Mario Cravo Jr. celebra 70 anos de arte com nova exposição

Com bom humor, artista plástico recebeu familiares, amigos e admiradores na abertura de exposição nesta quinta (26)

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 26 de outubro de 2017 às 22:36

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho

Poucos minutos antes da porta da Paulo Darzé Galeria de Arte, na Vitória, se abrir para a festa, o homenageado da noite toma um gole de vinho tinto e se prepara para reinar junto a sua legião de súditos. O rei exibe uma confortável calça de linho branca que compõe o look com duas camisas sobrepostas. Uma branca e uma xadrez. Para arrematar o traje, sua inseparável bengala de madeira e chinelos alegremente salpicados  de tinta.

Ao seu lado, duas alegres esculturas de madeira coloridas - produzidas poucos dias antes da exposição que foi aberta na noite de ontem em comemoração aos 70 anos de suas duas primeiras exposições individuais – parecem rir de suas meninices.

Sim, Mario Cravo Jr., o rei que está sentado sobre uma poltrona de couro, é um nonagenário que, do alto de seus 94 anos, ainda conserva o frescor infantil. Na vida e na arte. A porta se abre e lá está ele, agradecendo aos elogios, brincando com a gravata de um amigo, abraçando e beijando os que, literalmente, se curvam aos seus pés para reverenciá-lo.

A mostra Cabeça de Tempo reúne 70 trabalhos de Mario Cravo, dez delas produzidas para a exposição (Foto:Arisson Marinho) Ao seu redor, dezenas de pessoas se espremem para presenciar um dos mais belos momentos da noite. O encontro com o mais famoso representante da terceira geração de artistas da família, o neto Christian Cravo, filho de Mário Cravo Neto (1947- 2009), ambos fotógrafos.

Os dois se beijam, se acarinham, cochicham e trocam tapinhas de amor. Os flashes pipocam. Emocionados, eles  celebram a vida e expõem a admiração e o respeito mútuo, alheios as caras enternecidas da plateia.

“Ele é a base, o fundamento de uma família de artistas bem sucedidos. Estar aqui é voltar à infância, ver essas peças todas, a maioria produzida nos anos 1980 e lembrar que brinquei com os restos destas madeiras que ele usava e com as quais fazia minhas esculturas. Ou melhor, imitava as esculturas dele”, conta  Christian Cravo. Mario Cravo assina o catálogo da mostra, que segue em cartaz na Paulo Darzé Galeria, na Vitória, até o final de novembro (Foto:Arisson Marinho) A exposição Cabeça de Tempo, que  comemora os 70 anos desde suas duas primeiras individuais em 1947 - uma no Edifício Oceania, na Barra, outra na Associação Cultural Brasil Estados Unidos, na Vitória – nasceu de um desejo do galerista Paulo Darzé, que há muitos anos vem colecionando a obra do artista. “Se pudesse não venderia nenhuma, ficaria com todas”, conta.

Grande parte do acervo que ficará em exposição, aberta ao público, até o final de novembro, pertence ao marchand. Duas delas foram arrematadas por ele no leilão do acervo de Oscar Niemeyer. “Fui juntando as peças e levei a proposta da exposição para ele, que não só adorou como criou mais uma dezena para se juntar as que já tínhamos”, explica.

Cabeça de tempo reúne esculturas em madeira e ferro que se misturam a outros materiais como pneus, cordas de sisal etc, centradas na temática do título que revelam inovadoras soluções plásticas e apresentam as múltiplas formas de expressão usadas por Cravo nas suas criações.

Expostas ao longo dos salões da galeria, as peças representam as mais diversas fases do baiano que estudou e trabalhou nos Estados Unidos, onde deixou sua marca em museus como o de Arte Moderna de Nova Iorque e o Walker Art Center, em Minneapolis.

As obras estão registradas num catálogo luxuoso editado pela galeria. Embora não fosse um lançamento do livro, todo mundo queria sair de lá com o autógrafo do artista que, diariamente, bate ponto no seu ateliê, no Parque de Pituaçu.  “É no atelier que me divirto, mas ver as obras aqui, expostas, com essa iluminação da galeria, é demais para um nonagenário. Mas pouco valeria uma exposição se não houvesse a constância. Serve como estímulo para quem tem a mente criativa”, destaca Mario. 

E arremata com um questionamento: será que é pretensão? Parece que estou fazendo elogio a mim mesmo”, gargalha. Bobagem, rei pode tudo! A maior parte das esculturas foi produzida nos anos 80, utilizando madeira e outros elementos como o ferro (Foto:Arisson Marinho)