Meu nome é Willer, Claudio Willer

por Rogério Menezes

Publicado em 14 de janeiro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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[Claudio (Jorge) Willer (2-12-1940), poeta, tradutor,  ensaísta e crítico literário é um dos + labirínticos  intelectuais brasileiros. Em país inculto e belo, não precisa se punir com 100 chibatadas se nunca ouviu falar deste homem lhano e elegante: prefira fazer acurada pesquisa no Google – e então a alma do caro leitor será salva].

Descobri Claudio Willer em 1983, ao ler, fascinado, em primorosa tradução brasileira, Escritos de Antonin Artaud, na histórica coleção Rebeldes e Malditos, da L&PM Editores. Três anos depois, em 1986, quando troquei Salvador por São Paulo, tive o privilégio de conhecê-lo. Entrevistei-o, ou utilizei-o como fonte preciosa de informação em entrevistas para jornais e revistas. Em 1997, migrei de São Paulo para Brasília, e, depois, Salvador, Recife, Campinas e Rio de Janeiro. Reencontrei Claudio Willer na internet por volta de 2010. Continuava o gentil-homem de sempre. Em 2015-2016, quando escrevi Diários do Fim do Mundo, em 435 postagens diárias no Facebook, lhe pedi favor especial: que o marcasse, e que ele comentasse, quando quisesse e pudesse, os meus textos. Cumpriu essa tarefa inglória sem enfado. Nós, náufragos zonzos em eterna faina diária para sairmos da zona morta, temos dificuldade em identificar os tão náufragos quanto nós. Em 2014, em meio à série de mensagens in box,  Claudio Willer sinalizava: - Somos dois q tentam sair do limbo. Desde então, emitiu constantes sinais de instabilidade financeira e eu então percebi: havia no outro lado do espelho náufrago que também tentava singrar as águas ingratas do rubicão.

Em 6 de janeiro de 2018, meu aniversário, fui surpreendido por mensagem de Claudio Willer: - Viva! Prossigamos resistindo! Respondi: - Bravo,  querido mestre. A nossa resistência continuará!

Dois dias depois, 8 de janeiro, leio postagem de Claudio Willer no Facebook: “Meu amigo Oswaldo P. publicou veemente apelo em meu favor, que reproduzo. Houve resposta solidária. Agradeço. Peço que prossigam. Amigos e organizações observaram que sou bibliografia, autor lido e estudado, e que deveria estar dando aulas. Sim. Além da ajuda imediata, preciso de TRABALHO (sic), condições para produzir’’.

A mensagem de Oswaldo: ‘Por favor, por caridade, por respeito, por consideração, por reconhecimento, pelo amor de Deus, ajudem o Claudio e a Maninha que estão passando as maiores dificuldades. Peçam a conta dele no banco e depositem o que for. Peçam o endereço dele e mandem mantimentos, o que for possível, MAS NÃO O ABANDONEM AGORA! ELE PRECISA MUITO, MUITO MESMO. (sic) Se cada um mandar dez reais, cem reais, ou cesta com mantimentos, passaremos este momento terrível e nos orgulharemos de ter estendido a  mão a um dos maiores poetas vivos, um homem generoso, capaz, genial, a quem tanto devemos, nós, que sabemos o valor da cultura’.

A propósito: o amanhã é lugar que não existe.

[Esta Coluna Vertebral é dedicada à memória da jornalista Beth Caló, garota pra lá de superbacana].