Memória: Criador e sócio da Saladearte, Marcelo Sá lutou por mais espaço e pluralidade na cena

O velório e a cerimônia de cremação do corpo serão nessa terça-feira (1º)

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  • Roberto Midlej

Publicado em 31 de janeiro de 2022 às 06:21

- Atualizado há um ano

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A cultura baiana perdeu um de seus nomes mais importantes nas últimas décadas: Marcelo Sá, um dos sócios do circuito Saladearte, grupo de salas de cinema fundado no ano 2000, Marcelo tinha 56 anos e foi encontrado morto em casa, mas a causa ainda não havia sido revelada até o fechamento desta reportagem. O velório e a cerimônia de cremação do corpo serão nessa terça-feira (1º), das 7h30 às 11h30, no cemitério Jardim da Saudade.

Nascido em Ilhéus, no sul da Bahia, Marcelo desenvolveu o dom de “agitador cultural” desde cedo. Como não tinha muito interesse em atividades físicas, fazia um acordo e, assim, as trocava pela organização de eventos, o que incluía a confecção de cartazes das pecas de teatro e das festas de fim de ano. Em sua cidade, trabalhou no setor de jornalismo da prefeitura e no Teatro Municipal. Foi administrador da Casa do Artista, espaço cultural gerido por um grupo suíço fabricante de chocolate.

Veio para Salvador em 1998 para trabalhar no Teatro Bahiano de Tênis, que, a partir de julho de 2000 abrigaria a Sala de Arte Cinema do Bahiano, primeira sala do que viria a ser o Circuito Saladearte. O cineteatro funcionou até fevereiro de 2006, quando uma delicatessen foi instalada no Clube Bahiano de Tênis. Em seus quatro anos de funcionamento, o espaço foi mais que um cinema: sediou projetos culturais como exposições de arte, mostras de decoração, feiras de artesanato e moda, O grupo se expandiu e criou outras salas: Cinema do Museu, na Vitória; da Ufba, no Canela e o Cine XIV, no Pelourinho. Hoje, funcionam os espaços do MAM, na Av. Contorno, e as duas salas do Shopping Paseo. As salas forma reabertas depois que o grupo passou por uma forte crise, por causa do fechamento durante a pandemia.

Marcelo, com o apoio de clientes e artistas, lançou no ano passado a campanha Juntos Pela Saladearte, que arrecadou mais de R$ 360 mil e viabilizou o pagamento de dívidas, o que permitiu a reabertura da Saladearte.

Amor pela arte A comunidade ligada à cultura lamentou a morte do produtor. Cláudio Marques, cineasta e sócio do Cine Metha Glauber Rocha, disse ao CORREIO que se lembrava da emoção de Marcelo na inauguração da primeira sala: “Ele não se continha, estava à flor da pele. Chorava feito criança. Perdeu o fôlego algumas vezes. Apaixonado por arte, mas, mais especificamente pelo cinema, Marcelo estava realizando um sonho muito precioso”.

Para Cláudio, Marcelo era um romântico incorrigível: “Romântico o suficiente para levar adiante esse sonho de abrir salas de cinema e permitir que milhares tenham acesso às mais diferentes produções do mundo todo. Mesmo com tanta dificuldade. Não éramos amigos próximos, mas era comum conversarmos sobre os dilemas da nossa profissão quixotesca”.

O cineasta Bernard Attal observou a recente luta de Marcelo para manter as salas abertas: “É de uma infinita tristeza que, depois de ter lutado tanto [pela reabertura das salas), Marcelo se foi. Mas ele deixa um legado de humor, generosidade e cinefilia e, pela memória dele, devemos continuar a frequentar suas salas que, além de uma programação impecável, sempre reservaram espaço para o cinema baiano”.

O presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, emitiu comunicado de pesar: “Conheci Marcelo em Ilhéus, quando montei Dona Flor, em homenagem aos 80 anos de Jorge Amado. A partir daí, nossas vidas se cruzaram várias vezes (...). Nosso humor e nossa força de trabalho sempre nos uniram, em encontros cercados de planos de trabalho e muita diversão. Salvador perde esse grande empreendedor e eu me despeço desse amigo incrível, parceiro de muitas empreitadas. Saudade grande!”.