Maior zona eleitoral da cidade, Cajazeiras vira ponto de encontro

Zona tem mais de 141 mil eleitores

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 7 de outubro de 2018 às 17:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Antes mesmo que os portões abrissem, a cuidadora de idosos Delza Pereira, 61 anos, já estava animada. O primeiro turno das eleições, neste domingo (7), pode até significar a tal ‘festa da democracia’, mas, para Delza, também é o dia de sair da rotina. 

“Eu estou operada, mas não deixo de vir. Gosto da multidão, gosto de ver gente que a gente não vê há muito tempo”, dizia, enquanto esperava para a filha concluir a votação, no Colégio Estadual Edvaldo Brandão, em Cajazeiras IV. O bairro é um dos que compõe a Zona 8 de Salvador: essa, segundo o TSE, é a zona com o maior número de eleitores na capital. 

São mais de 141 mil divididos entre Cajazeiras, Cajazeiras IV, Cajazeiras V, Cajazeiras VI, Cajazeiras VII, Cajazeiras VIII, Cajazeiras X, Cajazeiras XI, Palestina, Valéria e Águas Claras. Se para muita gente, isso pode significar apenas uma lista de bairros, para dona Delza, representa a chance de encontrar muitos rostos conhecidos. “Cara feia, cara bonita, amigos, vizinhos... Todo mundo”, explica ela, que foi a terceira a votar, em sua seção, no Colégio Estadual Dona Mora Guimarães.Depois, foi acompanhar a filha, a atendente da Superintendência de Atendimento ao Cidadão (SAC) Débora Pereira, 21. Foi ela, inclusive, que insistiu para que a jovem não deixasse de comparecer às urnas. Débora estava votando pela primeira vez.  Dona Delza convenceu a filha, Débora, a votar (Foto: Roberto Abreu/CORREIO) Ao CORREIO, a jovem explicou os motivos para evitar o pleito. Não gosta da polarização que o país está vivendo. “O povo está muito dividido, mas minha mãe me convenceu. Eu demorei até para tirar o título, só vim votar pela primeira vez agora mesmo”. 

Nas primeiras horas da manhã, as filas que chamaram atenção ao longo do dia não tinham chegado a Cajazeiras ainda. A mesária Franciely Andrade, 18, estava até surpresa. Em sua seção, no Colégio Estadual Edvaldo Brandão, até as 9h, não havia fila. “É uma zona bem cheia, mas até agora não teve problema nenhum”, contou. 

O servente Jaime Santos, 38, também estranhou a situação. Achou o movimento ‘fraco’, especialmente se comparado às últimas eleições. “Lá em cima era um barulho, muita gente, cheio de coisa. Esse ano, não”. 

Ressaca ou fila A vigilante Cristiane Nascimento, 33, tinha uma teoria: acreditava ser possível, às 10h, quando encontrou o CORREIO, boa parte dos moradores do bairro ainda estivesse de ressaca. “Teve um partido aqui, ontem à noite, uma banda no estacionamento, aí terminou tarde”, explicou. À frente da barraca de lanches do pai, ela esperava o aumento do movimento no Colégio Estadual Rafael Oliveira, em Cajazeiras VIII. 

Abriu a mala do carro, estacionado ao lado, e colocou um pagode para tocar. A potência era tão grande que podia fazer inveja a muito paredão de som. Ela tinha certeza de que os vizinhos seguiriam para a cervejinha logo após cumprir o dever cívico.  Cristiane esperava que o movimento na banca aumentasse (Foto: Roberto Abreu/CORREIO) “Nunca votei em um lugar que não fosse Cajazeiras, mas aqui é tudo em casa. Todo mundo vem para cá: gente que foi morar em outros bairros, gente que se mudou para outras cidades e a gente não vê há anos. Cajazeiras vira ponto de encontro”, garantiu. Mesmo assim, ela também achou que a votação andou mais fraca esse ano. Em outros momentos, a rua estava tão cheia que mal dava para os carros passarem. “Era tanta gente que ficava apertado, mesmo esse horário, agora de manhã. Era cheio de bandeira, gente fazendo boca de urna. Esse ano, nem estou vendo isso”. 

O que Cristiane não sabia é que muita gente ainda não tinha partido para a cervejinha – ou para outros programas e obrigações – porque estava presa nas filas. Dentro do próprio Colégio Estadual Rafael Oliveira, tinha confusão de todos os tipos: de filas duplas a urnas quebradas. 

A gerente de restaurante Ana Paula Santos, 41, chegou na escola por volta de 8h. Às 9h30, continuava na fila. Reclamou da desorganização; para ela, era mais um sintoma da mudança na alocação nos eleitores. Ao longo do dia, foram dezenas de relatos de gente que sequer sabia onde votar. 

A própria Ana Paula votava em Cajazeiras VII. Lá, explicou, as coisas eram mais rápidas. Nunca passou mais do que 20 minutos esperando. “É uma desorganização terrível. Nem eles sabem dizer das filas. Tenho que estar às 11h no trabalho e ainda não consegui sair daqui”. O rodoviário aposentado Vanivaldo da Silva, 68, estava na mesma situação. “A fila está dando voltas e a gente não sai daqui”, criticou.  Colégio em Cajazeiras teve filas e urna quebrada (Foto: Roberto Abreu/CORREIO) Foi na seção 297 que uma urna quebrou. A fila de espera tinha mais de 50 pessoas. O motorista Eronildes Andrade, 63, chegou às 7h30 e, às 10h, ainda não tinha entrado. “Eu era o décimo da fila, por aí. Eles nem explicaram nada. A fila já está dando voltas. Há 20 anos voto aqui, mas não era tão cheio. Encheu por causa da biometria”, diz. A doméstica Luciene Santos, 57, também chegou perto das 8h e, às 10h, não tinha votado. “Teve muita gente que foi embora, que disse que ia voltar a tarde”. 

O motorista Sidclei Santos, 43, também chegou às 8h20. “Eu votava no Iceia e me trocaram para cá. Não vou embora porque não adianta voltar para casa agora, ainda mais sem guarda-chuva”, explica.