Mario Cravo Jr. comemora 70 anos de carreira com exposição inédita

Mostra Cravo – Cabeça de Tempo apresenta obras feitas com restos de madeira do incêndio do Mercado Modelo

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  • Doris Miranda

Publicado em 25 de outubro de 2017 às 16:46

- Atualizado há um ano

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Um dos maiores baluartes das artes plásticas na Bahia, Mario Cravo Jr., 94, completa 70 anos de carreira profissional em 2017. Para comemorar, a Paulo Darzé Galeria apresenta a exposição inédita Cravo – Cabeça de Tempo, que abre para visitação nesta quinta (26), às 19h, e segue em cartaz com visitação de segunda a sexta, das 9h às 19h, e aos sábados, das 9h às 13h.

Compõe a mostra um conjunto de 66 cabeças, integrantes do acervo da própria galeria, que foram sendo adquiridas aos poucos desde os anos 80, quando as peças começaram a ser produzidas. À exceção de dez cabeças confeccionadas recentemente, o acervo foi todo esculpido com a madeira que sobrou do incêndio que destruiu o antigo Mercado Modelo no início dos anos 80.

“Se você observar bem, vai ver que a madeira está meio calcinada em algumas partes”, pontua Paulo Darzé, que adquiriu as peças de diversas fontes. Desde a própria família Cravo até colecionadores ilustres como Oscar Niemeyer (1907-2012). Sobre a encomenda de novas peças, Darzé diz que pretendia apresentar um paralelo temporal na produção artística do velho modernista: “Antes eram obras modernistas mesmo, agora têm uma pegada mais contemporânea”. Todas as peças estão à venda.

Se engana quem pensa que são apenas cabeças humanas. Entre os tocos pintados com cores luminosas, há sugestões de gatos, cachorros, pássaros se beijando, tucanos... “Cabeça é cabeça, né?”, brinca o galerista, anunciando que, encerrada temporada em Salvador, a exposição viaja a São Paulo, a convite de Emanoel Araújo para exibição no Museu Afro Brasil.

Mario Cravo Jr. é um dos pioneiros da Arte Moderna na Bahia e um dos grandes artistas brasileiros do século XX. O ano de 2017 fica demarcado como o de 70 anos de sua iniciação profissional porque expôs por duas vezes em 1947: Mario Cravo Júnior Expõe (no Edifício Oceania) e Mario Cravo Esculturas e Desenhos (na Associação de Cultura Brasil-Estados Unidos- ACBEU). Aos 94 anos, Mario Cravo Jr. ainda produz com vigor (Andrew Kemp/divulgação) No caprichoso catálogo que acompanha a exposição há depoimentos de várias origens. O escultor Vauluizo Bezerra diz: “Talvez este sentimento que me refiro seja algo pessoal meu, mas insisto em afirmar, que por tudo que tentei descrever sobre o uso da arte por Mario Cravo Jr., como um instrumento socializador, com uma função de estender uma compreensão sobre as questões identitárias que lidamos, sobre seu interesse em elucidar formalmente as especificidades baianas com a universalidade apregoada pela modernidade, estas cabeças cumprem um rito de passagem de uma emancipação de uma arte moderna genuinamente baiana”.

O artista visual Caetano Dias completa: “O que afeta continua a nos tocar na obra de Mario Cravo. Desse modo nos dando sentido ao que nos faz povo em nossa cultura mestiçada em cada fragmento de madeira do antigo mercado de não mercadorias com “tanto negócio e tanto negociante”. Os fluxos de forças que sentimos e continuamos a sentir, como se essas figuras de proa lançassem mares de fogo para nos lembrar de que não podemos esquecer-nos da carne nem do escarnio. Acho que possivelmente a obra de arte tem o poder de confrontar a todos enquanto espelho para estranhamentos no seu reflexo”.

Serviço - Paulo Darzé Galeria (Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória | 3267-0930 e 9918-6205). Visitação gratuita: de segunda a sexta, das 9 às 19 horas, e sábados das 9 às 13 horas.

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