Maior banco do país manterá investimentos no agronegócio

Apesar do clima de incerteza na economia mundial, conglomerado financeiro confirma manutenção de créditos rurais

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  • Georgina Maynart

Publicado em 11 de agosto de 2018 às 06:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: divulgação)

O clima é de incerteza ne economia brasileira e mundial. Os agentes financeiros estão atentos aos fatores que podem provocar fortes impactos sobre a produção agrícola, como as mudanças climáticos, o mercado mundial de petróleo e a instabilidade no preço dos fretes. Apesar deste cenário exigir cautela, o maior banco privado do país, o Itaú, confirmou que manterá os investimentos e sua política de crédito e financiamento para o setor agropecuário brasileiro. As informações foram detalhadas por executivos da instituição financeira durante o Agro em Pauta, evento realizado em São Paulo.

Os executivos do conglomerado apresentaram as projeções para os próximos dois anos, com base em dados econômicos, no comportamento do mercado e tendências do setor.

“A nossa carteira de crédito é de R$ 30 bilhões. Nós consideramos o setor agroindustrial uma importante vertente de crescimento para o banco, levando em consideração que representa 22% do PIB brasileiro. Nos últimos anos aumentamos em 70% a carteira de financiamento para a produção rural. Nós vamos manter estável a nossa participação, e vamos continuar apoiando os nossos clientes como temos feito nas últimas duas décadas”, afirmou Pedro Fernandes, diretor de Agronegócio do Itaú BBA.

O anúncio é favorável aos agricultores do Nordeste. O grupo começou a atuar na região há 3 anos e atualmente destina 20% da carteira de crédito para o Matopiba, área que abrange alguns municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e o Oeste da Bahia. O Matopiba é a última fronteira agrícola do Brasil, onde a agricultura ainda tem espaço para se expandir dentro das normais legais de ocupação do território.

Os executivos fazem parte da equipe de consultores do Itaú BBA, braço da corporação que atua no atacado, junto a produtores rurais empresariais, oferecendo serviços financeiros, desde proteção de preço até fusões e aquisições.

Fatores de risco 

As projeções apresentadas durante o evento apontam cautela em relação aos principais fatores que interferem nas commodities agrícolas, principalmente a soja, a cana-de-açúcar, o café e o algodão. Os especialistas indicam que é preciso ficar atento aos agentes que podem provocar impacto na produção agrícola, desde a variação do dólar até as incertezas geradas pela guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.

“É um nível de incerteza muito maior para a agricultura do Brasil. Nós encaramos como um fator de risco, desconhecer como será o futuro. É muito difícil ter um posicionamento e saber em que seremos fortes e em quais segmentos. Pode significar oportunidades ou grandes riscos”, afirma Pedro Fernandes, diretor de Agronegócio do Itaú BBA.

A dica é observar o mercado, tentar antever as dificuldades e ficar atento as oportunidades. “A queda dos estoques de muitos produtos no mundo e a crescente demanda global pode gerar oportunidades para o Brasil, onde será mais fácil aumentar a produção. Em relação ao dólar, fica difícil projetar, mas o importante é continuar acompanhando. Tanto pode haver queda, como pode haver uma reversão nas taxas. Essencial continuar de olho”, acrescenta o economista Artur Passos.

Os indicadores também mostram que a produção de grãos deve ultrapassar 227 milhões de toneladas no Brasil em 2018, e com preços elevados entre os principais produtos de exportação.

Para o analista de agronegócio, Guilherme Bellotti, este é o resultado do aumento de produtividade e da elevação dos preços. Uma combinação que forma uma conjuntura considerada excelente para capitalização do agricultor brasileiro, mesmo diante de um cenário de volatilidade. “As margens de lucro direto de lavoura estão sendo bastante elevadas, tanto no caso da produção de algodão, como entre os produtores de soja. Foi um ano espetacular para fortalecimento do caixa dos produtores rurais”.

As consequências da greve dos caminhoneiros também estão sendo contabilizadas. Bellotti acredita que o setor foi prejudicado de várias formas pela paralisação. “Os atrasos na chegada de fertilizantes e agrotóxicos até o destino final, a dificuldade na comercialização de produtos acabados da safra atual e a redução da oferta para vendas antecipadas da próxima safra, são alguns dos legados da paralisação a curto prazo”.

China

A China é hoje um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, responsável por consumir 30% da carne que o Brasil exporta. Por isso, para os consultores é preciso ficar de olho na guerra entre EUA e o país asiático. O assunto não deve ficar fora do radar.

Em meio a tanta indefinição, os instrumentos de fixação de preços e as estratégias de gestão de risco são apontadas como um caminho mais seguro para os produtores rurais.

São instrumentos que podem garantir menos solavancos na questão do preço do produto, como a compra antecipada de fertilizantes, a diversificação dos credores, a obtenção de maiores prazos de pagamento, e a proteção dos resultados com um princípio já muito utilizado no mercado que é o hedge. O travamento de preço para uma data futura.

No mercado de ações esta já é uma estratégia comum, principalmente entre os produtores de soja. O produtor rural paga pelo direito de comercializar o produto no mercado futuro por um preço definido antes. A depender da situação, o agricultor pode exercer ou não este direito. É como se o produtor comprasse o direito de comercializar em determinado preço.

“Gestão de risco é uma necessidade muito presente na vida do produtor rural. A gente está num ambiente de muita incerteza. Então numa cultura anual, onde você tem custos agora, custos indexados à taxa de câmbio e você vai ter uma colheita daqui a um ano, com esta conversão totalmente incerta, neste momento é mais indicado ainda para você partir para uma política de gestão de riscos mais ativa. A gente vem caminhando para que isso venha se difundindo, mas ainda tem espaço para se desenvolver entre os produtores rurais, afirma Renato Collaço, especialista em gestão de risco e Superintendente de clientes do Itaú Unibanco.

“Nós temos no meio do caminho uma eleição indefinida, que aumenta o risco e potencializa o fator interno. Nós estamos plantando uma safra, com uma taxa de cambio de R$ 3,70 a 3,80. E nós falamos desta colheita com muita incerteza, ainda em outubro. Prever uma taxa de câmbio tem sido um trabalho árduo, e as previsões ficam mais difíceis. Diante de tantas incertezas, gerenciar os riscos se torna muito relevante para os participantes desta cadeia, para que estes fatores de risco sejam mitigados ao longo do tempo”, pontua Collaço.

*O primeiro ponto é aprofundar as informações a respeito destes riscos. Feito isso, é necessário identificar qual deles é o mais relevante para o seu negócio. Por exemplo, avaliar o impacto da taxa de câmbio ou da mudança o preço do produto no resultado. A partir daí discutir com os parceiros quais os instrumentos que estão disponíveis para mitigar estes riscos. No Nordeste, isto se torna ainda mais importante pela região já está exposta a variação climática, um fator de risco que ninguém consegue controlar”, acrescenta.

As mudanças no perfil do gestor também devem se consolidar e influenciar nos negócios. “A gente está passando por uma fase em que tinha apenas o agricultor pioneiro, que foi plantar soja no cerrado, por exemplo. Agora ele passa a ser um gestor que tem sócios. É uma mudança no perfil da gestão das propriedades, uma alteração cultural importante. Para quem faz bem isso, combinando bem com seus sócios, o índice de acesso aos benefícios tende a ser bem maior, quando um risco ou outro se delinear. Tem a ver muito com governança corporativa”, acrescenta Pedro Fernandes.

Resumo de projeções do Itaú BBA

Tendências e Projeções para o agronegócio:

Trigo: Queda na produção do leste europeu e nos estoques globais.

Açúcar: Balanço global indica excesso de estoques no mundo. Estimativa de 17 milhões de superávit. Quadro desafiador nos próximos dois anos.

Café: Perspectiva de excedente em 2018. Mas com política de hedge mais sólida.

Milho safrinha: Margens menores na safra 2018/2019, mas ainda boas. Safra pode alcançar 28 milhões de toneladas mas com viés para baixo.

*A repórter viajou a convite do evento