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Marina é a única que pode herdar capital emocional de Eduardo Campos, diz especialista em política


 

Para o professor da Ufba, a ex-senadora deve se aproveitar do passivo emocional gerado pela morte de Campos para eliminar a resistência que parte do eleitorado tem a seu nome

  • Da Redação

Publicado em 15/08/2014 às 11:46:00
Atualizado em 14/04/2023 às 06:10:41

Professor de Comunicação e Política da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Wilson Gomes comenta nesta entrevista por e-mail os impactos que a morte de Eduardo Campos traz para o cenário da eleição presidencial. Segundo ele, a oficialização de Marina Silva como candidata é a melhor opção para o PSB. E a ex-senadora deve se aproveitar do passivo emocional gerado pela morte de Campos para eliminar a resistência que parte do eleitorado tem a seu nome.Wilson Gomes diz que uma candidatura da acreana não seria do PSB (Foto: Acervo Pessoaç)Apesar de ser o movimento natural, a indicação de Marina Silva para a cabeça da chapa do PSB não é automática. Que resistências ela deve enfrentar para ser efetivada como candidata?Se partirmos da notória premissa de que Marina  Silva está no PSB, mas não é do PSB, podemos imaginar toda sorte de resistências e desconfianças. Como dizem os pesquisadores da área de política, a opinião pública e os jornalistas costumam olhar para as novidades, as alterações, mas prestam menos atenção na estrutura, no jogo de tensões que estão por baixo das coisas que são os partidos, os sistemas de alianças, as negociações, os cálculos de perdas ou ganhos. O fiador da entrada de Marina Silva no PSB e na chapa que disputaria a eleição presidencial foi Eduardo Campos, naturalmente com o apoio de ao menos uma parte do partido. Marina tinha capital eleitoral e parecia poder transferi-lo para Campos; Campos tinha um partido vibrante, que emergia como um dos grandes vitoriosos nas eleições de 2010 e 2012, e parecia capaz de ser o novo candidato “nem-nem” (nem PT nem PSDB), como, aliás, já havia sido Marina Silva há quatro anos. Falecido Eduardo Campos, muda o quadro: desaparece o fiador e o mediador e, o que é mais complicado ainda do ponto de vista dos interesses do PSB, Marina Silva deixa de ser uma força auxiliar e passa a ser a candidata a presidente pelo partido. Se for confirmada, a candidatura agora é oficialmente dela, não do PSB, dadas as características do nosso sistema e da nossa cultura política presidencialista. Presidencialismo é personalismo, como todo mundo sabe, e não partidarismo. Confirmada, ela passaria a desfrutar de um alto grau de autonomia. Se eleita, então… Tudo isso deve estar passando pela cabeça de todo pessebista, ainda mais daqueles que sempre foram relutantes com o fato de o PSB se tornar hospedeiro de um corpo estranho, a Rede, ainda que não necessariamente um inimigo. Então, há várias tentações certamente remoendo no PSB. Primeiro: continuar na disputa para valer, mesmo à custa de entregar a legenda a um cristão novo. Segundo: colocar um membro do partido confiável e respeitável mesmo sem chances eleitorais, como forma de homenagear o próprio partido e a memória de Eduardo Campos. Cálculos eleitorais dizem que a primeira opção é a mais razoável. Marina Silva dificilmente ganharia a eleição, mas faria bonito e, provavelmente, contribuiria muito para a eleição de candidatos do PSB nos estados.  O grupo contrário a Marina teria força para impedir a sua candidatura? Marina tem condições políticas de manter a união Rede-PSB? Claro que sim. O PSB não é um partido pequeno nem é novato do ramo. É um dos partidos tradicionais e tornou-se jogador importante na política nacional nos anos da administração do PT em nível nacional. O PSB governa 5 estados e só não governa mais porque os Ferreira Gomes do Ceará tomaram o próprio rumo. O PSB tem quatro senadores e mais de duas dezenas de deputados federais. Não é à toa que Eduardo Campos resolveu bancar a candidatura própria.  Sem Ciro Gomes nem Eduardo Campos, perdem os seus nomes de maior referência. Além disso, o quadro político já está montado a este ponto da campanha – quem tinha cacife já se colocou no mercado eleitoral e quanto mais capital eleitoral, maior a posição pretendida (governo e Senado). Mexer nesse xadrez desarrumaria o jogo e desequilibraria as forças em muitos estados com consequências indesejáveis sobre as bancadas e cargos majoritários estaduais. 

Uma vez candidata, quais seriam os pontos fortes e vulneráveis da candidata?  Marina assumindo a candidatura do PSB, o melhor que poderia fazer seria herdar o máximo possível no capital emocional post-mortem de Eduardo Campos. Dos mortos só se falam coisas boas e os sentimentos acerca de Campos são, agora, os melhores possíveis. Marina Silva tem um passivo de rejeição muito consistente (é ao mesmo tempo de esquerda e conservadora, tem um discurso de tom religioso e excessivamente pedagógico, que são os pontos fracos da sua imagem pública). Marina precisará zerar ou diminuir consideravelmente este passivo e, nesse sentido, a imagem de Campos seria muito importante. Além disso, Marina Silva precisaria reavivar a #ondaverde, aquele movimento de último momento nas eleições de 2010 que deixou todo mundo impressionado. Não tenho certeza de que a sua nova ideia fixa, a Nova Política, teria o mesmo alcance e apelo que a Onda Verde, mas ela teria que reeditar algo assim se não quiser terminar a eleição abaixo dos 10%, que é patamar de partido pequeno.  

De que modo ela pode se beneficiar desta comoção gerada pela morte de Campos? Marina Silva entraria na disputa com um bom cacife eleitoral: para o público, ela é a herdeira emocional e eleitoral de Eduardo Campos, a “sua companheira” como ele disse (está gravado, isso é importante) muitas vezes. A campanha se desenhou para ser Eduardo & Marina, agora iria só Marina que, além de representar a si mesma, representaria também Eduardo, que com a sua morte surpreendente e precoce, multiplicou o seu capital eleitoral. Eduardo Campos será um cabo eleitoral importante de agora em diante, mas não é certo que transfira para qualquer um o patrimônio de carinho, empatia e comoção pública causada pela sua morte. Para Marina, sim, para Roberto Amaral, Erundina ou outro quadro do PSB, seria muito pouco provável. Quem tentar, por qualquer artifício de propaganda, beneficiar-se disso, será provavelmente tratado como aproveitador, exceto Marina Silva.

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