'Minha luta se faz com competência', diz Maria Júlia Coutinho

Em 2013, ela assumiu o posto de garota do tempo, chamando atenção do público

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 5 de agosto de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva

A atual campanha do Criança Esperança teve início no último sábado e as doações já podem ser realizadas. Como em edições passadas, o projeto tem seus mobilizadores: personalidades famosas que  se envolvem na divulgação do programa  e viajam pelo país para conhecer as instituições que recebem parte do dinheiro arrecadado.

Uma das mobilizadoras é Maria Júlia Coutinho, a “moça do tempo” do Jornal Nacional. Maju, como é chamada pelo âncora William Vonner Bonner, esteve em Salvador para visitar o Centro Comunitário Santa Helena, no Bairro da Paz, uma das instituições que ela amadrinhou. A apresentadora conversou com o CORREIO e falou sobre sua participação na campanha, carreira, representatividade e futuro.

Quais as impressões obtidas na visita aos projetos nos quais você atua como madrinha? Estou emocionada com o que vi. Nas duas edições anteriores do Criança Esperança, participei de modo mais superficial. Em 2017, integrei o show e atendi as ligações e foi muito interessante perceber como as pessoas ficavam emocionadas em doar e em se relacionarem conosco. Em 2016, fiz algumas chamadas e também participei de modo mais leve, mas este ano tenho a possibilidade de ver de perto e a alegria é muito grande, sobretudo quando percebo que essas instituições têm um papel tão decisivo na construção de uma negritude afirmada, cheia de respeito por sua ancestralidade. Vejo aqui meninas muito mais confiantes e decididas, conhecedoras das suas possibilidades e potencialidades. A primeira vez que vim a Salvador foi na adolescência, com meus pais, e vi uma realidade mais turística. Como jornalista, como brasileira, estou gostando de ver essa cidade com outros contornos e realidades.

 Em 2015, você foi vítima de ataques racistas nas redes sociais. Vocês conseguiram identificar os responsáveis? Como esse caso está hoje? Como você avalia a questão do racismo no País? Minha postura sobre o racismo no Brasil é a mesma desde a infância. Venho de uma família que sempre militou de modo muito contundente contra o racismo. Vivemos num País que ainda tem uma longa caminhada na desconstrução dos preconceitos raciais. Particularmente, acho que minha luta se faz através do meu exercício profissional com competência. Esta é minha melhor resposta: não deixar que ninguém impeça minha caminhada. Minha bandeira é o trabalho com competência. É mostrar do que sou capaz. No caso específico daqueles ataques, ainda está na Justiça...Sigo em frente, sem me deixar abater por isso, mas busco justiça sim!

Recentemente, foi lançada a campanha Deixa Ela Trabalhar, para acabar com o assédio contra as mulheres que atuam no jornalismo esportivo. Como você avalia a questão da cultura do machismo? Particularmente, já viveu algo do tipo trabalhando?

Não me lembro (felizmente) de ter vivido situação de assédio no trabalho, mas achei a resposta da colega que foi assediada na Rússia sensacional. Ela teve uma postura de firmeza contra aquele rapaz que tentou beijá-la. Acho que precisamos da proteção do coletivo de mulheres unidas contra o assédio, o machismo, a cultura do estupro, mas individualmente também precisamos ter as ferramentas para barrar essas agressões. Acho que vivi para ver esse dia em que o machismo seja combatido de forma tão assertiva. Sei que a história é cíclica, mas acredito que estamos estabelecendo um outro patamar de consciência, onde homens e mulheres estão refletindo sobre essas questões. Vejo uma juventude adotando posturas muito mais sábias e respeitosas.

Como surgiu esse interesse pela meteorologia?

Completamente por acaso (risos). Já estava na Globo havia cinco anos, voltava de férias e minha chefe pediu que eu fizesse um teste para substituir uma colega que entraria de licença. Engraçado que, até então, eu sequer consultava o tempo. Atuava como repórter de rua na Globo São Paulo. Comecei fazendo participações nos jornais da manhã e depois fui assumindo a bancada do Jornal Hoje nos finais de semana. Tenho encarado esses desafios com muita satisfação, mas muita leveza também porque descobri que adoro comunicar...não importa o quê. Esses dias, Míriam Leitão havia me falado da neta que gostava de mim e me imitava, montando uma bancada na mesa de casa e ’brincando de ser Maju’. Disse a ela que fazia isso na infância, brincava de apresentar jornais e olhe onde estou(risos). 

Na sua opinião, por que você foi tão bem aceita pelo público?

É muito difícil falar sobre nós mesmos, mas os feedbacks que recebo do público e na redes sociais pontuam que gostam de como falo da previsão do tempo, de forma clara e próxima das pessoas. Esses dias, uma telespectadora disse que era como se eu estivesse na casa dela... Sou eu que preparo meus textos e os leio de modo a tornar a informação sobre o tempo algo próximo, compreensível...então acho que esse é o caminho.

Que outras áreas do jornalismo despertam interesse?

Eu gostaria de viver a experiência de ser correspondente internacional. Acho, na verdade, que todo estudante de jornalismo pensa bastante nisso. Além disso, acho que a editoria de Economia bastante desafiadora. Gostaria de ter a oportunidade de tratar os temas relacionados à economia da forma como trato o tempo: com essa simplicidade. Sou fiel ao que meu coração aponta e acredito que isso facilita essa comunicação.

Quais os planos para o futuro profissional e pessoal?

No quesito profissional, vou aceitando os desafios propostos de modo muito leve e confiante, sem criar expectativas ou cobranças excessivas. Do ponto de vista pessoal, não sei se quero ter filhos...não sei mesmo! Tenho meditado muito e aprendido como a Yoga é algo fundamental. Na verdade, acho que a meditação deveria fazer parte dos aprendizados básicos de vida. Então, acredito que quero continuar meditando, vivendo ao lado dos meus poucos, mas bons amigos (risos). Uma vez, fui entrevistar Oscar Niemeyer e estava toda empolgada falando sobre arquitetura. Em um determinado momento, ele me disse: ’não importa a arquitetura; importante são os amigos’. Essa frase me marcou profundamente e repito a frase dele: importante são as amizades. Gostaria também de reduzir o número de afazeres. Num futuro, durante a aposentadoria, penso que gostaria de trabalhar com projetos sociais, talvez algo relacionado à meditação e a um estilo de vida onde a calma e a harmonia possam ser valorizadas.

Durante a visita às instituições baianas, Maria Júlia Coutinho teve a oportunidade de conhecer um outro ângulo da capital baiana (Foto: Marina Silva)

Criança Esperança amplia a rede de mobilizadores

Em sua 33ª edição, o Criança Esperança amplia sua rede de mobilizadores para 30 nomes que dão ainda mais força ao tema Sua Esperança não está sozinha. Ao lado de Carlinhos Brown, Maíra Azevedo (Tia Má), Dira Paes, Flávio Canto, Lázaro Ramos e Leandra Leal, os 24 novos mobilizadores aumentam o potencial da campanha em engajar a sociedade. Na programação, eles emprestam suas vozes e compartilham suas esperanças em filmes criados pela Comunicação da Globo, que já estão sendo veiculados. Em quatro fases, a campanha fica no ar por dois meses, convidando os brasileiros a fazerem parte da rede de mobilização em torno da garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens. Até agora, mais de R$ 350 milhões em doações foram investidos no Brasil em mais de 5 mil projetos sociais, beneficiando mais de 4 milhões de crianças e adolescentes em todo país. Vale salientar que é possível fazer doações durante o ano inteiro, pelo site do Criança Esperança (www.criancaesperanca.com.br). Os recursos arrecadados são depositados diretamente na conta da Unesco, que é responsável pela seleção de projetos, por meio de edital público, realizada anualmente. Após a seleção, a Unesco monitora e faz o acompanhamento técnico e financeiro. Carlinhos Brown será um dos mobilizadores participantes da campanha Criança Esperança, que já abriu espaço para as doações de todo o país (Foto: Divulgação)