Maria Rita fala de Elis, Moraes e de samba com Joca Guanaes

Papo aconteceu no Segundou, live no Instagram do CORREIO

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Publicado em 16 de novembro de 2020 às 23:15

- Atualizado há um ano

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Para Maria Rita, o seu papel como artista não se limita a subir no palco e exibir seus dotes musicais. Para ela, ser artista é defender o legado cultural de uma nação e, no caso do Brasil, uma nação negra. Foi isso que ela fez questão de destacar ontem na live Segundou, em bate-papo conduzido por Joca Guanaes.

A paulista de 43 anos falou sobre como o samba começou a fazer parte do seu repertório e a importância do gênero para a cultura brasileira. Ela lembra que começou a perceber essa relevância quando, nos Estados Unidos, começou a frequentar um curso de Estudos Latino Americanos.“Comecei a entender o contexto histórico, social, político e racial do samba no Brasil e vim a entender o samba como identidade nacional. O Brasil é um país negro! Desculpa, elite, mas o Brasil é um país negro”, disse em um tom que mistrura ironia e advertência.Para mostrar que realmente é uma defensora do samba como exemplar da identidade nacional, a cantora lembrou de um episódio que marcou sua carreira. Na ocasião, ela estava negociando com uma empresa que seria parceira comercial num show do álbum Samba Meu, o terceiro de sua carreira, de 2007.

“Esse parceiro começou a dizer que estava tudo muito caro. Que a luz tava cara, que o cenário tava caro... Aí, eu disse: 'Não é porque estou fazendo samba que meu cenário vai ser amassado, que a luz vai ser pouca. Se fosse repertório de MPB, aí podia ser caro?”, questionou a cantora. O parceiro então abandonou o projeto. “Perco meu parceiro comercial, mas não perco meus credos”, afirma.

Elis Depois de 18 anos de carreira profissional, Maria Rita já pode se considerar livre da sombra da mãe, Elis Regina (1945-1982), para muitos, a maior cantora da história do Brasil. As comparações e cobranças, claro, eram inevitáveis no início da carreira, até que a filha provou-se realmente uma grande voz.

Quando Elis morreu, Maria Rita tinha apenas quatro anos de idade e pouco se lembra da mãe:“As histórias que conheço são contadas por amigos dela ou eu leio e sempre me emociono porque era uma mulher forte demais, à frente do tempo dela. Poder ouvi-la, poder vê-la falar é um presente que tenho. Muita criança que perdeu a mãe não tem esse presente”.Maria Rita se emocionou ao falar de Elis, claro. Mas a emoção foi ainda maior ao falar de Moraes Moreira (1947-2020), avô de sua filha, Alice, que completa oito anos em dezembro. A garotinha é filha da cantora com Davi, filho de Moraes. “Quando Moraes falava, ele era de um tamanho! Ele tinha um tamanho de voz, um tamanho de corpo... Tudo nele era superlativo”. 

“Foi um um privilégio ver o brilho no olhar dele com a neta, o xodozinho que era para ele”, disse, sem conseguir segurar o choro. A cantora disse que foi uma “sacanagem” Moraes ter morrido durante a pandemia, “sozinho”, sem ter podido receber as homenagens que merecia. “Foi um baque muito forte, é quase uma injustiça a gente não ter podido celebrar Moraes Moreira nas ruas. Mas Salvador ama Moraes e quando a pandemia aliviar, a cidade vai desmontar em homenagens”.

Ao comentar seu novo visual, de cabelo bem curto, Maria Rita criticou as cobranças que a sociedade faz sobre padrões estéticos femininos. “Isso é ridículo, cafonérrimo, ultrapassado”. Mas a cantora, que disse estar com sobrepeso, reconheceu que essa cobrança às vezes pesa sobre ela: “Quem olha pra mim nos discos antigos, diz 'coitada'... Então, às vezes me sinto insegura. Você perde o rumo de se fortalecer e focar no que é importante”. 

Na próxima semana, às 19h, no Instagram do CORREIO, Joca conversa com Jonas Bueno, que defilou em 2018 no Afro Fashion Day e está de volta à passarela do evento. Ele coordena o projeta Focus Moda, agência que leva modelos para o AFD.