Mãe de Paulo Gustavo fala sobre morte do ator e promete ser voz atuante no Brasil

Em entrevista ao Fantástico, Dona Déa desabafa contra corrupção e preconceito. Ela conta que se despediu do filho com a oração de São Francisco  

Publicado em 9 de maio de 2021 às 16:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TV Globo

Dona Déa Lúcia, mãe do humorista Paulo Gustavo, morto na última terça-feira (4), vítima da covid-19, falou pela primeira vez com a imprensa, após a morte do filho. Em entrevista, que foi ao ar neste domingo (9), no Fantástico, da Rede Globo, Dona Déa fala sobre como tem enfrentado a perda do filho.

"Eu vou falar. O meu filho merece que eu fale. Eu fiquei durante 53 dias rezando, pedindo a Deus que me desse força. A morte é uma coisa certa na vida da gente, mas a gente só espera que uma mãe vá na frente do filho porque é muito duro. Não estou bem, mas eu sou capaz de rir. Eu, quando falo dele, eu conto as coisas, eu rio, porque ele detestava quando eu chorava. Ele dizia: 'lá vem mamãe'. Então, eu tenho que ter força, Renata" disse a mãe do humorista, que foi inspiração do ator para um dos seus mais famosos personagens: Dona Hermínia. A mãe do humorista agradeceu ao carinho dos brasileiros e disse que não tinha noção do que o filho representava para o país. "Eu quero agradecer ao povo brasileiro todo apoio que me deu, pelas orações o tempo todo. Eu não sabia o tamanho do que meu filho representava. Ele passou com um cometa. Ele estreou no dia 4 de maio, às 21h e morreu no dia 4 de maio, às 21h12 da noite. Ele começou e terminou um ciclo. Ele foi muito incrível", contou. Déia falou sobre a inspiração do ator para fazer Dona Hermínia. “Ele falou: ‘vou escrever uma peça sobre você, vou ficar rico'. Quando eu olhei, falei: 'não vai dar certo'. Ele disse: 'mas essa mulher é você'. Era eu, minha mãe, minha avó. Todas as mulheres da família", falou. A mãe do humorista também fez um apanhado sobre a vida do filho no combate ao preconceito e prometeu ser uma voz atuante no Brasil contra a corrupção. Estou triste, mas muito triste, mas meu filho deixou um exemplo maravilhoso contra o preconceito. Meu filho casou, constituiu família, meu filho foi amado. Ele constituiu tudo. Eu tenho dois netos maravilhosos. Mas isso tudo porque ele teve uma família, que segurou, que deu amor a ele. Durante um ano, a gente viajando pelo país com a peça, antes das crianças nascerem, eu terminava o espetáculo falando que a homofobia era crime e que a corrupção mata. Roubar na pandemia é assassinato. Eu chorei com cada mãe que perdeu filho nessa pandemia, e vou continuar chorando, mas essa luta vai ser minha, eu vou lutar o tempo todo. A cada morte de um filho na pandemia, eu chorava por essa mãe, sem saber que meu filho ia passar por isso". Para ela, Paulo Gustavo só pode ser definido de uma forma. "Eu só posso definir o Paulo como amor", disse.   Dona Déa também falou como foi a despedida da família, após receber a notícia da morte cerebral. Além dela, Thales Bretas, viúvo do humorista, Juliana, irmã, Júlio, o pai, e Penha, a madrasta, estavam presentes. Dona Déa conta que ao lado da madrasta de Paulo cantou a oração de São Francisco, que era uma canção sempre pedida pelo ator para a mãe.   "A gente foi chamado no hospital, porque ele teve morte cerebral. E nós quatros, Juju, Júlio, eu e Penha ficamos ali. Juliana com a mãozinha dele. O Júlio segurou em uma mãozinha, eu na outra. O Thales no pé, e o Júlio fazendo carinho na cabeça. Eu chamei Penha, vem cá Penha, segura aqui comigo porque você também participou da vida dele. Aí cantamos a oração de São Francisco, que ele sempre pedia, desde pequeno, para cantar. E eu cantava. O batimento foi diminuindo" contou Dona Déa. Segundo ela, a família ficou ao lado do ator até que os batimentos fossem zerados. Nesta segunda (10), o Santuário Santa Dulce dos Pobres realiza, às 8h30, uma missa de sétimo dia em memória do ator e humorista Paulo Gustavo. O humorista era devoto da santa baiana e benfeitor das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).