Mergulho no mundo visceral de Belchior

Ana Cañas rejuvenece clássicos do cantor e compositor, em álbum de releituras

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  • Ana Pereira

Publicado em 23 de outubro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marcus Steinmey/divulgação

Não foi planejado, mas o álbum Ana Cañas Canta Belchior serve como boa saudação pelo aniversário de 75 anos de Belchior, terça-feira (26). Lançado nas plataformas de streaming, e com direito a registro visual no YouTube, o trabalho reúne 14 canções do cantor e compositor cearense, que morreu em 2017. E faz a gente lembrar como ele foi uma voz essencial de seu tempo, com um texto que ainda tem muito a dizer nestes tempos difíceis.

Em seu primeiro projeto de relei tura, Ana Cañas assume com leveza o desafio de imprimir sua marca em clássicos tão marcantes da MPB – o repertório é baseado na fase mais popular de Belchior, dos anos 70. Ela consegue ser sutil e ao mesmo tempo densa para cantar Coração Selvagem, A Palo Seco, Como Nossos Pais, Divina Comédia Humana, Medo de Avião, 3X4 e, claro, Apenas um Rapaz Latino-Americano.

O álbum nasceu no ano passado, junto com a pandemia e após uma repercussão inesperada de uma live em homenagem a Belchior. “Foi muito despretensioso, mas foi mágico”, resume a cantora, que se surpreendeu com as reações positivas dos fãs no Brasil e em lugares como Estônia e Rússia. Só quando resolveu encarar a projeto da gravação – financiada através de financiamento coletivo –  é que se deu conta de quanto o artista exigia em termos de “emoção”. “Belchior traz para sua música uma densidade que vem de uma erudição e de uma vida muito complexa”, afirma Ana, lembrando que o cearense que migrou para São Paulo ia ser padre, estudou medicina, abandonou tudo pela música, viveu a ditadura militar, fez muito sucesso, mas morreu em um autoexílio que seus fãs não compreenderam direito.   “As músicas versam geralmente sobre paixão, catarse e reflexão social. Exige uma compreensão ampla das camadas do coletivo e suas intersecções. Apesar de muitas metáforas e poesia, também traz uma literatura direta e acessível. É um universo bastante complexo e há que se despir para mergulhar nele”, analisa Ana.

Ela faz isso com arranjos com poucos elementos (assinados em parceria com Fabá Jimenez), que valorizam a voz e o texto. E imprimindo  sua gramática feminina para o mundo belchioriano. Como faz em Sujeito de Sorte, um dos pontos altos do trabalho. Da vontade dançar, cantar e ficar “são, salvo e forte”. “É impossível ouvir o refrão ‘ano passado eu morri mas este ano morro’, que é do repentista Zé Limeira, e não pensar em tudo que está acontecendo com agente”, diz.

Terça-feira, no dia do aniversário do cantor, Ana Cañas mostra um pouco do trabalho no programa Depois Daquele Álbum, no canal BIS, às 17h. No episódio, conta como foi influenciada por Belchior e interpreta algumas músicas.

Antes, na segunda (25), ela estreia como apresentadora do programa Sobrepostas, no Canal Brasil (às 23h45) e Globoplay. A ideia, explica, é falar sobre sexualidade feminina, em conversas descontraídas com “mulheres diversas”, que possam falar sem tabus sobre prazeres, afetos e intimidades. A primeira convidada é a cantora baiana Luedji Luna, que vai falar de Primeiro Relacionamento – no caso dela, o primeiro com um homem negro, que se desdobrou em casamento e filho."É fundamental a gente falar sobre sexualidade feminina, porque entendemos que essa experiência de troca entre nós, mesmo com as amigas, já nos alavanca vários insights de libertações, questionamentos", afirma Ana Cañas. Luedji Luna é a primeira convidada de Ana Cañas no programa Sobrepostas, que estreia segunda-feira (25) (Foto: Divulgação) 

TELEVISÃO

O Nome disso é machismo

Série no Fantástico  Sabe aquelas situações que mulheres conhecem bem, como ser interrompida no meio de uma frase ou ouvir alguém dizer que já passou da idade? A nova série do Fantástico, Isso Tem Nome, comandada pela jornalista Ana Carolina Raimundi, vai falar de pequenas violências que atravessam o universo feminino. Em três episódios, ela ouve especialistas e mulheres como a apresentadora Fátima Bernardes, a escritora Conceição Evaristo e a atriz Samara Felippo para revelar que encontrar a palavra certa para situações incômodas pode ser um atalho para curar feridas, melhorar a autoestima e até denunciar um crime. “Nunca tinha parado para pensar por que nas histórias infantis o homem velho é o velho sábio, enquanto a mulher velha é a bruxa”, diz Ana Carolina. 

LITERATURA

E-book gratuito nos 35 anos da Companhia das Letras  

A editora Companhia das Letras comemora seus 35 anos - completados este mês -  com uma programação dedicada aos livros e a temas relevantes no  debate social. Com o tema O Escrever se Completa Quando Alguém Lê, trecho do poema Escrever é o que Faço, de Carlos de Assumpção, a editora reune alguns de seus autores para falar sobre   história, ciência e diversidade.  

A partir deste sábado,  o público já terá acesso ao Espaço Companhia, um ambiente virtual com as experiências ligadas às comemorações, com   galerias de fotos históricas e  um quiz com prêmios. Lá também estará disponível o e-book gratuito Medida do Silêncio: Uma Antologia Comemorativa, que reúne 16 poemas inéditos sobre leitura e escrita de Alice Ruiz S, Ana Martins Marques, Alice Sant’Anna, André Dahmer, Armando Freitas Filho, Arnaldo Antunes, Carlos de Assumpção, Eucanaã Ferraz, Fabricio Corsaletti, Gregorio Duvivier, Jarid Arraes, Marilia Garcia, Natasha Felix, Nina Rizzi, Paulo Henriques Britto e Stephanie Borges. A partir do dia 27, o e-book estará disponível para download nos sites das principais livrarias do país. 

 Através do espaço, os leitores também poderão acessar as mesas, umas ao vivo, outras previamente gravadas, que estarão disponíveis no canal do YouTube da editora. www.youtube.com/user/companhiadasletras

 Programação  

Dia 23/10 (16h) - Ailton Krenak e Davi Kopenawa – O encontro .Participações especiais: Eliane Brum, Jurema Werneck e Milton Hatoum  

Dia 25/10 (18h30) – Live Pandemia, História e Ciência, com Heloisa Starling, Lilia M. Schwarcz e Sidarta Ribeiro 

Dia 26/10 (20h)  - Live: Pensadoras Negras Brasileiras – Beatriz Nascimento, Carolina Maria de Jesus, Lélia Gonzalez e Neusa Santos Souza . Com Conceição Evaristo e Zezé Motta e participação especial de Mel Duarte  

Dia 27/10 (20h) – Palestra: O Editor e o Acaso, com Luiz Schwarcz  

Dia 10/11 (20h) – Fronteiras do Pensamento – Sapiens 10 anos , com Yuval Noah Harari