'Mataram um, levaram dois', diz pai de jovem grávida morta na porta de casa

Bruna Fernandes Silva de Jesus estava grávida de cinco meses

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  • Tailane Muniz

Publicado em 11 de abril de 2018 às 10:54

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Bruna estava grávida quando foi assassinada na Federação  Foto: Reprodução/Tailane Muniz/CORREIO O pintor Robson Luís da Conceição de Jesus, 59 anos, sequer sabia que ia ser avô. É ele, no entanto, quem está responsável pelo enterro do netinho que nasceria em quatro meses. Filha de Robson, a jovem Bruna Fernandes Silva de Jesus, 24, estava grávida de cinco meses e foi assassinada na noite de sábado (7), na porta de casa, no bairro da Federação, em Salvador. 

A jovem chegou a ser socorrida pelo pai, que não sabia da gravidez, para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas tanto ela quanto o bebê não resistiram e morreram. Bruna foi atingida por cerca de dez disparos, conforme ocorrência registrada na unidade de saúde. "Mataram um, levaram dois. Eu nem sabia que ia ter um netinho. É triste, mas é a realidade", disse o pai de Bruna à reportagem. 

Robson esteve no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para liberar o corpo da filha, na manhã desta quarta-feira (11). Carioca, o pintor veio para Salvador quando ainda era pequeno e, na capital baiana, construiu família. Além de Bruna, ele também é pai de outros três filhos, todos do mesmo casamento - desfeito há cerca de 15 anos."São quatro [filhos] com ela. Era a caçula das meninas, minha caçulinha. Eu nunca imaginei passar por uma coisa dessas", lamentou. Para Robson, as circunstâncias da morte da filha ainda são um mistério. Pouco antes de morrer, Bruna cruzou com o pai e, como de costume, tomou bênção e pediu que o pai lhe pagasse um refrigerante. Era por volta de 21h e a jovem estava a caminho de casa, na Rua Ferreira Santos, onde parte da família mora há mais de 50 anos, quando foi surpreendida por dois homens em uma moto.

"Ela seguiu, deu uns passos e eu continuei no interior do bar. Passou menos de um minuto, eu ouvi os tiros. Não lembro a quantidade, não contei, mas foram muitos. O dono do bar me acudiu e nós demos o socorro. Mas eu, poxa, eu nem sonhava que ela estava grávida. Soube no hospital, tentaram salvar a criança mas não teve jeito. E eu preferi nem saber se era menino ou menina", relatou ele, acrescentando que mora a metros da casa em que Bruna morava com a mãe e os irmãos.

Conforme Robson, a jovem estava desempregada e passava a maior parte do tempo em casa. Bruna, ainda segundo o pai, já trabalhou como vendedora no Centro da cidade e era uma pessoa popular. "De muitos, muitos amigos, sempre foi. Avemaria, aquela menina era querida demais. Não faço ideia do que pode ter motivado esse crime".

Bruna também tinha um bom relacionamento com os pais e os irmãos. Quando ainda era adolescente, relatou Robson, a jovem resolveu contar à família sobre sua homossexualidade, assunto que já era comentado entre os pais e irmãos. "Eu via o jeito, né, ouvia algumas coisas. Mas depois ela mesma falou lá, mas é aquela coisa, eu sempre gostei muito da minha caçulinha, independente de tudo. As pessoas têm suas vidas, são livres para escolher. A mim, só restou dar apoio e amor", comentou o pintor.

A gravidez foi uma surpresa para o pai porque, segundo ele, a família não tem conhecimento de qualquer relacionamento amoroso entre Bruna e um homem. Sem indícios de quem seja o pai do bebê, o pintor disse ao CORREIO que após o enterro da filha, vai começar a viabilizar o sepultamento do neto. "Agora é o jeito. Um, depois o outro. Pedir a Deus que nos dê força e resignação", acrescentou. 

A autoria e motivação do crime vão ser investigados pela 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Bruna vai ser enterrada na tarde desta quarta-feira (11), no Cemitério Municipal de Brotas, em Salvador. Ainda não há previsão para o sepultamento do filho da jovem.