'Meu Amigo Bussunda', no Globoplay, revela estilo de vida do humorista

Série que estreia no streaming é dirigida por Cláudio Manoel e destaca a irreverência de Bussunda

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  • Roberto Midlej

Publicado em 16 de junho de 2021 às 09:12

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: Pepe Schettino e divulgação

Imagine que todo mês você dá ao seu filho, para ele pagar a mensalidade do curso de inglês, uma parte daquele salário suado que você recebe. Aí, você descobre que, em vez de ir à aula, ele desvia o caminho e vai dormir num banco à beira da praia no meio da manhã. E mais: além de desviar o caminho, ele desvia o dinheiro para tomar cerveja e jogar sinuca num bar cheio de malandro. E o mais incrível: não raramente, ele derrota os malandros.

Assim era a vida de Bussunda (1962-2006), que até o último dia dos seus abreviados 43 anos de vida, levou a irreverência ao seu lado: "Eu tenho um nome a lazer e não a zelar", como brincava ele mesmo. Agora, a vida desse casseta - como eram chamados os integrantes do Casseta e Planeta, grupo de humor de que ele fazia parte - será contada na série documental Meu Amigo Bussunda, que estreia amanhã no Globoplay, com quatro episódios.

A direção geral é do baiano Claudio Manoel, amigo e colega do humorista, muito conhecido por ter interpretado Seu Creysson. Claudio divide a direção e o roteiro dos três primeiros capítulos com Micael Langer, com quem dirigiu Simonal — Ninguém Sabe o Duro que Dei. Júlia Besserman, filha de Bussunda, que tinha 12 anos quando o pai morreu, dirige o último episódio.

Tom afetivo

Em tom afetivo, a série reúne depoimentos de amigos de Bussunda e de seus familiares, especialmente dos irmãos Marcos - que é médico - e Sergio, economista que fez carreira no BNDES e presidiu o IBGE. A série não perde tempo e brinca com a diferença entre a graduação acadêmica de Bussunda e a dos irmãos: enquanto os outros dois eram estudantes exemplares, o humorista passou oito anos na faculdade de comunicação.

E não se formou, como lembra o próprio casseta em uma entrevista. "Aqui é a faculdade onde eu estudei", diz ele em frente ao prédio da instituição. "Quer dizer, 'estudei' é um pouco forte", corrige-se, como sempre, tirando sarro de si mesmo. Os diretores Micael Langer, Júlia Besserman (filha de Bussunda) e Cláudio Manoel Além de depoimentos de pessoas desconhecidas, há famosos que aparecem, como Vera Fischer, Zico, Déborah Bloch e Deborah Colker. Todos mantendo esse mesmo tom afetivo e lembrando de como Bussunda era uma pessoa afável e divertida. "É uma série documental na primeira pessoa, mas em várias primeiras pessoas que falam desse amigo. A imparcialidade da série é baseada na relação inteligente e honesta que sempre tive com ele. Não é um documentário investigativo, mas uma jornada afetiva", afirma Cláudio Manoel.

Deborah Colker também destaca a afetividade dele, sem esquecer de um característica marcante daquele jovem Bussunda: ele não era muito chegado a um banho. E há quem lembre também que só de vez em quando ele lembrava de escovar os dentes. "Você vê, né? Uma pessoa que não toma banho e que tem um apelido desse é um cara que as pessoas se apaixonam!", diz Deborah, que o conheceu entre os 13 e 14 anos. "Viramos comunistas radicais juntos, a serviço do Partido!", ri Deborah.

Lúcia Wajskop, outra amiga, reconhece que tinha uma quedinha por ele: "Eu quase me apaixonei pelo Bussunda várias vezes. Mas eu chegava perto de me apaixonar e não aguentava a sujeira dos dentes dele. Eu falava 'não vai dar pra beijar'", diverte-se ao lembrar.

Homenagem

Cláudio diz que, embora a série tenha sido feita realmente com de homenagear o amigo, não se trata de um registro "baba ovo nem piegas". "Sempre falava de tudo com ele e não existia nada a esconder. Por isso, a coisa foi fluida. Era uma conversa para trazer ele pra perto. Homenagear no sentido de ser inteligente, divertido e sincero. Não escondemos nada até porque não havia nada a esconder", revela o diretor.

Bussunda, que se chamava Cláudio Besserman Vianna, era filho do médico Luis Vianna e da psicanalista Helena Besserman, ambos membro do Partido Comunista Brasileiro e muito chegados à leitura. Bussunda herdou esse hábito dos pais, mas a sólida formação intelectual não o impediu de fazer piadas que podiam ser consideradas vulgares por alguns.

Mas Cláudio Manoel considera que esse conceito de vulgaridade está na cabeça de alguns elitistas: "Ele tinha uma sagacidade, uma inteligência, uma capacidade de percepção e traduzia isso em frases e ideias engraçadas. Usava essa capacidade de pensamento para estabelecer comunicação e fazer rir direto. Essas piadas chamadas de 'vulgares' são resultado de um olhar metido a besta e elitista", justifica. Quinta-feira (17), no Globoplay