Minha carreira teve base na herança africana calcificada em Salvador

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Publicado em 21 de novembro de 2018 às 05:05

- Atualizado há um ano

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Toda vez que paro para pensar sobre minha história, eu passo por um ponto dela que, tenho certeza, é um dos mais gostosos da minha vida. O fato de ser baiano de Salvador, no Curuzu, e ter sido criado no subúrbio, Fazenda Coutos. Além das fotos, que me são recorrentes no colorir das memórias mais antigas, tenho também as histórias contadas por minha mãe, Dona Valquiria, refrescando o que o meu imaginário já não lembra tanto.

Nascer em Salvador é uma benção para quem tem a missão de ser negro no Brasil. E digo isso porque a minha carreira artística, que começa no final dos anos 80 com teatro amador e profissionaliza no Bando, em 1999, teve como base a herança africana instalada e calcificada na cultura ímpar da capital baiana.

A gente sabe que tem gente de fora da Bahia que gosta de vir passar pelo menos uma semana em Salvador para se sentir um pouco soteropolitano, pegar um axé, cair na água quente das nossas praias, se vestir como baiano, ir na macumba, namorar de verdade, tomar cravinho e comer comida de azeite com pimenta.

Sabe o que é isso? É vontade de fazer parte da história de Salvador tendo o que contar para os amigos, para a família e para os colegas do trabalho.

Quem nasce negra e negro em Salvador sabe um pouco mais dessas coisas porque está o tempo inteiro a serviço desta construção cultural que a cidade vende aleatoriamente para o Brasil e para o mundo. Digo aleatoriamente porque não existe uma organização política, econômica e social suficiente que assimile a cultura baiana como ponto de referência da cultura afro-brasileira para o mundo. Mas isso também pode ser uma característica dessa Bahia tão Afro-eclética.

Afro-eclético porque a quantidade de africanos de países diferentes do continente africano que chegaram na baía de todos os santos é maior que a quantidade de Europeus chegados nesta cidade durante quatro séculos. E esses poucos europeus foram tragados pela cultura africana preservada na capital baiana e nas demais cidades. Haja vista que muitos brancos baianos se consideram quase pretos por terem se apropriado e aprofundado na cultura africana mantida viva na Salvador Negra e nas cidades parentes como Lauro de Freitas, Cachoeira, São Felix, Maragogipe, dentre outras.

A música baiana está anos a frente da música mundial, a moda se renova e inspira a moda mundial todo ano, a culinária resiste ao tempo e as inovações dos Fast Food da vida e por isso as pessoas são o maior patrimônio desta cidade, tão ímpar e que respira no presente o passado rico em ingredientes e elabora um futuro bastante diferenciado.

Por isso digo que baiano se dá bem em qualquer lugar porque todos os lugares tem um pouco de Bahia, tem um pouco de cultura afro-brasileira que sobrevive e respira a arte preservada nesta terra construída e mantida pelo povo majoritariamente negro. A Bahia é fonte de axé para o Brasil e por isso eu sempre digo: ¨nasci na Bahia mas sou do mundo...¨.

Érico Brás é ator, ativista e Conselheiro do Fundo de População da ONU