Mainha gosta assim ou como a pipoca de Ivete é para os fortes

Não tem abadá? Cola na corda, no beco

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  • Fernanda Santana

Publicado em 3 de março de 2019 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Aqui é um bom lugar. Sim, aqui, entre a corda e a calçada, perto do beco do Off. Quer dizer, começou a encher. Muito cheio, muito quente. E agora? Olha lá, em cima do trio, Ivete Sangalo. Bom, o único jeito é pular junto e espremido. A pipoca de Ivete é e foi a prova viva da divisão de Salvador em duas espécies: os que acham que não há folia sem a cantora e os que têm certeza. As dúvidas, se um dia existiram, cessaram quando a corda do bloco subiu.

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O folião da pipoca de Ivete Sangalo é, antes de tudo, um forte. Primeiro, porque quando os cordeiros erguem as cordas, o espaço do lado de fora é mínimo. Segundo, porque depois de um ano afastados da cantora, tudo estava ainda mais intenso. Algo parecido com a inesquecível pipoca do Chiclete com Banana, nos tempos áureos da banda. “É o amor que deve levar a gente para frente. Nesse calor, sol quente”, disse o estudante João Marcelo, 18 anos, não por acaso integrante de um fã clube chamado Hospício Sangalo. 

Não seria a falta de dinheiro suficiente que iria murchar a pipoca da cantora, de volta ao Carnaval depois de dar à luz, justamente na folia do ano passado, as gêmeas Helena e Marina. Neste sábado (2), o abadá chegou a custar R$ 1 mil. No início das vendas, saia por, no mínimo, R$ 700. Então, o folião vira quase cordeiro. É colado na corda que ele segue o percurso.“Ainda ‘tô’ pagando a gravação do DVD em São Paulo. O que não dá é perder o retorno dela. Ano passado foi horrível”, afirmou Renan Roberio, 22, no ritmo da multidão.É quando encontramos Caren Pizzoni, 46, paulista cheia das manhas. Primeira vez no Carnaval de Salvador, apesar de compor a legião de apaixonados por Ivete.“Roupa confortável e tênis. E ser levada pela galera”, recomenda ela, ao lado da irmã. O folião pipoca de Ivete é, antes de tudo, um forte. Já pensou ficar aí embaixo? (Foto: Betto Jr./CORREIO) Para quem não aguentou, mesmo com a receita, acompanhar a pipoca, restaram os becos. A autônoma Rita Silva, 51, balançava em um deles quando foi interrompida. Foi ao Carnaval só para acompanhar Ivete passar. “Ela é quem dá essa energia, é a energia do povo. Não tem como nada diferente”, disse, antes de notar que o beco estava mais cheio. Era o trio que se aproximava.  

Quando o caminhão se aproxima, qualquer movimento é impossível. Quem tentou sair não conseguiu voltar. Por isso, foi necessário escolher, e bem, um lugar. “Eu sempre fico na frente. É mais tranquilo. Mais para trás é muito empurra-empurra”, contou Roquineia da Cruz, 41. No lugar onde Roquineia dava as recomendações, no entanto, nenhuma tranquilidade. 

Ao lado direito da corda, está Maria Joana, 46. Luva nas mãos, mochila nas costas e uma certeza: “Eu só saio com Ivete e sou cordeira há 10 anos. Só não sai ano passado porque não teve como, né? Claro que a gente tá aqui porque precisa, mas o amor não tem preço”, disse. Atrás, Célia de Deus, 27, tão fã de Ivete quanto a amiga Maria, que conheceu justamente no trabalho no Bloco Coruja.“Ô, meu pai, ano passado eu sai foi tão desanimado. Esse ano a gente tá é feliz porque ela voltou”, complementou.  Até os cordeiros comemoram a volta de Ivete: todo mundo é fã da cantora (Foto: Betto Jr./CORREIO) É como se, no comando das cordas, estivessem outros integrantes do Hospício Sangalo, o fã clube do jovem Marcelo. Mesmo quem, há mais de 20 anos, trabalha como coordenadora dos cordeiros do Coruja, se espanta. “Nunca vi nada parecido. Acho que é porque ela trata a gente bem. É todo mundo fã, eu também”, admitiu Maria Pilar, 58. A coordenadora até arrisca palpites oficiais, depois de a reportagem perguntar se são todos fãs de Ivete:“Não tenho dúvida que no mínimo 99%. Vá ver por aí”.   Fomos ver. No primeiro ano de Diana dos Santos, 20, como cordeira, veio a “sorte de ser chamada logo para o bloco dela”. “Como não conhecia ninguém, nem tinha como pedir para ficar aqui. Mas aconteceu, fiquei feliz”, afirmou, tão alto quanto podia para vencer o volume do trio. “Mas bote o nome de outra pessoa aí, Wesley Sangalo. Meu amigo... Opaí, até o nome Sangalo o cara botou”, pediu Diana. Wesley não conseguiu sair como cordeiro nem folião de Ivete neste Carnaval.   

Muitos empurrões e duas canetas perdidas depois, a reportagem encontra Ricardo Lima, 35. Tenta vencer o fluxo para chegar à frente do bloco quando comenta, junto ao amigo Rodrigo Reis, 25: “Já tô puto aqui que não consegui pegar a concentração”. Então, Ivete passa e deixa os dois extasiados. “Oh, como ‘tô’ arrepiado”, mostrou Ricardo, quando a cantora entoava “Faraó”. Os dois decidem que precisam partir se quiserem chegar a tempo. E é melhor ser rápido. Logo atrás vem Bell Marques.