da boa-fé de cidadãs russas acolhedoras, curtiu e compartilhou é como eles: mórbido, patológico, rematado homo stults. Culus. Asinus. Não ouve, não lê, não sabe, não evoluiu, não aprende. E se no lugar da moça moscovita fosse sua mulher, sua namorada, sua filha, sua irmã? Se fosse sua mãe? Será possível que nada do que se debate, se discute, se busca, pelo qual se luta para respeito à mulher de qualquer nacionalidade; de reverência aos diferentes: fisicamente, sexualmente, culturalmente, politicamente, ideologicamente ou socialmente entra na sua cabeça? Este casulo?

Pois foi mais um 7 a 1 que o Brasil tomou, desta vez com a péssima repercussão conseguida pelos brasileiros. Foi uma vergonha – para quem tem vergonha na cara – e que causou indignação naqueles que sofrem  com a falta de respeito generalizado que assola o país. Uma nação em que na falta de um debate político sério, para mudanças do status quo que enfrentamos, com tanta maracutaia, como nunca antes na história (como diria o rei da manobra ilícita), vive de fake news e de atos espúrios.

Um país que não tem a menor noção do que é democracia, confundindo-a com o direito egocêntrico do primeiro eu e depois os outros, sem ter a noção que o seu direito termina quando começa o dos outros. Com uma grande parcela de jovens que não sabem o que é uma ditadura e a reverencia. Um Brasil formado por alcateias que uivam para a lua, sem saber direito pelo que está latindo. É justamente a falta de perspectiva política e deficiência cultural que conduz ao que se está sendo visto nas redes sociais, a partir da Copa do Mundo da Rússia. Esta que deveria ser o centro do universo, voltada para conjugação de valores positivos. Um sítio onde as diferenças fossem anuladas. Uma chance para que o nacionalismo, a xenofobia, a misoginia, os preconceitos fossem atolados, enterrados e anulados.

O brasileiro cordial, tão afirmado por Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil não passa de um mito. O conceito cai por terra, agora absolutamente, depois da passagem dos brazucas pelo leste europeu. Só se confirma que o brasileiro é sem noção e exercita isso sempre que tem oportunidade. O que por lá aconteceu é mero espelho do que vem acontecendo em nosso território e no espaço espectral, de ninguém, que é a internet, onde o bullying, a brincadeira sem graça, a brincadeira ofensiva, a falta de respeito grassa e o cara se acha cheio de graça.

Mas, como fazer para que isso possa mudar é difícil de saber, pois os jovens aprendem com seus familiares, com os péssimos políticos, com escolas ruins, faculdades que são cacetes armados e uma Justiça que tarda e falha, onde seus componentes dão o mau exemplo. Somos um país em que vale o gol roubado. Do levar vantagem. Que bate em mulher. Mata LGBTs. Da carteira de estudante falsificada. Que rouba donativos. Do jeitinho brasileiro que leva o casal a dividir a compra do supermercado em dois carrinhos, para passar no caixa de compras pequenas. Do cara que ganha Bolsa Família, arruma emprego, mas dá um jeito de continuar recebendo em prejuízo de outra família que precisa. Do policial que aceita um por fora. Do(a) motorista que usa vaga do idoso. Que não para na faixa. O brasileiro tanto lá na Rússia, como por aqui, está mesmo por fora da nova ordem mundial. Da educação doméstica. Cru.

Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista