Mais de 950 mil baianos devem tomar a 3ª dose contra a covid-19 a partir de setembro

Dose de reforço deverá ser com imunizante da Pfizer para idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 25 de agosto de 2021 às 21:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A Bahia vai começar a aplicação de uma terceira dose contra covid-19 a partir do dia 15 de setembro. Cerca de 950 mil baianos devem ser contemplados pela decisão. A dose de reforço será para idosos a partir de 70 anos que já se vacinaram há pelo menos seis meses e imunossuprimidos de todas as idades que receberam a segunda dose há, no mínimo, 28 dias. O imunizante utilizado será o da Pfizer e, caso necessário, também o da Janssen ou Astrazeneca. 

O estado acompanhará a determinação do Ministério da Saúde. Nesta quarta-feira (25), a pasta anunciou a autorização para aplicação da terceira dose e informou que a data foi escolhida porque, até lá, toda a população acima de 18 anos no Brasil já deve ter sido imunizada com ao menos uma dose. Países como Uruguai, Hungria, Israel e Chile já iniciaram a aplicação da dose de reforço. Neste último, os idosos imunizados com a Coronavac estão recebendo uma terceira dose de Astrazeneca. 

A decisão se dá porque, segundo estudos, após um tempo, qualquer vacina apresenta uma queda em sua capacidade protetora; algumas mais do que outras, algumas em menor tempo do que outras. Além disso, a experiência com outros imunizantes mostra que idosos e imunossuprimidos costumam ter uma resposta mais baixa às vacinas, em comparação ao restante da população. 

“Israel logo vacinou quase 80% da população acima dos 12 anos de idade e estudos lá concluíram que, depois de seis meses, a imunidade começa a cair. Esse tempo depende muito da vacina e do patógeno. O novo coronavírus ainda é recente, já avançamos muito, mas ainda há coisas desconhecidas. O que sabemos é que a imunidade adquirida pela infecção ou pela vacina é passageira, mas ainda não sabemos o porquê. Precisamos avançar nos estudos para conseguir mais respostas”, justifica a infectologista, imunologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Fernanda Grassi. 

A dona de casa Anita Matos tem 71 anos e não vê a hora de poder receber o reforço na imunização. Ela diz que já se sente protegida com as duas doses que tomou, mas que uma terceira trará ainda mais segurança. “Assim que eu soube da notícia já disse ao pessoal aqui em casa que meu braço já está pronto esperando a vacina chegar. Se é para o bem, vamos tomar. Meu lema é fé em Deus e vacina no braço!”, diz ela, animada.

Ela recebeu a segunda dose da Coronavac em abril, mas afirma que não tem desconfianças em relação ao imunizante. “Eu confio na vacina. Continuo tomando meus cuidados, mas confio. Meu marido tomou a primeira dose de Oxford e pegou covid depois, mas, mesmo eu dormindo ao lado dele, eu não tive nada. Ele também tem comorbidades, mas ficou tudo bem. Então a gente tem que acreditar na ciência. Comigo não tem isso de escolher vacina”, completa Anita.

A Bahia tem 884.721 idosos acima dos 70 anos vacinados com a primeira dose. Desses, 851.619 estão vacinados com as duas doses ou com a dose única. Em relação aos imunossuprimidos, o estado tem 64.961 vacinados com a primeira dose e 24.411 com as duas doses ou dose única. 

Em Salvador, o público previsto para receber a dose de reforço é de cerca de 190 mil pessoas. No município, 174.490 com mais de 70 anos receberam a primeira dose e 165.744 receberam as duas doses. Quanto aos imunossuprimidos, 16.427 receberam a primeira e 10.791 a segunda. 

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, comentou o anúncio e afirmou que a cidade está preparada para fazer a aplicação. “Já poderíamos estar vacinando essa semana adolescentes de 17 a 12 anos, e teríamos a condição de já na semana que vem começar uma terceira dose nos idosos. Todas as doses que chegam a Salvador ficam retidas 50%, então, está garantida a segunda dose para imunizar o restante da população”, afirmou.

Ele frisou que cada município vive uma realidade diferente sobre o processo de vacinação e que é preciso levar essa variedade em consideração. Segundo os dados da prefeitura, a capital baiana está com 93% da população acima de 18 anos imunizada com a primeira dose e 40% com a proteção completa.

No início da semana, a secretaria municipal de Saúde do Rio de Janeiro já tinha anunciado que planeja iniciar em setembro a aplicação da terceira dose da vacina contra a covid-19 aos idosos a partir de 60 anos que tenham tomado a segunda dose há pelo menos seis meses. Os primeiros a ser atendidos serão idosos que estão em instituições de longa permanência, como asilos e casas de repouso. A vacinação será feita com doses das vacinas Pfizer ou AstraZeneca, independentemente da vacina recebida pelo idoso nas duas doses anteriores.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, tem sido cautelosa. Para a entidade, não é hora de se falar em uma terceira dose quando boa parte dos países pobres não consegue nem mesmo sair dos primeiros dígitos de percentual de vacinação de suas populações. O Brasil ainda está longe de completar a imunização da maioria das pessoas. De acordo com a barra de progresso do Vacinômetro Brasil, até esta quarta-feira (25), 61,12% da população brasileira tinha recebido ao menos a primeira dose da vacina e 26,55% receberam as duas doses. 

Mas e os adolescentes?

Segundo a Sesab e a Secretaria de Saúde de Salvador (SMS), ainda não há previsão para o início da vacinação de adolescentes entre 12 e 17 anos sem comorbidades. Aqueles que possuem alguma deficiência ou comorbidade estão sendo vacinados no município desde segunda-feira (23), após a prefeitura ter liberado a vacinação para toda a população adulta.

Para a imunologista Fernanda Grassi, os adolescentes podem esperar e a prioridade agora é o reforço da vacinação de idosos e imunossuprimidos. “Em um cenário no qual não temos vacina para todo mundo, precisamos ver quem iremos priorizar. Os adolescentes ainda têm muito menos ocorrência de casos graves e mortalidade, então eu acredito que devemos priorizar os grupos que são mais vulneráveis, que são as pessoas mais velhas e os imunossuprimidos. Elas precisam receber a terceira dose. Os adolescentes precisam também ser vacinados, mas, se não tiver vacina suficiente para todo mundo, é preciso escolher”, afirma. 

A SMS informou que o início da estratégia de imunização dos adolescentes de 12 a 17 anos no município depende da autorização conjunta do Ministério da Saúde e da Comissão Intergestores Bipartite (CIB).   A Sesab disse que ainda não tem data prevista para vacinação desse público e que o Governo da Bahia entrou na Justiça para requerer mais de 1 milhão de doses da vacina contra a covid-19 que não foram entregues pelo Governo Federal, tendo como critério o percentual populacional. De acordo com o órgão, esse déficit tem prejudicado o ritmo da vacinação no estado, com diversos municípios ainda aplicando a primeira dose em faixas etárias acima de 25 anos. Outras unidades da federação, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul receberam, respectivamente, 2,1 milhões, 1,1 milhão e 1,1 milhão de doses a mais do que o percentual populacional.

Mudança no intervalo entre doses

O Ministério da Saúde também anunciou nesta quarta que, a partir do próximo mês, o intervalo entre as doses da Pfizer e da AstraZeneca passará de 12 para 8 semanas para toda a população. A medida tem o objetivo de promover uma melhor proteção contra a variante Delta, que fura o bloqueio promovido somente por uma dose. 

A bula do imunizante da Pfizer prevê a aplicação da segunda dose 21 dias após a primeira. No entanto, no Brasil, o Ministério da Saúde seguia o intervalo de 90 dias, com base em uma experiência feita no Reino Unido. Em relação à Astrazeneca, testes iniciais previam a administração da segunda dose após 28 dias. Atualmente, diversos países seguem com o prazo de aplicação de três meses entre as duas doses.

Segundo a infectologista, imunologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Fernanda Grassi, a redução do intervalo não é o ideal, mas é uma medida necessária em um cenário em que a variante Delta chega com força. “No curso da vacinação, foi percebido que um intervalo maior era melhor para a eficácia da vacina e, aliado a isso, era melhor por conta da escassez dessas vacinas. Aí foi feito um ajuste. Mas o que está acontecendo agora é que temos a variante Delta e estudos já observaram que uma única dose da vacina tanto da Pfizer quanto da Astrazeneca não é suficiente para proteger contra ela”, explica.

A variante Delta, que já chegou ao Brasil, é uma grande preocupação por ser extremamente transmissível e poder causar quadros graves em quem não está vacinado ou tem apenas uma dose. “Temos que correr. O sul dos Estados Unidos está vivendo uma catástrofe, com lotação de UTIs e grande número de pessoas morrendo porque a cobertura vacinal nessa região é muito inferior a do norte do país. Aqui no Brasil temos cerca de 30% da população com duas doses. Ainda é um número baixo para enfrentar a variante Delta”, alerta Fernanda. 

A pesquisadora afirma que nenhum país já está livre do coronavírus e que é preciso que a vacinação seja universal. “Os Estados Unidos e a Europa tinham avançado na vacinação e se acreditava que a doença estava controlada nesses locais. Mas não é bem assim. Precisamos sempre lembrar que, nesse tipo de doença, temos um problema mundial. Não adianta você vacinar a sua população se o resto do mundo não está vacinado. A Delta apareceu na Índia e se espalhou. Enquanto a gente não distribuir essa vacina para o mundo inteiro, novas variantes vão surgir em um lugar ou outro e ser transportadas junto com as pessoas”, finaliza. 

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro