Massagem tântrica: orgasmos e lágrimas foram só o começo

Entenda do que se trata e confira dois relatos, um de um homem e outro de uma mulher

  • Foto do(a) author(a) Rafaela Fleur
  • Rafaela Fleur

Publicado em 9 de agosto de 2018 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/Reprodução

Uma pessoa, até então desconhecida, abre a porta. Você entra e se depara com uma sala  pouquíssimo iluminada. Há uma música tocando, bem baixinho, ao fundo. É um mantra. No chão, um colchonete. Antes de deitar, porém, é preciso se despir completamente, nem os acessórios ficam. Pronto: agora é só esperar a massagem começar. Os toques de pontas dos dedos, bem suaves, inicialmente percorrem todo o corpo. Os ápices de êxtase já começam aí. Depois, as mãos da (o) terapeuta se concentram nos genitais. E tome-lhe orgasmo.

Mas não pense você naquela ejaculação explosiva. Tampouco no prazer clitoriano ou vaginal mais intenso possível. As sensações da massagem tântrica não têm nada a ver com o que se sente durante o sexo. É como se transar fosse só um pedacinho de tudo que é possível. Masturbação, então, passa longe. 

Cadastre seu e-mail e receba novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, tecnologia, bem-estar, pets, decoração e as melhores coisas de Salvador e da Bahia:

“Quando as pessoas pensam em orgasmo, pensam imediatamente no genital. E não é isso. Você pode sentir orgasmo em qualquer lugar, todo o seu corpo é orgástico. No Tantra, a gente olha pra ele com reverência, é como um templo sagrado. Não existe esse olhar erotizado” comenta Rajan (@rajan.tantra no Instagram), 28, terapeuta tântrico há três anos.  Uma sessão com ele, com duração mínima de 1 hora e 20 minutos, custa R$ 390. Rajan é terapeuta tântrico desde 2015 (Foto: Instagram/Reprodução) O Tantra  A massagem é uma das muitas ferramentas do Tantra, filosofia milenar que vem da Índia e considera a energia sexual como a força vital do ser humano, responsável por  todos os movimentos. Do simples ato de levantar da cama até resolver os mais complicados problemas. Porém, devido às repressões sociais ao desejo, essa energia acaba sendo contida.

O objetivo é justamente ampliar a capacidade de liberação e expandir essa força, para que o indivíduo acesse um novo estado de percepção e consciência. “A expansão acontece através da ativação da kundaliní, uma espécie de base energética associada a uma serpente. Durante a massagem, o objetivo é levar essa energia sexual de base em direção ao topo da cabeça”, explica a terapeuta Yabá Luz (@yaba.luz, no Instagram), 24. Assim, há um reequilíbrio dos sete centros de energia do corpo, chamados de chakras.  Yabá Luz tem 24 anos e é terapeuta tântrica (Foto: Instagram/Reprodução) Técnicas de respiração e meditação também são utilizadas nas terapias tântricas, mas nada tem a ver com a famosa posição de pernas cruzadas e o silêncio total. “As meditações tântricas não são passivas, têm movimento, são ativas” comenta Rajan. Esses movimentos podem ser, inclusive, através de danças. 

Os adeptos Escritório, telefone tocando sem parar, mil problemas para resolver... A assistente administrativa Carolina Araújo, 28, não aguentava mais. Em 2016, era estresse todo dia. “Estava em busca de algo que me fizesse não sucumbir. Precisava me cuidar”, comentou. Decisão tomada, era o momento de encontrar a saída para tanto esgotamento. A solução não tardou: esbarrou com o Espaço Mahatma Gandhi, na Pituba, e começou a praticar meditação tântrica. “Passei a ir uma vez por semana e fez toda diferença. Não largo mais. Me pergunto por que não comecei antes”.

Dois anos após o início, a relação de Carol com o Tantra só se fortaleceu. Começou a receber também as massagens, de dois em dois meses. Em maio deste ano, até participou de um workshop com Rajan, durante a manhã de um sábado, pelo qual desembolsou R$ 60.  Além da diminuição do estresse, ela revela que sua relação com o sexo mudou. “Eu fiquei muito mais segura do que eu sou.  Acredito no sexo como troca de energia, estou me respeitando muito. Não quero compartilhar meu corpo com qualquer tipo de pessoa, minha vida mudou completamente”.  Rajan em uma sessão de massagem tântrica (Foto: Arthur Scovino/Divulgação) O músico Victor Nascimento, 26, assim como Carol, sentiu a vida mudar completamente. A expansão energética proporcionada pelo Tantra fez com que ele imergisse em um longo caminho de autoconhecimento. O resultado?  “A massagem me deu uma sensação de autoestima e liberdade. Mostrou que a energia sexual não está somente concentrada no genital. Você é conectado como um todo nessa energia. É uma libertação”, esclarece.

Para Victor, uma das maiores libertações, sendo homem, é conseguir desvincular o orgasmo da ejaculação. “O que a gente conhece é isso, mas o orgasmo é muito maior. Todas as pessoas têm essa energia pra ser colocada pra fora, mas não têm a devida conexão. Existe o chamado orgasmo seco, que acontece fora da ejaculação”, comenta o músico. Ele pontua que, inclusive, o prazer pode ser muito mais intenso do que no ejaculatório. 

Leia mais no blog Me Salte do Jornal CORREIO

Aluno de Yabá, o rapaz confessa que se encantou pela seriedade do trabalho. “Ela não é somente uma pessoa que faz o Tantra. Não fez um curso, pegou um diploma e resolveu ser terapeuta. Ela vive isso”, ressalta. Yabá recebendo massagem tântrica do seu companheiro, também terapeuta tântrico, Prem Sabaat (Foto: Reprodução/Instagram) Yabá assegura que o envolvimento faz toda diferença no seu trabalho. Apesar de já ter feito diversos cursos sobre Tantra, ela não tem certificados e nem se formou no Centro Metamorfose, o mais famoso do Brasil. Localizada na Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais e São Paulo, a escola é considerada uma espécie de universidade tântrica. Centro Metamorfose, localizado na Serra da Mantiqueira, entre Minas Gerais e São Paulo (Foto: Metamorfose/Divulgação) “Vejo muito sobre termos técnicos, querem colocar tudo em quadradinhos, dizer como se faz, de que jeito se faz... É gregoriano. Como é isso de diploma pra terapeuta? E quem dá esse diploma? O Tantra é matriarcal, fui iniciada nele por outras mulheres e já nasci com essa força em mim”, comenta a moça, que, além de terapeuta tântrica, trabalha com yoga, tarô, sagrado feminino, reiki e thetahealing  - todos processos que buscam cura através do reequilíbrio energético. Apesar disso, ela reconhece a importância do Centro e não descarta a possibilidade de, um dia, se formar nele. 

Rajan, por outro lado, cursou o Metamorfose em 2015. O rapaz, que estava prestes a abrir uma igreja evangélica e realizava trabalhos missionários, decidiu largar tudo. Terminou um casamento de sete anos. Entrou em depressão e foi incentivado pela irmã, May Irineu, a procurar o Tantra. Ela já era terapeuta e também havia estudado lá. Para Rajan, que também realizou outros cursos, o certificado pode ser importante, inclusive, para assegurar a seriedade do profissional e evitar que abusos aconteçam. “O diploma não é a questão, mas sim a experiência que você adquire na formação”. Ele, que já teve pacientes estupradas por falsos terapeutas, faz o alerta. “Desconfie de preços muito baixos, procure saber quem é o profissional, escute pessoas que já trabalharam com ele. Tem muitos abusadores por aí”, aconselha. 

Yabá faz o mesmo alerta e vai além: afirma ter conhecimento de abusos vindos até mesmo de terapeutas formados. Ela mesma já tendo sido vítima. Ou seja: todo cuidado na hora de escolher o profissional é pouco.

Dito isso, confira dois relatos de quem fez a massagem tântrica pela primeira vez. Um desta repórter e outro do criador do portal Me Salte, Jorge Gauthier, que colaborou com esta edição do BAZAR. (Foto: Reprodução/Instagram) Jorge Gauthier  Saí do meu corpo. À meia-luz, com músicas e um toque sensível em cada parte do meu corpo. Literalmente, do fio do cabelo à sola do pé. Pela primeira vez na vida fiquei pelado na frente de um homem, dentro de um quarto de portas fechadas, sem transar. Foi melhor do que isso. Tive orgasmos. Intensos. Boca seca. Corpo trêmulo. Senti minha alma descolar da minha pele e o meu corpo tremer na vibração dos sons. O clima parecia sensual. Tinha tudo para ser sexual, mas não era isso. Foi além. Pelo toque de Rajan, terapeuta tântrico, conheci os orgasmos secos durante as duas horas em que recebi uma massagem tântrica. Foi transcendental. Entrei em transe.

Através da técnica percebi a existência dos orgasmos sem ejaculação. Das maneiras e nos locais menos prováveis do meu corpo. Eu estava nu, de olhos fechados, respirando lentamente e sentindo a ponta das unhas e dedos de Rajan na  minha pele. Até que ele chegou à sola do pé direito e deslizou em sentido transversal. Fui no céu e tive o primeiro de muitos êxtases.  Os outros vieram no compasso dos mantras que ecoavam de pequenas caixas de som acopladas ao celular do terapeuta. À medida que o nível da massagem avançava, começava a perder ainda mais o domínio do meu corpo. A região genital é sagrada para o tantra e nela se concentraram os mais intensos e sensíveis toques de Rajan.  Sorria, gargalhava. Tentava controlar, mas era em vão. A mente fugia do quarto, buscava lembranças, memórias e afetos. Vinha um riso profundo novamente. Sentia o corpo tremer, a boca secar e o pênis queimava de forma vibrante.  Assim se seguiram inúmeros outros orgasmos secos. A cada nova área do corpo explorada por toque, assopros, voz e gestos não masturbatórios, eu sorria com um prazer libertador. Contorci meu corpo. Tremi. Arranhei as paredes a ponto de ficar com tinta debaixo das unhas.  Não era apenas sobre sexo. Não tinha paixão. Era conhecimento. Chorei. Ri para expurgar a tristeza que me abateu pela vida, especialmente esse mês passado, quando fechei um ciclo solar.  Os problemas continuam. As dores persistem, mas minha percepção sobre a minha realidade foi ressignificada.  Quando saí da massagem, fiquei em êxtase. Passei 20 minutos olhando para um grafite no meio da rua. No banho, senti a vibração das gotas d’água no meu corpo. Minha insônia, companheira nos últimos tempos, teve seu descanso. Sonhei com amores, dores e felicidades. Voltei a sorrir. (Foto: Reprodução/Instagram) Rafaela Fleur O quarto já estava escuro, apenas à meia-luz. O mantra já tocava como pano de fundo, os vibradores e as luvas estavam posicionados no canto do colchonete. Só faltava eu. Respirei fundo e me despi completamente. “Os brincos também”, ela orientou.  Assim fiz.

A sensação de estar completamente nua em frente a uma desconhecida quase foi desconcertante. Mas, imediatamente, lembrei da longa conversa finalizada há poucos minutos, onde ela explicou como seria. Me tranquilizei. Já estava me deitando quando Yabá me pediu para sentar.

Ficou na minha frente, me deu as mãos e pediu para eu fixar os meus olhos nos seus. Não entendi direito, mas obedeci. Em questão de dois minutos, as feições dela mudaram na minha frente. Soltei um sonoro palavrão e comecei a chorar. Ela aparentava, em questão de segundos, ser várias pessoas diferentes. Era uma senhora, depois uma criança, depois um homem e assim sucessivamente. Comecei a sentir muito medo e não parava de chorar.

Após uns 10 minutos, a massagem começou. Apenas a ponta dos dedos dela estavam deslizando, sutilmente, pelo meu corpo. Sentia vários espasmos, como se fossem choques. Era prazer. Foi como se todo o meu corpo, de repente, entrasse em combustão. Percebi algumas gotas de óleo se derramando sobre a minha pele e as mãos logo foram escorregando por todas as partes -  menos nos genitais, ainda não era hora.

Yabá me virou de barriga para cima e repetiu o processo, que não parava de se intensificar. Em dado momento, me puxou pra perto e abriu levemente as minhas pernas. Senti suas mãos tocando a minha vulva lubrificada, sentia prazer, mas não era algo sexual. Era energético, visceral, tinha força. E então doeu. Quanto mais ela massageava, quando mais intensa era a pulsação dos dois vibradores que usava, mais doía. Os orgasmos eram múltiplos, um atrás do outro, mas eles queimavam.

Sentia vontade de gritar - e gritava. Muito. Altíssimo. E quanto mais eu gritava, mais Yabá me pedia para gritar. Eram gritos ferozes, como se alguma entidade mística e animal estivesse querendo sair. ‘Coloque pra fora, solte!’, vociferava.

A dor, em meio a esses gritos, já diminuía. O prazer se sobressaía e eu me contorcia. Após quase duas horas, quando terminou, eu não conseguia me mexer. Sentia como se qualquer toque mínimo no meu corpo fosse capaz de me fazer incinerar.

A sensação permaneceu nos dias seguintes. Constatei que algo dentro de mim, finalmente, começou a despertar. E seja lá o que isso for, não está pronto para voltar a dormir nunca mais.   Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração e pets: *Com orientação do editor Victor Villarpando