Meu Domingo: Trilha sonora para entender o Brasil

Criador do perfil O Que Cresci Ouvindo indica cinco álbuns marcantes da música brasileira

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  • Da Redação

Publicado em 12 de julho de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Morando atualmente em Portugal, onde faz doutorado na Universidade do Porto, o historiador e pesquisador pernambucando Ivan Lima aproveitou a quarentena para tirar do papel um projeto que combina dois grandes interesses: música e história. Ele criou o perfil no Instagram O Que Cresci Ouvindo, no qual comenta grandes discos da música brasileira, contextualizando as produções com o momento histórico em que se inseriram. Alucinação (Belchior, 1976), Saudade do Brasil (Elis Regina, 1980) e Lado B Lado A (O Rappa, 1999) estão entre os álbuns já abordados. 

“ A ideia do projeto é conversar exatamente sobre essa relação entre a música e a história do Brasil por meio de comentários, curiosidades e reflexões sobre discos, artistas e movimentos musicais”, explica Ivan. Nas quartas-feiras, ele comanda lives com convidados como os músicos Otto, Almério e Fernando Catatau em papos sobre referências musicais. Ivan Lima é historiador e pesquisador (Foto: Divulgação) Algumas edições contaram com participações dos próprios artistas, como Odair José, que falou sobre seus disco Odair José (1973) e Chico César, sobre o Aos Vivos (Chico César, 1995). O escritor português Valter Hugo Mãe, grande fã do grupo  Legião Urbana, também participou falando sobre a banda. Nas próximas semanas Ivan recebe os cantores Dani Black (dia 15/07), Tiago Nacarato (22/07) e Zé Renato (29/07). 

“Às vezes, a música brasileira nos remete à máxima socrática: quanto mais ouvimos menos parecemos conhecer. Afinal em cada audição são mil novas descobertas, influências, pontos, caminhos, pessoas, sons e imagens. Na quarentena precisamos muito desse refúgio múltiplo, não à toa a música tem sido uma das salvações. Quem de nós não mergulhou ainda mais nesse belo infinito espiral sonoro?”, questiona Ivan, convidado da coluna Meu Domingo deste fim de semana. Ele indica 5 discos “para  ouvir (re-ouvir e pra-sempre-ouvir) na quarentena”.

  1. Chico César - Aos Vivos (1995)

Essencial ao Brasil pelo som, pela imagem, pelo texto e pela coragem. Aos Vivos completa 25 anos em 2020. Um álbum que traz elementos da mãe África, dos aboios do Nordeste, da Paraíba: sim, senhor. É poesia à primeira vista. É prosa em manifesto, resistência e existência. Um disco mais atual do que nunca, que nos inspira e faz respirar.

2. Secos e Molhados - (1973)

Com um DNA no disco que misturam ditaduras de Portugal e Brasil (João Ricardo, criador da banda nasceu em Portugal e é filho do poeta João Apolinário, que teve poemas musicados nesse disco), esse disco é sempre essencial. Capa, apresentações e letras mais do que revolucionárias. Coragem e reflexão são coisas constantes remetidas por esse disco. Ney Matogrosso, Conrad e João Ricardo criaram uma obra que abraça o tempo.

3. Estilhaços - Cátia de França (1980)

Uma obra pra sempre ser redescoberta. Segundo Lp de Cátia de França e com uma sonoridade incrível, o disco traz a emblemática Ponta dos Seixas e aquela que considero a música mais tocante da sua carreira: Estilhaços.

4. Ivan Lins - Nos dias de hoje (1978)

Atual e necessário como foi no período do lançamento, esse disco tem todas as letras de Vitor Martins e músicas de Ivan Lins. Fazem parte do disco canções como Bandeira do Divino, Temporal e Guarde nos Olhos. Os clássicos são permeados de elementos políticos. Cartomante, que faz alusão às cartas entregues a esposa do presidente Norte-Americano por uma ativista durante a ditadura, e Aos Nossos Filhos selam a obra como um clássico e nos trazem a esperança em um mundo melhor e mais justo.

5. O Terno - Atrás / Além (2019)

Aos que dizem que não se faz música de qualidade atualmente, um aviso: alto lá! Imperdível ouvir o disco Atrás / Além (2019). Um disco que nos faz refletir nesse momento tão complexo da humanidade. Estrutura sonora belíssima com letras permeadas de antíteses (desde o título) e muitas das questões existenciais se apresentam no mundo atual.