Milton Nascimento traz turnê Clube da Esquina para a Concha Acústica

No repertório do show que acontece domingo (24), o cantor lembra os dois icônicos discos do grupo

  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2019 às 06:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: João Couto/ Divulgação

No ano passado, Milton Nascimento estava rodando o país com o show Semente da Terra, em que fazia uma crítica política e social contundente a partir de uma seleção das três turnês anteriores, realizadas em 2012, 2014 e 2015. 

Em 2019, o cantor mineiro decidiu fazer um salto histórico ainda maior, e lembrar os dois discos do Clube da Esquina, o mais importante movimento musical da história recente de Minas Gerais, do qual ele é um dos nomes de maior destaque. 

Valorizando as raízes mineiras impressas de maneira singular nos antológicos álbuns de 1972 e 1978, o grupo mineiro, sem pretender tal objetivo, conseguiu colocá-los como dois dos mais relevantes lançamentos da MPB de todos os tempos. Mesclando de forma recorrente temas como viagem, estrada, mudança, amizade e sentimentos como o de tristeza e paz, há uma clara carga histórica em suas composições, que ressoam até hoje.

A bem da verdade, Milton não estava pensando muito na homenagem - talvez até por essa relação intrínseca. Foi o filho, Augusto, que chegou com a ideia pronta. “E a gente topou na hora”, confessa o artista.”E como foi uma coisa que eu nunca tinha feito antes, decidimos que agora era a hora certa”, complementa. 

Se o Clube da Esquina foi “um acontecimento que só poderia ter aparecido com a nossa turma mesmo lá de Minas”, o retorno a essas memórias em pleno palco são motivo de uma grande emoção. 

No semestre que vem, Milton se despede em grande estilo da turnê, ao lado de amigos de longas datas, como Lô Borges, peça fundamental na história do Clube da Esquina. Salvador recebe o show neste domingo, em uma das últimas apresentações do ano. Milton encerra turnê em homenagem ao Clube da Esquina em 2020; Salvador recebe show neste domingo (Foto: João Couto/ Divulgação) 1- Você traz a Salvador a turnê em homenagem ao Clube da Esquina, hoje um clássico da discografia nacional, que tem aquele poder de reunir diferentes gerações. Tendo caminhado com a turnê já há algum tempo, como é para você ver o álbum (re)viver nesse show? Quais surpresas tem tido no caminho? Essa turnê realmente mexeu muito com a gente. Tanto aqui no Brasil, quanto nos shows que fizemos lá fora, as pessoas tiveram um carinho tão grande com nosso trabalho que eu jamais imaginei. E, sem dúvida nenhuma, vai deixar muita saudade.

2- Por ser um show que puxa pela memória, há espaço para você relembrar algumas histórias no palco? Como é esse momento de conversa com a plateia? Cada show tem uma energia diferente, né? E eu sinto uma emoção muito grande sempre que estou no palco. É o momento mais importante na vida do artista, esse encontro com o público. E eu só agradeço a chance de viver momentos como esse. Capa do Clube da Esquina, álbum referência da música popular brasileira (Foto: Reprodução) 3- O repertório se restringe às músicas do Clube da Esquina? Quais canções você acrescentou? Esse show é todo dedicado aos dois discos do Clube. E como foi uma coisa que eu nunca tinha feito antes, decidimos que agora era a hora certa. E, pra dizer a verdade, também não estava pensando muito nisso. Até que o meu filho, Augusto, chegou com essa ideia toda pronta e a gente topou na hora. Além dele, que é o diretor artístico deste show, nós conversamos muito com o Wilson Lopes (diretor musical) antes de cairmos definitivamente na estrada.

4- Vi que nos shows de encerramento em SP, RJ e BH você convidará diversos artistas, que também são amigos seus, de longas e recentes datas. Como se deu o convite a cada um deles? E quem você não abriu mão de que estivesse contigo nesse momento? Pra falar a verdade foi uma coisa bem tranquila, pois todos os convidados são muito próximos da gente. E esse é um momento em que nós queríamos juntar esses amigos no palco. Obviamente que não poderia faltar o Lô, que foi quem começou a história inteira comigo. 5- Essa semana você celebrou seus 77 anos. Em uma entrevista recente à Folha de S. Paulo, você disse que não tinha mais vontade de compor, mas que não pararia de cantar nunca. Dedicar um show a um disco que marcou sua carreira, tantos anos depois, tem a ver com esse desejo? Na verdade são coisas diferentes. Quando eu disse isso não quer dizer que eu esteja triste com a vida em si, mas com a situação mesmo em geral. Tá tudo muito esquisito, né? E a música pode mudar isso. Por isso estamos na estrada. Milton Nascimento ao lado dos integrantes do Clube da Esquina (Foto: Cafi/ Divulgação) 6- Falando nisso, o que o Clube da Esquina representa para você? Quais lembranças e sentimentos o disco lhe traz? O Clube da Esquina foi um acontecimento que só poderia ter aparecido com a nossa turma mesmo lá de Minas. Cada passo foi fundamental, desde o meu começo junto com Wagner Tiso (ainda lá em Três Pontas) até minha chegada em BH (quando conheci os Borges), no começo dos anos sessenta. Mas, tem uma coisa, tudo isso não teria nos levado a lugar algum se não fosse a amizade. Sem isso, não teria Clube, não teria nada.

7-  Você é coautor de Coração de Estudante, que virou hino das Diretas Já em 1985, e é ao mesmo tempo uma música atemporal, assim como tantas outras. Esse poder transcendental da música lhe fascina? Olha, realmente a música tem esse poder. E nosso pensamento desde o começo foi sempre o mesmo: nossa música e nossa amizade deveriam ocupar o mesmo espaço. E a música sempre foi um processo natural em meio a isso tudo, e é assim até hoje. Milton Nascimento e Fernando Brant em 1969 (Foto: Reprodução) 8- Há um mês você foi homenageado pela União Brasileira de Compositores (UBC), numa cerimônia em que muitos artistas interpretaram suas canções. Gosta de ser reconhecido desse modo? Como eu disse, tudo que eu tenho eu devo aos meus amigos. E esse reconhecimento da UBC foi isso, um presente dos meus amigos. E não tem como falar de UBC sem citar Fernando Brant. Tem um momento desse show em que eu faço uma homenagem ao Fernando, e eu sempre digo que é muito difícil falar dele. Além de ter sido um grande amigo, o Fernando foi um cara que contribuiu muito pra cultura no Brasil em geral, e não só por causa das letras e dos livros que lançou, mas também pela atuação dele pelos direitos dos compositores. Fernando é um dos pilares principais do que hoje é a UBC (União Brasileira dos Compositores), entidade que já teve em seus quadros nomes como Ari Barroso, Dorival Caymmi, Mario Lago, enfim, Fernando Brant deixou um legado imenso na vida de todos nós.

Serviço: Concha Acústica (Campo Grande). Domingo, às 19h. Ingressos:  R$ 120 | R$60 (pista); R$ 240 | R$ 120 (camarote). Vendas bilheteria do TCA,  SACs shoppings Barra e Bela Vista e ingressorapido.com.