Manifestantes incendeiam Congresso paraguaio; ativista morre em confronto

Invasão aconteceu horas depois de uma emenda constitucional que libera a reeleição presidencial ser aprovada

Publicado em 1 de abril de 2017 às 07:55

- Atualizado há um ano

Centenas de pessoas invadiram e puseram fogo no Congresso do Paraguai na noite desta sexta-feira (31), horas depois de uma emenda constitucional que libera a reeleição presidencial ser aprovada pelos senadores partidários do atual presidente do país, Horacio Cartes. No total, 25 dos 45 senadores foram a favor da aprovação da polêmica emenda.

Questionando o modo como a reeleição foi aprovada e acusando a manobra de "golpe parlamentar", manifestantes romperam a barreira policial em uma batalha campal na qual as forças da ordem dispararam balas de borracha, lançaram gás lacrimogêneo e acionaram jatos de água.(Foto: Cesar Olmedo / AFP)Os manifestantes destroçaram vidraças do edifício, no centro histórico de Assunção, e queimaram as portas de entrada, além de lançar morteiros e pedras contra a polícia. Durante as primeiras horas de manifestações, 12 pessoas ficaram feridas. 

No confronto, um jovem de 25 anos, líder da Juventude Liberal do distrito de La Colmena, morreu após ser baleado na cabeça. O tiro que atingiu Rodrigo Quintana teria sido disparado por um policial, de acordo com a imprensa paraguaia. O jovem foi levado ao Hospital de Traumas, mas não resistiu ao ferimento e morreu.

Os incidentes começaram depois que os 25 senadores votaram a favor do projeto de emenda nas dependências da Frente Guasú, do ex-presidente Fernando Lugo, e sem a presença dos demais legisladores e do presidente do Senado, Roberto Acevedo.

O partido de Lugo aprovou a emenda para que o ex-bispo possa concorrer nas eleições de 2018, e o Partido Colorado para que o atual presidente do Paraguai, Horacio Cartes, possa fazer o mesmo. A atual Constituição paraguaia proíbe a reeleição presidencial.

Por outro lado, o Partido Liberal, o maior da oposição, e outras forças opositoras, alegam que a emenda é anticonstitucional como meio de facultar um segundo mandato presidencial.

Diante da violência dos protestos, a Câmara de Deputados –onde Cartes tem maioria– cancelou a sessão que estava marcada para a manhã de sábado (1º) para aprovar o projeto e enviá-lo à sanção presidencial. Em Ciudad del Este, centenas bloquearam a Ponte da Amizade, na fronteira com Foz do Iguaçu (PR).

Em uma rede social, Cartes culpou os senadores da oposição e os meios de comunicação críticos a ele pelos episódios de violência. Segundo o presidente, esses grupos "buscam destruir a democracia e a estabilidade política e econômica do país". Ele, porém, não fez menção à aprovação da emenda que, se confirmada, lhe permitirá concorrer a um novo mandato –o atual termina em 2018.