Marmiteiros defendem estilo de vida mais saudável, prático e barato

Por economia, saúde ou falta de tempo, marmitas têm sido melhor opção na hora do almoço

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  • Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Seja por falta de grana, tempo ou por uma preocupação cada vez maior com a alimentação, a marmita já é realidade para muitos brasileiros. Se há menos de dez anos levar comida para o trabalho ou para escola poderia soar cafona, hoje a prática é cada vez mais difundida e aconselhada por nutricionistas. 

“Temos estimulado isso como forma de as pessoas fazerem uma refeição saudável. É ótimo para quem faz dieta, já que a tentação nos restaurantes é grande e você acaba comendo mais por conta da quantidade de opções, mas funciona muito também para quem está à procura de uma comida mais saudável e bem feita”, diz a nutricionista e gastrônoma Andréa Flores, 34 anos.

Mudança de hábito Foi por conta de uma reeducação alimentar que a jornalista Mia Lopes, 30, decidiu adotar as marmitas, há dois anos. A princípio, a decisão não veio acompanhada da organização necessária. Sem tempo para cozinhar durante a semana, era comum que ela tivesse de separar um tempo à noite, no meio da rotina, para preparar a comida do dia seguinte. 

Para solucionar a equação, procurou um nutricionista. “Cheguei com essa demanda de uma alimentação prática, com coisas que eu pudesse deixar preparada e não precisasse fazer em cima da hora. Minha dieta é proteica, para ganhar músculo e queimar gordura. Com isso, eu passei a fazer marmitas de forma mais sistemática”, lembra. A jornalista Mia Lopes recorreu às marmitas durante reeducação alimentar (Foto: Acervo Pessoal) O perfil de Mia é o de muitos “marmiteiros” contemporâneos: um público adulto e jovem, fruto de uma geração preocupada com o bem-estar e com a imagem. “Também tem o interesse pela gastronomia. As pessoas estão interessadas em comer uma comida visualmente atraente, saborosa. Tanto bem feita em relação ao preparo, quanto à apresentação”, diz Andréa Flores.

Há de se destacar também o fator tempo. Ou melhor, a falta dele. A biomédica Fernanda Carvalho, 31 anos, por exemplo, se rendeu ao almoço em potinhos quando passou a trabalhar em dois empregos. “Uma clínica fica em frente à outra, mas o horário em que saio de uma, tenho de estar entrando na outra. Acaba que não tenho tempo de sair para almoçar, procurar um restaurante - e também há poucas opções de alimentação por perto”, conta.

Fernanda, no entanto, tem uma vantagem em relação a muitos marmiteiros: tem comida fresca, variada, feita diariamente. “Minha mãe prepara o almoço e separa a minha quantidade na noite anterior, para eu levar no dia seguinte. É uma comida mais saudável porque é caseira, mas não tenho essa preocupação com opções fitness”, pondera.

Para a nutricionista Ana Caroline Cardoso, 30 anos, a característica da marmita não é necessariamente ser saudável. “Como nutricionista, alerto para essa necessidade, mas a marmita pode ser feita com qualquer tipo de alimento. Arroz e feijão com carne frita, moqueca, escondidinho, cozido... O que a pessoa quiser!”, afirma. Para ela, marmita é só uma forma de as pessoas se organizarem na rua, comendo o que comeriam em casa. “Independente de ter vida saudável ou não, é uma alternativa para não comer na rua, comer uma comida caseira”, destaca.

Estímulo O hábito de levar sua própria refeição de casa também tem sido estimulado por escolas e por empresas, que têm preparado copas e refeitórios para receber os “marmiteiros”. Nem sempre elas são super equipadas, mas geralmente uma geladeira e um microondas estão garantidos nesses espaços.

A indústria também já percebeu a demanda e tem produzido sacolas térmicas e uma variedade de potes. “Eu já tinha o hábito de comprar essas coisinhas, e agora que faz parte do meu cotidiano eu compro direto. É como se fosse ainda mais motivador. Sempre coisas coloridinhas, fofinhas, para dar uma variada e não ficar na rotina”, conta a biomédica Fernanda Carvalho.

Há quem na busca por ainda mais praticidade, opte pelas embalagens descartáveis de isopor, alumínio ou plástico. Caso de Mia Lopes, que aos finais de semana compra embalagens para acondicionar as refeições da semana inteira. Até o iogurte batido com frutas e sementes vai parar no saco de geladinho. “Separo tudo em pequenas porções e congelo o necessário para dez dias, preparo cerca de 40 refeições. O único vacilo é que o meio ambiente sofre com as embalagens descartáveis. Fora que comprei embalagens de alumínio inicialmente, que não vão ao microondas”, lembra. Vasilhames de vidro são melhores opções para marmitas. Ideal é separar um para cada alimento (Foto: Reprodução) Para a nutricionista Andréa Flores, os recipientes onde os alimentos serão transportados e, especialmente, aquecidos, devem ser uma preocupação dos marmiteiros. “O plástico libera substâncias cancerígenas e também pega cheiro e cor dos alimentos com o passar do tempo. Alumínio é um metal pesado e, se levado ao microondas, pode causar incêndio. O ideal são os vasilhames de vidro. Custam um pouco mais caro, mas o ideal é comprar vários deles e levar as saladas, frutas e pratos principais separadamente”, explica ao dizer que a separação é importante tanto para manutenção do sabor de cada alimento, quanto para a preservação do aspecto visual.

Outra preocupação diz respeito ao congelamento/descongelamento. Se não há onde manter esse alimento refrigerado depois de retirar do congelador, é bom ficar atento ao risco de contaminação. “Claro que não é o correto nem o indicado manter fora da geladeira, mas garantindo esse preparo e esse congelamento correto, não há risco iminente se a comida ficar na sacola térmica até a hora do almoço”, explica Andréa Flores.

Para ela, nenhuma precaução deve fazer com que a pessoa desanime de preparar sua marmita. "É melhor levar uma comida de casa que acabr comendo um sanduíche na rua. Tem um ditado que diz ‘se você não tem tempo para cuidar da sua saúde, você terá tempo para cuidar da sua doença", complementa.

Negócio bom As marmitas também viraram uma opção de negócio para muita gente. O cardápio é variado e contempla tanto a rotina corrida de quem trabalha fora de casa, quanto quem precisa se adequar a dietas alimentares. Para a estudante de teatro Letícia Bianchi, 27, uma forma de complementar a renda com uma das coisas que ela adora fazer: comida caseira bem feita.

Foi quando se viu sem grana e com o tempo apertado, que juntou o hobby à necessidade e começou a pesquisar, principalmente no Instagram, quem oferecia esse tipo de serviço. “Vi muitas marmitas gourmet, fitness (pré e pós-treino, low carb). Minha ideia sempre foi fazer uma refeição saudável, equilibrada, sem temperos prontos e alimentos industrializados”, conta. O cardápio surgiu a partir do que tinha mais habilidade e do que mais gostava: costela de boi ensopada com aipim; espaguete ao molho pomodoro e manjericão com toscana; arroz integral, feijão preto e frango com salsa e brócolis. As informações são atualizadas semanalmente e divulgadas via redes sociais, por onde também são feitos os pedidos. (Foto: Reprodução/ Shutterstock) A nutricionista Ana Caroline Cardoso, que já tinha investido no ramo da alimentação fitness com a instalação de lanchonetes em algumas academias de Salvador, também investiu em marmitas recentemente. No caso dela, por conta da demanda dos antigos clientes."As pessoas começaram a procurar e começamos a oferecer kits congelados semanais. O cliente faz um pacote mensal, mas semanalmente entregamos as marmitas, com as principais refeições do dia", explica. Segundo ela, a partir de agosto, a empresa também vai passar a fornecer marmitas frescas diariamente, refrigeradas. As lanchonetes ficam nas academias Alpha (Caminho das Árvores, Costa Azul), Hammer (Barra) e Espaço 10 (Campo Grande).

DICAS PARA OS MARMITEIROS

PENSE NA SEMANA

Como tempo e dinheiro são escassos, se organize para fazer a feira e comprar tudo aquilo que precisa para preparar as principais refeições daquela semana. Compre a quantidade suficiente de vasilhames para congelar pequenas porções separadamente.

DE OLHO NO RECIPIENTE

Tão importante quanto o alimento que se ingere, é o recipiente onde você vai acondicioná-lo. Embalagens descartáveis são mais práticas, mas fazem muito mal ao meio ambiente. Prefira vasilhames de vidro ou de plástico livres de BPA.

MELHORES ALIMENTOS

A nutricionista Ana Caroline Cardoso recomenda a ingestão de carnes magras, como frango ou peixe. O músculo é uma carne mais barata com a qual se pode preparar almôndegas, rocambole, hamburguer (para dar liga, ovo e aveia). Purê de abóbora ou batata e verduras cozidas ao vapor ou assadas no forno são outras boas alternativas.

ATENÇÃO COM AS FRUTAS

Frutas podem ser congeladas, mas tenha cuidado! Muitas delas perdem a coloração, a textura ou têm alteração no sabor quando isso é feito. Atenção especial para o mamão, a banana e o abacaxi. 

ESTILO DE VIDA

Quem adota a marmita como opção no almoço, acaba se preocupando em consumir alimentos mais saudáveis, a frequentar feiras orgânicas e a trocar experiências sobre esse hábito. O YouTube é um bom aliado.

Para inspirar! LUNCHBOX (Filme) - O Mumbai Dabbawallahs é um serviço de entrega de comida bastante conhecido em Mumbai, na Índia. Um dia, um erro na entrega faz com que uma pacata dona de casa conheça um homem que está na fase final de sua vida. Juntos eles criam um mundo de fantasia a partir de mensagens trocadas através das embalagens usadas pelo Mumbai Dabbawallahs.