Manipulação não é o mesmo que fake news, alerta professor sobre redação

Tema do Enem deveria ser discutido de forma mais abrangente

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  • Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2018 às 18:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arqivo EBC

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano surpreendeu muitos candidatos. Apesar da discussão sobre o assunto ter sido frequente nos últimos anos no país, os professores ouvidos pelo CORREIO afirmam que ele deve ser encarado com certo cuidado.

A principal confusão que os candidatos podem fazer ao pensar sobre a manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet, é cair no senso comum e falar apenas sobre as fake news, que esteve em discussão no período eleitoral. De acordo com Vinícius Beltrão, consultor pedagógico da SAS Plataforma de Educação, parceiro do jornal no projeto Revisão Enem, falar sobre as fake news não é o erro, mas sim apenas falar sobre isso. 

“Os alunos devem compreender que as fake news são uma parte de um universo dos dados em rede. Se ela focar só nisso, pode fugir ao tema. E caso a pessoa venha a reduzir o assunto a isso e ainda ter um empobrecimento de argumentos, poderá zerar a redação”, ressaltou Beltrão.

Beltrão destacou que os candidatos poderiam argumentar que, mesmo que a atual geração tenha nascido na cultura digital, os usuários são, em sua maioria, leigos sobre a ocorrência de manipulação de dados. “A pessoa que navega na internet não sabe, na maioria das vezes, que existe um algoritmo e que as empresas pagam para ter esses dados. E que isso não acontece só na rede social e sim em qualquer site, app, enquete que você acessa. Falar sobre algoritmo era essencial”, disse.

Para argumentar melhor, os estudantes deveriam fazer uma análise global do tema. “Ao utilizar argumentos de convencimento, eles devem sair da vivência pessoal e analisar a repercussão nacional e questões globais sobre o tema”, afirmou o professor.

Nas intervenções acerca do assunto, Beltrão afirmou que os alunos poderiam propor, por exemplo, a discussão do tema nas escolas, com uma abordagem sobre como utilizar a rede de forma mais consciente. “O estudante pode propor iniciativas educacionais, como um programa de educação cibernética na qual professores trabalhem limites e possibilidades da internet, tecnologia e redes sociais dentro da sala de aula”, ressaltou.

O professor ainda acrescentou que os participantes do Enem poderiam discutir sobre a Lei Geral de Proteção de Dados, que foi sancionada pelo presidente Michel Temer neste ano e deve entrar em vigor dentro de dois anos. “Ao escrever a redação, exemplos devem ser evocados. Mesmo que a lei não estivesse no texto de apoio, falar sobre ela era importante porque existe o contexto do porquê ela teve que ser escrita, no que ela impacta. Se ela foi criada, houve um desvio comportamental que apresentou um perigo para a sociedade e a lei veio para resguardar um direito”, argumentou.