Massaranduba: moradores acusam Conder de colocar fogo em escombros de casas

Cinco caminhões do Corpo de Bombeiros foram usados para controlar as chamas

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  • Bruno Wendel

Publicado em 1 de fevereiro de 2019 às 13:27

- Atualizado há um ano

. por Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Aglomerados sobre uma calçada, famílias desabrigadas compartilhavam uma bacia com sopa. Muitos faziam a primeira refeição do dia quando as chamas surgiram. Rapidamente o fogo consumiu os entulhos dos 400 barracos demolidos pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) no final de linha da Massaranduba.

O incêndio aconteceu por volta das 18h30 de quinta-feira (31). As famílias afirmam que a Conder é responsável pelo incêndio. "A gente tomava sopa, cozinhada  na rua mesmo. Foi quando o fogo começou. Muita gente tinha esperança de pegar as madeiras depois para construir em outro lugar",  disse Vanessa Costa Vasconcelos, 24, uma das moradoras desabrigadas. 

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Ela acusa a Conder de ter posto fogo nos destroços. "Às 17h de ontem, funcionários da Conder tinham acabado de cercar toda a área com arame farpado. Logo depois, o fogo surgiu. Como pode? Nós não íamos fazer isso. A Conder é a maior interessada na nossa saída", declarou Vanessa. 

Os moradores disseram que não é a primeira vez que incêndios supostamente criminais aconteceram na ocupação. "No final do ano passado, o pessoal da Conder esteve aqui dizendo que a gente tinha que sair porque o terreno é dela. No dia seguinte, dois barracos pegaram fogo misteriosamente", disparou Beatriz Santos de Almeida Assunção, 20, um das desabrigadas.

O comandante da 17ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Uruguai), major Everton Morais, descarta que o incêndio tenha sido criminoso. "O que pode ter acontecido foi a combustão de algum material inflamável. Estamos com viaturas aqui 24h e os policiais de ontem relataram que ninguém ultrapassou a cerca", pontuou o major.

Segundo os desabrigados, o incêndio começou numa montanha de escombros que estava no centro do terreno cercado. As chamas chegaram a mais de cinco metros. Cinco caminhões do Corpo de Bombeiros foram usados para controlar as chamas. 

"O fogo estava muito intenso porque o que mais tinha para queimar era madeira. Ligamos para os bombeiros, que só chegaram uma hora depois. Enquanto isso, pegávamos baldes com água das casas vizinhas. Foi uma agonia", relatou Natalice Alves Dias, 34, uma das desabrigadas.

As chamas atingiram uma madeireira que fica ao lado do terreno invadido. "O fogo destruiu duas câmeras, telhas e danificou a estrutura do muro, que está inclinada, pois algumas madeiras estavam escoradas na nossa parede", contou o porteiro da madeireira Jonas dos Reis, 57. Ele não soube precisar o valor do prejuízo.

Caçamba Por volta das 22h30, as chamas foram contidas pelo bombeiros. Na manhã de hoje, funcionários da Conder davam continuidade à reriradas dos escombros. Um trator e uma caçamba foram usados no processo de retirada dos entulhos (madeira, madeirite, plásticos, fios, dentre outros). Questionados pelo CORREIO, funcionários da estatal não quiseram falar sonbre o assunto.

Enquanto as máquinas não paravam de trabalhar, os desabrigados ficavam à espera de doações.  Eles têm recebido alimentos e roupas. "Fomos jogados às traças. Derrubaram nosos barracos mesmo com uma ordem judicial ao nosso favor. Hoje contamos com a bom vontade das pessoas", declarou Reginaldo Santos de Souza, 35. 

Ele tem uma oficina de carros perto do local da  invasão e cedeu a área de estacionamento dos veículos  para três familais morarem temporariamente - elas ergueram um único barraco de lonas.  "Temos que nos solidarizar com o próximo. A mesma dor deles é a minha. Meu barraco foi destruído também, mas estou morando de favor na casa de minha tia. As três familias que estou na minha oficna não tinham onde ficar", disse Reginaldo, que abrigou Maria de Fátima Costas, 34, mãe de três crianças. "Só tenbo que agradecê-lo. Eu e meu filho íamos para debaixo de algum viaduto", disse ela.

Respostas  Procurada, a Conder afirmou que não procede a informação de que o incêndio teria sido provocado pela companhia. "A única ação da Conder, após a reintegração de posse, foi o cercamento da área, onde serão construídas as 174 unidades habitacionais para famílias previamente cadastradas na região de Alagados, além da produção de um relatório sobre a situação das famílias que permanecem no local e que será encaminhado para as secretarias estaduais que formulam as políticas com impacto na área social, com o intuito que sejam avaliadas as demandas apresentadas e as possíveis medidas a serem adotadas".

O Ministério Público da Bahia (MPE-BA) informou que instaurou um procedimento administrativo para acompanhar se a Conder e a Semps estão adotando as medidas necessárias para o acompanhamento das pessoas que tiveram seus imóveis demolidos. O CORREIO solicitou os detalhes desse procedimento, mas o MPE ainda não se pronunciou. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) pediu que as famílias desapropriadas pela Conder que residiam na 2ª Travessa Carlos Lima, fim de linha da Massaranduba, procurem um Centro de Referência de Assistência Social (Cras) ou Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), para que sejam cadastradas na rede socioassistencial do município.

"Esse cadastro irá permitir que essas famílias recebam auxílios do município, inclusive o auxílio-moradia. A Semps esclarece que somente dessa forma pode identificar essas famílias desapropriadas pelo governo do estado, já que nenhuma informação ou cadastro foi repassado pela Conder para que a Prefeitura pudesse agir de forma mais célere", diz a nota. 

A unidade mais próxima é o Cras Itapagipe, na Rua Lopes Trovão, nº 115, em Massaranduba.

Também em nota, a Defensoria Pública do Estado informou que está fazendo a defesa jurídica dos direitos das famílias. "Diálogos estão sendo mantidos com representantes da comunidade, com a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e o Governo do Estado para encontrar uma solução urgente para a questão da moradia dessas pessoas."